Os humanos não são os únicos animais que curtem uma birita de vez em quando. Pela primeira vez, chimpanzés selvagens foram fotografados comendo e compartilhando frutas fermentadas que contêm álcool.
A descoberta, descrita em um estudo publicado na última segunda (21) na revista Current Biology, foi feita a partir das imagens obtidas por câmeras escondidas no Parque Nacional Cantanhez, na Guiné-Bissau. As câmeras flagraram um grupo de chimpanzés compartilhando uma fruta fermentada chamada Treculia africana, que também é conhecida como fruta-pão-africana.
Essa é uma fruta grande, que pode pesar até 30 quilos. Depois que ela cai no chão, já madura, seu exterior amolece e os animais passam dias se alimentando dela.
Os pesquisadores confirmaram que a fruta continha álcool, mesmo que em doses bem baixas. Quanto mais tempo ela passa no chão, mais intensa é a fermentação e maior o teor alcoólico. O maior teor registrado foi de 0,61% – cerca de 8 vezes menos que uma cerveja média, cujo teor costuma girar em torno de 5%.
Mesmo que pareça pouco, é preciso considerar o volume consumido. Entre 60 a 85% da dieta dos chimpanzés é composta de frutas. E é claro, em grandes quantidades, essa porcentagem de álcool já pode produzir consequências relevantes.
“Para os seres humanos, sabemos que o consumo de álcool leva à liberação de dopamina e endorfinas, o que resulta em sentimentos de felicidade e relaxamento”, disse Anna Bowland, principal autora do estudo, em comunicado. “Também sabemos que o compartilhamento de álcool – inclusive por meio de tradições como festas – ajuda a formar e fortalecer os laços sociais.
Inclusive, o benefício social pode ter sido o motivador que fez com que várias culturas ao redor do mundo desenvolvessem o consumo de bebidas alcoólicas de forma independente.
“Portanto, agora que sabemos que os chimpanzés selvagens estão comendo e compartilhando frutas etanólicas, a pergunta é: será que eles estão obtendo benefícios semelhantes?”, pergunta Bowland.
Os pesquisadores enfatizam que é improvável que os chimpanzés fiquem “bêbados”, pois isso não aumentaria suas chances de sobrevivência. Mas, entre os primatas do Parque Nacional Cantanhez, o consumo não foi um fato isolado. As câmeras captaram o consumo de frutas fermentadas em dez ocasiões diferentes. O compartilhamento do alimento entre colegas já chama atenção dos pesquisadores.
“Os chimpanzés não compartilham alimentos o tempo todo, portanto, esse comportamento com frutas fermentadas pode ser importante”, disse Kimberley Hockings, que também participou do estudo.
O impacto do álcool no metabolismo dos chimpanzés é desconhecido. Mas, em 2014, cientistas descobriram uma adaptação molecular que aumentou consideravelmente o metabolismo do etanol no ancestral comum dos macacos africanos.
“Essa mudança ocorreu aproximadamente quando nossos ancestrais adotaram um estilo de vida terrestre e pode ter sido vantajosa para os primatas que viviam em locais onde a probabilidade de frutas altamente fermentadas era maior”, escreveram os autores do estudo de 2014.
Fonte: abril