O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, declarou que o Brasil pretende reforçar sua participação no Brics, mesmo diante das recentes ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo ele, as declarações do norte-americano apenas fortalecem a intenção do país em manter relações diplomáticas diversificadas.
Trump criticou o Brasil em duas ocasiões ao longo do mês. Durante a cúpula do Brics realizada no Rio de Janeiro, o presidente norte-americano ameaçou aplicar uma tarifa de 10% a qualquer país que se alinhasse ao bloco que chamou de “antinorteamericano”.
Em seguida, anunciou tarifas de 50% especificamente contra o Brasil e exigiu o fim do julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado.
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Em entrevista ao jornal britânico Financial Times neste domingo, 27, Amorim afirmou que “esses ataques estão reforçando nossas relações com o Brics, porque queremos ter relações diversificadas e não depender de um único país”. O assessor destacou que, além dos principais países que compõem o bloco — China, Rússia e Índia —, o Brasil também buscará ampliar vínculos com nações da Europa, América do Sul e Ásia.
A medida tarifária de 50% proposta por Trump está entre as mais altas ventiladas em sua atual rodada de negociações. Ainda assim, o Brasil mantém déficit comercial com os EUA, o que difere de outras nações que foram alvo de políticas semelhantes.
Trump também criticou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o acusou de impor um “regime ridículo de censura” e de práticas comerciais “muito injustas”. Em resposta, Lula afirmou que Trump “foi eleito para ser presidente dos EUA, não imperador do mundo”.
Amorim foi ainda mais incisivo ao comentar a postura do líder norte-americano. Segundo ele, a interferência de Trump nos assuntos internos brasileiros “não ocorreu nem nos tempos coloniais” e que “nem mesmo a União Soviética teria feito algo assim”. O assessor completou: “Ele está tentando atuar politicamente dentro [do Brasil] em favor de seu amigo.”
A China permanece como o principal parceiro comercial do Brasil, com US$ 94 bilhões em importações de produtos brasileiros no último ano, principalmente agrícolas e minerais. Ainda assim, Amorim declarou: “Não é nossa intenção que a China seja a única beneficiada com as tarifas mais altas dos EUA”.
O assessor rejeitou a ideia de que o Brics seja um bloco ideológico e defendeu sua atuação como instrumento em prol de uma ordem global multilateral, sobretudo frente ao recuo dos EUA nessa agenda.

Ele também renovou o apelo para que a União Europeia ratifique o acordo comercial com o Mercosul. “Se a União Europeia fosse inteligente, ratificaria o tratado não apenas pelo ganho econômico imediato, mas também por mais equilíbrio em suas relações”, disse.
Ele afirmou ainda que o último ano do atual mandato de Lula deverá priorizar uma agenda voltada para a . A região, de acordo com o assessor, possui os índices mais baixos de comércio interno do mundo, e o presidente brasileiro defende a necessidade de uma integração mais efetiva.
Ao relembrar o princípio da diplomacia de que “os países não têm amigos, apenas interesses”, Amorim ponderou que Trump representa uma exceção: “Ele não tem amigos nem interesses, apenas desejos”. Para ele, a conduta do presidente norte-americano é “uma ilustração de poder absoluto”.
Fonte: revistaoeste