Os cangurus são uma curiosidade evolutiva. Eles são endêmicos da Austrália – ou seja, só existem por lá. O isolamento promovido pela ilha e a falta de predadores permitiu que os marsupiais se desenvolvessem em diversas espécies, ocupando nichos ecológicos que pertencem aos mamíferos placentários no resto do mundo. Daí surgiram os cangurus, coalas, quokkas e outros bichos estranhos exclusivos da Oceania.
Entre os marsupiais, existe uma família chamada Macropodidae, que inclui basicamente os cangurus e outros seres pulantes. O único que não desenvolveu esse modo de locomoção é o rato-canguru almiscarado (Hypsiprymnodon moschatus), uma espécie que só existe nas florestas do nordeste da Austrália. A descoberta foi descrita em um artigo publicado no periódico Australian Mammalogy.
Os ratos-cangurus pesam apenas 500 gramas. Eles fazem parte de uma linhagem antiga, que se separou dos outros Macropodidae antes de desenvolverem o pulo. Dessa forma, os ratos-cangurus também podem dar pistas de como essa característica surgiu nos seus parentes grandões.
Por que os cangurus pulam?
O pulo é uma forma de locomoção rara. Segundo os autores do estudo, o salto evoluiu uma vez nos Macropodidae e quatro vezes em roedores.
Pode não parecer, mas o salto é especialmente eficiente para animais que pesam mais de cinco quilos. Boa parte da força fica armazenada no tendão de Aquiles, na forma de energia potencial elástica. Esse músculo é como uma alavanca que propulsiona os cangurus para frente.
A Austrália já abrigou diversas espécies de cangurus no passado (inclusive o gigante extinto Procoptodon goliah, que media dois metros de altura). Mas não sabemos se todos eles pulavam, ou se tinham outras formas de locomoção. É aí que o rato-canguru almiscarado entra.
O rato-canguru é a última espécie viva de Hypsiprymnodontidae, uma linhagem que se separou cedo dos outros cangurus. Por isso, os pesquisadores acreditam que os cangurus primitivos, já extintos, se moviam de forma semelhante a essa espécie pequena.
Usando câmeras posicionadas na floresta, os pesquisadores observaram como os ratos-cangurus posicionam os pés no chão para andar. Diferentemente de outros cangurus, essa espécie se move por meio de um andar saltitante, com as patas traseiras se movendo juntas, e as dianteiras também se apoiando no chão. Veja no vídeo abaixo.
É como se fosse um movimento híbrido entre galopar (como fazem os cães e gatos) e saltas. Os ratos-cangurus são 100% quadrúpedes, nunca se apoiando apenas nas patas traseiras. Nenhum outro marsupial quadrúpede se move dessa forma.
Os pesquisadores acreditam que os cangurus eram inicialmente quadrúpedes, da mesma forma que outros marsupiais, como os gambás. Depois, eles começaram a andar com as patas traseiras e dianteiras sincronizadas, como os ratos-cangurus. E eventualmente se tornaram os cangurus saltitantes que conhecemos.
Fonte: abril
