A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos divulgou, nesta terça-feira, 22, um relatório no qual acusa o governo democrata de Joe Biden de utilizar o FBI para vigiar católicos que professam tradições litúrgicas mais antigas e valores morais conservadores.
A investigação, conduzida pelo Comitê Judiciário da Câmara e publicada pelo republicano Jim Jordan, afirma que a agência teria pressionado um sacerdote a romper o sigilo de confissão e, diante da recusa, passou a monitorá-lo.
Segundo o relatório, o Escritório do FBI em Richmond, Virgínia, investigou um padre da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) quando ele se recusou a responder a perguntas sobre conversas privadas com um fiel.
O sacerdote afirmou que precisava consultar a liderança da Igreja e advogados antes de prosseguir. Em resposta, o FBI teria iniciado uma “avaliação investigativa formal” e apurado a história de ordenação do padre, seus planos de viagem e dados de cartão de crédito.
Segundo os deputados, a conduta do FBI representa uma violação da liberdade religiosa: “Esta nova informação sugere que os abusos do FBI contra liberdades religiosas foram mais disseminados do que inicialmente admitido”, avaliam.
Além do escritório de Richmond, estiveram envolvidos na investigação a sede nacional do FBI, a Divisão de Contraterrorismo e unidades das cidades de Louisville, no Kentucky, e Londres, no Reino Unido.
Agentes entraram em contato com a polícia metropolitana de Londres e compartilharam dados do sacerdote antes de sua viagem ao país. As ações ocorreram em janeiro de 2023, período em que a agência trabalhava em um relatório sobre supostos vínculos entre católicos tradicionalistas e grupos extremistas.
O relatório destaca que o FBI considerou, indevidamente, que o sigilo sacerdotal não se aplicaria porque o fiel ainda não havia sido batizado nem completado o catecismo, condições habituais para ingresso na Igreja Católica.
FBI questionou proteção legal a confissões feitas por católicos
No entanto, a legislação da Virgínia protege “comunicações confidenciais com membros do clero relacionadas a aconselhamento e orientação espiritual”. O comitê afirma que “o privilégio entre sacerdote e penitente não depende de marcos formais da vida espiritual”.
As ações ocorreram depois da elaboração de um memorando interno do FBI, vazado em fevereiro de 2023, que associava a chamada “” a potenciais ameaças extremistas.
O documento listava características como apego à missa em latim, valores familiares conservadores, rejeição à modernidade e “posições inflexíveis sobre aborto e questões LGBTQ”. A classificação usava como base fontes como o Southern Poverty Law Center (SPLC), que identifica grupos considerados de ódio.
O novo relatório da Câmara afirma que o memorando de Richmond não foi um caso isolado, como inicialmente alegado pelo então diretor do FBI, Christopher Wray. “Documentos internos mostram que o FBI usou termos como ‘católico radical tradicionalista’ em ao menos 13 registros entre 2009 e 2023”, todos com citações ao SPLC.

Além disso, o relatório denuncia que a sede nacional participou da elaboração de um documento público com base no memorando, que foi posteriormente abandonado depois de sua repercussão negativa.
A apresentação interna Visão geral do Catolicismo Tradicionalista, utilizada pelo FBI de Richmond, descrevia o catolicismo tradicional como caracterizado por “tendência ao isolacionismo” e “rejeição da modernidade”. Já a forma “radical” incluiria “fundamentalismo rígido, integralismo e tons apocalípticos”, além de possíveis traços de .
O comitê legislativo afirma que “o FBI sob a administração Biden e a liderança de Wray ocultou informações essenciais da supervisão do Congresso”. Esses dados só vieram à tona depois da nomeação de Kash Patel como novo diretor da agência, sob indicação do presidente Donald Trump.
Desde sua posse, Patel entregou mais de 1,3 mil páginas de documentos adicionais ao comitê, segundo o relatório. “O povo norte-americano confia no FBI para aplicar a lei e preservar nossas liberdades”, encerra o texto.
Fonte: revistaoeste