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Ciência & Saúde

Cacatuas surpreendem: ajustam tempero e textura da comida; assista ao vídeo

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Em um grande aviário na Áustria, biólogos que pesquisam os processos de cognição dos animais repararam algo peculiar. Três cacatuas-de-goffin, chamadas Pipin, Muki e Kiwi, gostavam de colocar a ração na água antes de comer. A “receita” do trio deu origem a uma descoberta que foi publicada na última segunda (10) na revista Current Biology.

“Observamos esse comportamento curioso e ficamos interessados em saber por que as cacatuas estavam fazendo isso”, disse em comunicado Jeroen Zewald, que conduziu a pesquisa. “Em geral, as inovações de novos estilos de alimentação são vistas como um comportamento inteligente, por isso estávamos curiosos para saber se isso também se aplicava às nossas cacatuas.”

As cacatuas colocavam cuidadosamente o grão de ração na água e o deixavam de molho por cerca de 20 segundos. Elas então mexiam os grãos algumas vezes antes de começar a comer. 

De início, várias hipóteses surgiram para explicar o procedimento: lavar o alimento, aromatizá-lo ou até para usá-lo como esponja para levar a água para seus filhotes. 

Entretanto, os pesquisadores constataram que : 1 – as cacatuas mergulharam apenas a comida seca; 2 – a água não mudava o sabor da ração; 3 – nenhuma das três tinha filhotes na época. Assim, concluíram que a função mais provável do comportamento era mudar a textura do alimento, da mesma forma que algumas pessoas mergulham biscoitos no café com leite.

Mas a pesquisa não parou por aí. “Para nossa grande surpresa, mais tarde vimos que as cacatuas também arrastavam massa de macarrão no iogurte de soja com mirtilo. Possivelmente para dar sabor à comida, assim como as pessoas jogam ketchup em suas batatas fritas”, acrescentou Zewald. 

Comportamento (quase) inédito

O ato de temperar alimentos só foi descrito uma única vez anteriormente, em um estudo da década de 1960 no qual macacos-japoneses mergulhavam batatas em água salgada, possivelmente para dar mais sabor aos tubérculos. No entanto, a função desse comportamento nunca foi investigada experimentalmente. 

Os pesquisadores na Áustria, então, decidiram colocar à prova o que tinham observado. Eles ofereceram iogurte de soja sem sabor e um com sabor de mirtilo. Assim, demonstraram que a preferência pelo iogurte estava relacionada diretamente ao paladar, pois as aves raramente escolhiam o sem sabor. 

Eles também constataram que o que as aves faziam com o macarrão e o iogurte era bem diferente do que faziam com o grão de ração e a água. Enquanto o primeiro era cuidadosamente colocado na água, o macarrão era arrastado de várias formas para espalhar o iogurte por toda parte. 

Além disso, os animais comiam primeiro as partes do macarrão cobertas por molho e, muitas vezes, voltavam a mergulhá-lo quando não havia mais. Qualquer semelhança com o jeito que muitas das pessoas comem fast food é pura coincidência.

“No entanto, nem todas as cacatuas do nosso grupo mostraram essa imersão na comida”, diz Zewald. “Isso provavelmente significa que se trata de uma nova invenção das cacatuas que não faz parte de seu comportamento normal.”

A imersão de alimentos em líquidos ainda não foi observada nas cacatuas selvagens em seu habitat natural, na Indonésia. “Essas cacatuas são conhecidas por usar ferramentas de maneiras inovadoras na natureza. Por exemplo, elas fazem objetos de madeira afiados com galhos de árvores para abrir frutas de casca dura. Essas descobertas nos mostram como esses animais são flexíveis, inovadores e curiosos”, diz a coautora Alice Auersperg. 

Auersperg espera que as pesquisas sirvam para motivar o respeito e a compreensão por essa espécie, mas sem incentivar que as cacatuas sejam mantidas como pets. “Muitas vezes, mantê-las como animais de estimação pode não ser uma boa ideia, pois essas cacatuas são como crianças hiperativas com um canivete suíço no lugar do bico, que elas usam de muitas maneiras diferentes para causar muitos danos”, acrescenta.

Segundo os autores, a pesquisa com essas cacatuas contribui muito para o conhecimento de como os animais podem se adaptar e lidar com novos problemas em seu ambiente. 

“Normalmente desafiamos nossas cacatuas dando-lhes um problema e depois observando como elas o resolvem, mas dessa vez as cacatuas mostraram que haviam descoberto soluções para problemas nos quais nem sequer havíamos pensado. Aparentemente, a comida delas não era saborosa o suficiente”. 

Mas, na opinião de Zewald, a receita do macarrão com iogurte de mirtilo não vai entrar para o hall das descobertas gastronômicas. “Prefiro o molho Pomodoro.”

Fonte: abril

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