A fala de Lula, na qual disse que “traficantes são vítimas dos usuários”, foi utilizada por opositores como argumento para não responsabilizar o governador bolsonarista Claudio Castro (PL) e atribuir culpa ao governo federal pelo agravamento da violência no Rio. Entre os críticos estão os deputados José Medeiros (PL), Coronel Fernanda (PL) e Coronel Assis (União Brasil).
Nas redes sociais, Medeiros publicou vídeos e afirmou que Lula é o “presidente dos traficantes”. Já Coronel Fernanda escreveu: “Enquanto o governo passa a mão na cabeça de bandido, o povo sofre nas mãos do crime. Orem pelo Rio de Janeiro, porque o que acontece lá pode se espalhar por todo o Brasil! Em 2026, a resposta vem das urnas”.
Coronel Assis gravou um vídeo em que relaciona a escalada da violência no Rio à “inação” do governo federal. Segundo ele, Lula teria se omitido diante de um cenário de guerra, e sua fala sobre usuários e traficantes teria “contaminado” o combate ao crime.
“Essas imagens que vocês estão vendo não são da Faixa de Gaza nem da Ucrânia, são do Rio de Janeiro. E a mídia não vai mostrar que grande parte da culpa é do governo Lula. O Rio vive sob domínio de grupos narcoterroristas e a resposta do governo foi a omissão. Essa decisão não foi técnica, foi doutrinária”, disse o deputado.
O parlamentar ainda afirmou que a atual gestão federal segue “três doutrinas preocupantes”: a inversão, ao considerar traficantes vítimas; a proteção, ao não reconhecer facções como terroristas; e a aliança, que, segundo ele, serviria a um projeto de poder continental.
As declarações ocorreram após Cláudio Castro ter dito que o governo federal não prestou apoio ao Rio durante a operação. A fala, no entanto, foi desmentida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que afirmou que não houve solicitação formal de ajuda. Posteriormente, Castro recuou e admitiu que não havia feito o pedido.
Diante da repercussão negativa, Lula voltou atrás e disse ter feito uma “frase mal colocada”. Em nova manifestação, o presidente declarou que seu posicionamento “é muito claro contra os traficantes e o crime organizado”, e que o governo tem atuado com ações concretas, como a PEC da Segurança, que tramita no Congresso Nacional. “Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando”, afirmou Lula.
A Operação Contenção, deflagrada na terça-feira (28), é a mais letal da história do Rio de Janeiro. O último balanço do governo fluminense apontou 64 mortes confirmadas, sendo 60 suspeitos e quatro policiais. Moradores, porém, levaram outros 64 corpos à Praça São Lucas, na Penha, o que elevou o total a 128 óbitos, número ainda não reconhecido oficialmente.
A ação mobilizou cerca de 2,5 mil agentes para cumprir 100 mandados de prisão. Houve intensa troca de tiros, barricadas em chamas e o uso de drones com explosivos por criminosos. Um delegado segue internado em estado grave.
O presidente Lula convocou para esta quarta-feira (29) uma reunião de emergência com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça), Jorge Messias (AGU) e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, para discutir medidas de apoio à segurança pública no estado.
Entre as possibilidades analisadas está a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – medida que permite o uso das Forças Armadas em ações de segurança interna. O próprio Lula, no entanto, já manifestou resistência a esse tipo de intervenção, utilizada em ocasiões anteriores, como durante o G20 e a reunião dos Brics, em 2024.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que nenhum pedido de apoio feito pelo governo do Rio de Janeiro foi negado pelo governo federal. A declaração foi dada em entrevista após encontro na Assembleia Legislativa do Ceará, onde o ministro cumpria agenda de trabalho.
Lewandowski foi questionado sobre a operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que, até o fim da tarde, já havia deixado mais de 60 mortos, entre eles policiais. A ação foi deflagrada pelas forças de segurança estaduais para combater o crime organizado e integrantes da facção Comando Vermelho (CV).
“Auxiliamos o Rio de Janeiro no que podemos. Nenhum pedido do governador Cláudio Castro até agora foi negado. A Polícia Federal está atuando intensamente, com recorde de apreensões de drogas, armas e operações de inteligência”, disse o ministro.
Durante o dia, o governador Cláudio Castro (PL) havia declarado que o estado não contava com apoio do governo federal na operação, o que levou o ministro a rebater publicamente.
“A Polícia Rodoviária Federal faz o patrulhamento das rodovias federais para impedir a entrada de armas, drogas e o tráfico de pessoas. O governo federal tem atuado intensamente, com investimentos em segurança pública, fornecimento de armas e equipamentos, e também na área prisional, onde temos aplicado muitos milhões”, afirmou Lewandowski.
O ministro lembrou que, no início do ano, Castro solicitou a transferência de líderes de facções criminosas para presídios federais de segurança máxima, e que o pedido foi atendido. “Foi atendido. Nenhum pedido foi negado”, reforçou.
Lewandowski também disse que não foi comunicado sobre a operação realizada nesta terça-feira. “Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública, para esta operação. Nem ontem, nem hoje, absolutamente nada”.
Fonte: Olhar Direto






