“Estávamos alugando várias salas de um prédio comercial em andares diferentes. Isso estava prejudicando a comunicação e a dinâmica da empresa. Quando estive em Florianópolis, conheci um hub de tecnologia que reunia várias empresas no mesmo espaço. Foi quando comecei a pensar em trazer esse conceito para Cuiabá, um lugar que abrigaria minha empresa, mas também outras startups, para gerarmos um ecossistema de inovação em Mato Grosso”, relatou em entrevista ao Olhar Conceito.
O hub conta com salas de reunião equipadas com lousas digitais e internet de alta velocidade, cabines de call, sala de treinamento, arquibancada multiuso, mesa de sinuca, café e até um estúdio de podcast em fase de conclusão. “Essa inspiração é o que você encontra no Vale do Silício: escritórios descolados, mas que pensam na produtividade e, principalmente, na integração.”
Em dois meses de funcionamento, o Yumit já abriga quatro empresas. Uma segunda fase da obra está em andamento para ampliar a estrutura. “Às vezes encontro colaboradores que me agradecem por proporcionar um lugar legal para trabalhar. Eles extrapolam o horário porque se sentem confortáveis aqui. Isso é muito gratificante como empresário e está alinhado ao meu projeto de colocar Mato Grosso no mapa da tecnologia do Brasil”, afirmou.
Com a pandemia da covid-19, o projeto sofreu atraso, mas voltou ainda mais forte no retorno ao presencial. “As pessoas queriam estar presentes para compartilhar, trocar ideias. É esse o princípio aqui do ambiente: que através dessas conexões surjam inovações não pensadas anteriormente.”
O espaço onde funcionava a boate foi totalmente reformado pelo arquiteto Guilherme Moki, que já assinou projetos para empresas como Google e Nokia. “Era um ambiente depredado e abandonado. Enxergamos potencial pela localização, central e perto de bares e restaurantes. O pessoal da tecnologia geralmente não segue horário comercial, às vezes extrapola ou vai até de madrugada, então esse entorno ajuda.”
Presidente da Associação das Empresas de Tecnologia de Mato Grosso, Fernando reforça a necessidade de políticas públicas para consolidar o setor. Muitos profissionais de tecnologia acabam deixando o estado por falta de um ambiente adequado para inovação e, segundo ele, o êxodo acontece porque outras regiões já estruturaram ecossistemas que estimulam e acolhem empresas da área.
“Existem muitas empresas de destaque em Mato Grosso, mas quando ela recebe esse destaque, o que acontece? Ela sai daqui e vai procurar um ambiente que receba ela, que tenha mais ‘match’ para poder receber ela. Vemos grandes centros como Florianópolis, interior de Minas Gerais e o porto de Recife… São lugares que pensaram nisso lá atrás, fizeram espaços atrativos e políticas públicas como incentivos fiscais e formação de mão de obra, para que ali formasse um ecossistema. Qual a característica de Mato Grosso? Tem muita gente aqui que faz a diferença, pessoas que estão fora da curva do ponto de vista de inovação, mas acabam saindo daqui por não encontrar um espaço propício para elas se desenvolverem”, destacou.
Com trajetória iniciada como estagiário aos 16 anos, passando cabos e montando computadores, Fernando se mudou para Mato Grosso aos 20, contratado pela Itaú Tech, e decidiu fincar raízes no estado.
“Mato Grosso me abraçou. Casei com uma cuiabana, tenho dois filhos cuiabanos e quero retribuir tudo o que o estado me proporcionou. Fiz o caminho contrário de muitos: em vez de sair, quis acreditar e construir aqui um ambiente que pudesse transformar vidas por meio da tecnologia.”
Além do Yumit, Fernando também está à frente da Log Lab, fundada em 2003. A empresa é especializada em soluções digitais para a gestão pública e hoje atende dez estados brasileiros. O foco, segundo o empresário, é transformar serviços presenciais em digitais, com impacto direto na vida do cidadão.
“A Log Lab é uma fábrica de software que desenvolve sob medida para gestão pública, trabalhamos na transformação de serviços que hoje são ‘no balcão’ para o ambiente digital. Então, por exemplo, a matrícula ou iniciar o processo de pedir uma CNH. Hoje você faz tudo digital, a única coisa que você precisa fazer presencialmente é o exame de vista e as provas, mas o resto você consegue fazer tudo digital. Na saúde a regulação dos leitos de UTI, tudo isso de forma transparente e digital é outro exemplo do propósito da empresa de mudar a vida das pessoas através da tecnologia”, explicou.
Fonte: Olhar Direto