Na costa australiana, uma cena relativamente comum instigou cientistas: uma jubarte e golfinhos-nariz-de-garrafa nadando juntos, como se fossem um grande grupo de amigos indo em direção ao happy hour.
A partir dessa interação, pesquisadores documentaram interações frequentes entre baleias e golfinhos em diferentes regiões do mundo, sugerindo que esses cetáceos podem reconhecer e buscar a companhia uns dos outros. Os documentos culminaram em um estudo recente, publicado na revista Discover Animals.
A pesquisa analisou 199 registros de interações entre baleias e golfinhos, envolvendo 19 espécies em diferentes oceanos. Conduzida a partir de vídeos, fotografias e imagens de câmeras presas a baleias, identificou que cerca de 25% desses encontros apresentavam sinais de interações positivas. Essas obser–vações mostram que encontros amistosos entre grandes baleias e golfinhos podem ser mais comuns do que se imaginava.
Em 80% dos casos analisados, os golfinhos nadaram próximos à cabeça das baleias, comportamento que, segundo o pesquisador Jan-Olaf Meynecke – co-autor do estudo e líder do programa de baleias e clima na Universidade Griffith em Queensland, Austrália –, sugere “um desejo de contato, seja físico ou visual”.
Em alguns registros, os cetáceos menores pareciam esfregar-se deliberadamente nos gigantes, ou aproveitar a onda criada pela natação da baleia para “surfar” — comportamento comum entre golfinhos, conhecido como bow riding.
Nem sempre, porém, a aproximação é feita apenas por uma parte. Jubartes, por exemplo, mostraram respostas sociais: rolando de lado, expondo o ventre, e estendendo suas nadadeiras peitorais em direção aos golfinhos. Existiram até casos em que baleias ergueram golfinhos com o rosto, sem sinais de agressividade.
Esse intercâmbio lúdico (além de fofo) pode ter implicações profundas. Brincar é um componente essencial do desenvolvimento social e cognitivo em mamíferos marinhos. Para os golfinhos, que dependem fortemente de laços sociais para caçar e se reproduzir, interações desse tipo podem reforçar redes de cooperação.
Por outro lado, nem todas as espécies mostraram entusiasmo: baleias-azuis e baleias-francas-do-norte, por exemplo, permaneceram indiferentes. E há comportamentos menos amistosos documentados — como ataques de golfinhos à toninhas, cujos motivos permanecem inconclusivos.
Antes da década de 1970, o canto das baleias era um mistério para o público. Isso mudou quando a gravação de suas melodias ecoou fora dos oceanos, o que despertou admiração e uma onda de apoio à sua proteção – foi um momento essencial para o fim da caça às baleias de forma ampla.
Pesquisadores acreditam que compreender se baleias e golfinhos procuram uns aos outros para brincar pode ter um impacto semelhante. Além de ajudar cientistas a mapear melhor onde e como essas espécies vivem, esse conhecimento pode reforçar a percepção pública de que esses animais compartilham comportamentos sociais complexos e até familiares.
Fonte: abril