Música

Bad Bunny no Super Bowl: a presença marcante do artista latino no maior palco dos EUA

2025 word1
Grupo do Whatsapp Cuiabá

O anúncio de Bad Bunny como headliner do show de intervalo do Super Bowl LX é, por si só, um acontecimento carregado de simbolismo, especialmente se comparado à decisão anterior do artista porto-riquenho de não incluir os Estados Unidos em sua turnê “DeBÍ TIRAR MáS FOToS World Tour”.

A contradição aparente, recusar shows nos EUA por receio de ações imigratórias e, ainda assim, aceitar o palco mais visível da televisão estadunidense, acende perguntas profundas sobre o que está de fato em jogo.

LEIA MAIS

Nº1 na Billboard, Bad Bunny quebra recorde com venda de vinis nos EUA

Foto: Instagram/@badbunnyprnation

Bad Bunny alegou que evitou datas de shows nos Estados Unidos por temer que agentes do ICE (agência de imigração dos EUA) pudessem realizar incursões nos shows, expondo fãs latinos vulneráveis. Ele disse, em entrevista ao britânico The Guardian, que o “ICE poderia estar do lado de fora do show”. Essa afirmação já posiciona sua arte como intrinsecamente ligada à urgência política de um grupo marginalizado.

Ao aceitar o Super Bowl, Bad Bunny entra num território onde toda a nação, e mais além, estará “com a TV ligada”. É uma espécie de “exposição forçada”, que oferece visibilidade máxima, mas também risco simbólico para ele, para sua música, para suas convicções.

Se antes ele estabelecia uma autoimposição de recuo nos Estados Unidos, agora ele se apropria de um dos momentos mais centrais da cultura americana para comunicar algo. Esse gesto pode ser interpretado como ato de ousadia, mas também como armadilha: estar no palco torna qualquer manifestação, explícita ou implícita, uma notícia com alcance massivo.

Possibilidades de manifestações políticas no show ou ao redor dele

Algumas hipóteses e tensões que podem emergir na performance:

Mesmo num show mainstream, Bad Bunny pode inserir elementos simbólicos, desde vestuário, projeções visuais, letras ou interlúdios, que dialoguem com temas de imigração, colonialismo, pertencimento latino. Não seria a primeira vez que artistas fazem protesto pacífico por meio da estética, vide o clipe de “NUEVAYol”.

Em algum momento do show ou em discursos antes/depois/durante, ele pode se posicionar diretamente. Isso poderia gerar repercussões mistas com força ampliada, dado o palco do Super Bowl.

Convidados que representam causas sociais (artistas latinos engajados, ativistas) podem ser incorporados para reforçar um recado, transformando partes do espetáculo em ato coletivo.

Foto: Divulgação

Fora do palco, fãs e grupos organizados latinos podem fazer campanhas em torno da apresentação como símbolo de visibilidade. Também podem surgir protestos, exibições de bandeiras ou manifestações culturais paralelas ao evento.

Já se observou reações negativas de simpatizantes de Donald Trump ao anúncio da escolha de Bad Bunny, criticando sua postura política e seu “não fazer turnê nos EUA”. É provável que haja tentativas de boicote simbólico, ataques retóricos nos meios de comunicação, crítica ao uso “excessivo” do idioma espanhol ou à “politização” do espetáculo.

Benny Johnson, comentarista político conservador americano e YouTuber, já teceu opiniões contrárias ao anúncio do artista porto-riquenho no Super Bowl em sua conta pessoal no X, por exemplo. Segundo ele, a NFL estaria “se auto destruindo”. Veja:

Dependendo do grau de ousadia, pode haver pressão política ou censura indireta (patrocinadores ameaçando retirar apoio, pressão sobre emissoras, limitação de tempo). O Super Bowl, apesar de espetáculo pop, não está livre de decisões de bastidores.

O peso cultural e social do Super Bowl

Para os Estados Unidos, o Super Bowl não é apenas um jogo: é um momento de convergência nacional, onde esporte, entretenimento e identidade se encontram. É também um sinônimo de “evento definidor” na cultura estadunidense.

Milhões de lares mantêm a TV ligada e mesmo quem não torce para os times costuma assistir ao show do intervalo, que nos últimos anos foi protagonizado por artistas como Usher (2024), Rihanna (2023), Dr. Dre, Snoop Dogg, Eminem, Mary J. Blige, Kendrick Lamar (2022) e The Weeknd (2021). 

O show do intervalo tem historicamente servido de palco para declarações culturais (colaborações, visibilidade de gêneros marginalizados, discursos simbólicos). Vale lembrar do show conjunto de Shakira e Jennifer Lopez em 2020 que já havia sido lido como um marco de afirmação latina no centro do entretenimento norte-americano.

Ao escolher mais um artista latino, que canta majoritariamente em espanhol, a NFL e o patrocinador master do show do intervalo, Apple Music, sinaliza (ou arrisca sinalizar) uma reconfiguração cultural: que parte da identidade americana é plural, global, diversa.

Para a comunidade latino-americana nos Estados Unidos, especialmente imigrantes, ver um artista que falou diretamente sobre medos reais naquele palco mítico pode se tornar um momento de afirmação simbólica.

Fonte: portalpopline

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.