Ensinar as crianças a perdoar e pedir perdão pode ser um grande desafio para as famílias. Especialmente em uma sociedade como a nossa, que ainda enfrenta dificuldades em assumir os próprios erros e desculpar-se com o próximo.
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“Exigimos das crianças maturidade para pedir desculpas e perdoar. No entanto, falhamos em promover uma educação emocional saudável e dar exemplos de comportamentos que incentivam essa aprendizagem”, alerta a educadora parental e de sono, Mariana Zanotto.
Mas claro que o ato de perdoar será entendido de formas diferentes em cada etapa do crescimento da criança. Segundo Mariana, a capacidade de se colocar no lugar e empatizar com o outro se inicia aos 2 anos, se consolidando somente aos 25 anos, conforme o cérebro vai amadurecendo.
Por isso, a pedagoga Jacqueline de Mattos acredita que as crianças devam aprender a perdoar desde a primeira infância “É que a partir do momento que a criança perdoa acontece uma transformação interior e tudo o que não é bom fica para trás, além de abrir espaço para ações e sentimentos como paz interior, empatia, libertação de mágoas e rancores”.
Além disso, segundo ela, que também é escritora de literatura infantil, perdoar é uma forma de desenvolver a humildade, já que reconhecer que comete erros e faltas é uma condição humana, trazendo equilíbrio e estabilidade emocional ao longo da vida.
“As palavras convencem, o exemplo arrasta”
Jacqueline reforça que os pais exercem um papel fundamental no ensinamento do perdão aos filhos, pois são a referência das crianças para projeção dos seus próprios comportamentos. Por esse motivo, sempre que necessário, “os adultos precisam corrigir os erros das crianças, ajudando-os a reconhecerem os sentimentos que foram causados aos outros e, em alguns casos, pedirem perdão junto com os filhos para que se sintam apoiados”.
“A criança pode saber que errou, mas o que determina se ela será capaz de acessar o perdão de forma saudável dependerá inteiramente da capacidade do adulto de fazer o mesmo, já que o entendimento surge como consequência da forma com que o adulto lida com essa aprendizagem”, acrescenta Mariana.
Contudo, considerando que boa parte dos adultos atuais foi privada de convívio com pessoas com esse tipo de interação durante a criação, se alguém quer ensinar sobre o perdão, precisa reconstruir sua própria relação com tal conduta. “A falta de referência sobre como gerenciar emoções de maneira saudável, criou uma geração de cuidadores confusa e culpada acerca da melhor postura a ser tomada em relação ao tema”, explica a educadora parental.
Desse modo, “é difícil oferecermos para a criança uma ferramenta que nos falta e, por mais que a gente dê lição de moral, use técnicas e leia livros, se não estivermos dispostos a mudar nossos padrões, será difícil passar adiante essa habilidade”, acrescenta ela.
Com isso em mente, as especialistas indicam algumas dicas práticas que contribuem para o ensino no lar pelos pais aos filhos:
- Refaça sua relação com o perdão: é mais fácil oferecer para a criança as habilidades que temos, do que aquelas que nos faltam. Ensinar sobre perdão exige um adulto confortável com emoções e que desenvolva essas práticas em suas relações diárias. Perdoar e pedir perdão são processos e o exemplo sempre vai falar mais alto do que as palavras.
- Estude sobre regulação emocional: o entendimento sobre como o sistema nervoso funciona facilita a forma com que lidamos com o outro e com nós mesmos. A falta de conhecimento sobre o tema gera respostas automáticas que dificultam a capacidade de regular as emoções e auxiliar a criança a fazer o mesmo.
- Evite forçar a criança a pedir desculpas: o objetivo do perdão e de perdoar é mais complexo do que um pedido vazio de desculpas.
- Foque na reflexão e não no resultado final: antes de exigir uma postura da criança, reflita sobre os motivos de você querer ensinar isso: pedir desculpas é apenas uma obrigação ou ela tem algum outro propósito? Existem maneiras mais efetivas de alcançar o perdão sem coagir a criança a murmurar um pedido de desculpas? Como ajudar a criança a enxergar o impacto de seu comportamento em relação ao outro sem fazer terrorismo emocional? Quais são as atitudes que demonstram remorso e perdão que vão além das palavras? Essas perguntas devem ser respondidas pelos pais e podem se tornar referência para diálogos com a criança conforme amadureça.
- Ofereça espaço e tempo para todos se acalmarem: quando a criança bate em alguém no parquinho, é natural que o impulso inicial seja completamente desproporcional. Precisamos lembrar que o perdão surge a partir de uma reflexão, pois os sentimentos de raiva e vergonha podem sequestrar o autocontrole da criança e impedir que ela acesse o sentimento do outro. Em casos como esse, incentive uma separação para que todos se acalmem. Acolha o sentimento do seu filho, proponha reflexões sem julgamentos e então direcione para um pedido de desculpas. Faça o mesmo em casa, até quando você for a pessoa que passou dos limites.
- Seja o exemplo: perdoe e peça desculpas, quando necessário. Modele comportamentos que você gostaria de ver nos seus pequenos e acima de tudo expresse respeito por eles. Sem isso como base, qualquer aprendizado se tornará mais desafiador.
- Conviver em círculos sociais diferentes: pedir perdão é colocar-se no lugar das pessoas, por isso conviver em vários círculos sociais fortalece o caráter e empatia. Além disso, apresentar às crianças problemas ou pessoas com algum problema despertará aos poucos a compaixão.
Fonte: semprefamilia.com.br