Uma quilonova é um tipo raro de explosão cósmica que acontece quando duas estrelas de nêutrons colidem. Essas estrelas de nêutrons são os “núcleos” supercompactos deixados para trás depois que estrelas muito grandes explodem como supernovas.
Em alguns casos, duas delas ficam presas uma à outra pela gravidade, girando juntas no espaço como uma dupla. Após muito tempo – às vezes bilhões de anos –, essa dança termina em uma colisão violenta, que libera ondas gravitacionais e uma explosão de luz associada à formação de elementos químicos pesados, como ouro e urânio.
A novidade é que os astrônomos podem ter observado, pela primeira vez, um evento mais complexo do que o esperado. Os dados indicam que o fenômeno começou como uma quilonova, mas, dias depois, passou a apresentar características típicas de uma supernova.
Por reunir sinais dos dois tipos de explosão, os pesquisadores propuseram o nome “superquilonova” para descrever esse possível novo tipo de evento cósmico, em artigo publicado na revista científica Astrophysical Journal Letters.
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Muitas vezes, imaginamos astrônomos como cientistas que miram o céu com lunetas. Entretanto, fenômenos como a superquilonova não são sempre visíveis, e, nesse caso, a primeira pista veio de ondas gravitacionais.
Imagine as ondas gravitacionais como aquelas ondinhas que aparecem na superfície da água diante de um impacto – mas, em vez da superfície da água, estamos falando do tecido do espaço-tempo, que cobre todo o Universo. Em 18 de agosto de 2025, observatórios nos EUA e na Itália detectaram ondulações condizentes com a fusão de dois objetos cósmicos extremamente densos.
Horas depois, vários telescópios ao redor do mundo registraram uma explosão de luz avermelhada que desapareceu rapidamente em um local que parecia corresponder ao das ondas gravitacionais – a aproximadamente 1,3 bilhões de anos-luz da Terra. O corpo brilhante foi batizado de AT2025ulz.
Sua cor era semelhante à única quilonova confirmada: a GW170817, que ocorreu 2017. Os tons avermelhados surgem a partir da criação de elementos pesados, como ouro e urânio, cujos átomos têm mais níveis de energia eletrônica do que os elementos mais leves e bloqueiam a luz azul, mas deixam a luz vermelha passar.
Alguns dias depois da primeira explosão, o AT2025ulz começou a brilhar novamente em tons azul, típicos de material quente e ionizado, como hidrogênio – sinais que poderiam indicar uma supernova. O objeto misterioso, então, não se parecia nem com a quilonova conhecida e nem com a supernova típica.
“No início, por cerca de três dias, a erupção parecia exatamente com a primeira quilonova em 2017”, disse Mansi Kasliwal, coautora do estudo e astrônoma do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em comunicado. “Todos estavam tentando intensamente observá-la e analisá-la, mas então ela começou a parecer mais com uma supernova, e alguns astrônomos perderam o interesse. Nós não.”
Os dados iniciais das ondas gravitacionais sugeriam que pelo menos um dos objetos em fusão tinha massa menor que uma estrela de nêutrons típica. Era a primeira vez que um resquício estelar denso era observado com uma massa tão baixa.
Modelos teóricos já sugeriam que, em certas condições extremas, a morte de uma estrela pode dar origem a mais de um objeto compacto. Se a estrela que colapsa gira rápido o bastante, seu núcleo pode se tornar instável e acabar formando duas estrelas de nêutrons muito próximas uma da outra – ou produzir um cenário em que, após a explosão inicial, os restos se reorganizam e geram uma segunda estrela de nêutrons.
No primeiro caso, isso poderia levar a um evento mais energético, chamado de superquilonova; no segundo, a uma quilonova desencadeada por uma supernova.
São necessárias mais pesquisas e observações sobre as tais explosões duplas. Com mais estudos, pode ser que a superquilonova seja reconhecida como a terceira no exclusivo rol de tipos de explosões cósmicas.
Fonte: abril






