Isso coloca as criptomoedas entre as cinco formas de investimento mais populares do País, ao lado da poupança, dos imóveis e até do clássico “dinheiro no colchão”. Além da penetração doméstica, o Brasil está entre as dez nações que mais utilizam ativos digitais no mundo.
O relatório Global Crypto Adoption Index 2024, da Chainalysis, coloca o país no 9.º lugar e relata um crescimento regional de 42,5% no volume movimentado em criptomoedas entre julho de 2023 e junho de 2024. Atualmente, as chamam a atenção de bancos tradicionais e big techs. O interesse em moedas digitais também vem parte de grandes instituições financeiras.
A diferença numérica entre os dois públicos, cripto versus ações, não decorre apenas de modismos. Ela reflete um conjunto de coisas que vai do ambiente macroeconômico às fricções regulatórias do mercado acionário. Para o investidor de varejo, abrir conta em uma exchange costuma levar poucos minutos, graças à integração com o Pix.
Já a custódia de ações ainda exige etapas mais formais, além da incidência de taxas de corretagem ou custódia que, por mais baixas que sejam, pesam sobre quem investe valores menores. Também está a questão geracional. A pesquisa de Datafolha revela que o conhecimento sobre Bitcoin é maior entre os jovens de 16 a 24 anos.
Nesse grupo, as plataformas mobile nativas e a cultura de comunidades on-line criam um “efeito de rede” poderoso. Quem vê amigos e influenciadores comprando cripto sente-se envolvido em um ambiente de inovação que a Bolsa, com sua liturgia tradicional, não oferece.
Enquanto o IPCA acumula altas que corroem o poder de compra, parte dos brasileiros busca no Bitcoin uma reserva de valor alternativa. Mas as stablecoins também est4ao ganhando mercado. Dados do Banco Central compilados pela Reuters indicam que, entre janeiro e setembro de 2024, as importações líquidas de criptoativos saltaram 60,7% em relação ao mesmo período de 2023.
Quase 70% das transações envolveram . Isso coincide com a digitalização financeira que está ocorrendo no país. O volume de pagamentos instantâneos via Pix ultrapassou R$17 trilhões em 2024, e a familiaridade com QR codes reduziu a barreira de entrada para apps de corretoras cripto.
Para instituições, a tokenização de recebíveis e a chegada de ETFs de Bitcoin e Ether ampliaram a oferta de produtos, legitimando o setor junto ao investidor profissional. Um estudo da Chainalysis aponta um crescimento de 29,2% nas transações institucionais acima de US$ 1 milhão entre o fim de 2023 e o primeiro trimestre de 2024.
Sinal de que fundos e tesourarias corporativas já miram além do Bitcoin. Em cenários de alta volatilidade cambial, projetos que mesclam lastro em dólar com rendimento de DeFi ganham terreno como instrumento de proteção e geração de yield em reais.
Embora 54% dos brasileiros afirmem conhecer o Bitcoin, dois terços não reconhecem nenhuma outra moeda digital. Essa lacuna de conhecimento cria um ambiente perfeito para golpes, promessas de lucro fácil e confusão conceitual com jogos de azar, ponto sensível que, segundo a pesquisa, afasta 29% dos entrevistados.
Para reduzir riscos sistêmicos, o Banco Central sinalizou que pretende regulamentar emissões de stablecoins até o final de 2025, medida vista pelo mercado como um passo decisivo para atrair capital institucional. Segundo o presidente do BACEN, Gabriel Galípolo, aproximadamente 90% das transações com criptoativos no país estão associadas a stablecoins, utilizadas principalmente para pagamentos e compras internacionais.
Essa tendência levanta preocupações sobre evasão fiscal e lavagem de dinheiro, e mostra a necessidade de uma regulamentação eficaz para garantir a transparência e a segurança do sistema financeiro. No curto prazo, a deve manter a demanda por ativos digitais no radar.
Em maio de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, colocando o Brasil entre os países com os maiores juros reais do mundo. As projeções do Banco Central indicam uma inflação de 4,8% para 2025, acima da meta estabelecida, o que reforça a política monetária restritiva adotada para conter as pressões inflacionárias.
Mas a chegada da criptoeconomia como quinta preferência nacional dependerá, sobretudo, de programas robustos de letramento financeiro, dentro e fora das exchanges, capazes de explicar que volatilidade é parte do jogo e que, assim como em qualquer aplicação, a responsabilidade de diversificar e gerir riscos continua sendo do investidor.
Fonte: Olhar Direto