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Artista sustentável transforma ambientes com revestimento de barro: conforto térmico e beleza natural

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Em uma cidade onde o calor ultrapassa facilmente os 40ºC, a busca por soluções para aliviar o ambiente interno das construções vai muito além do ar-condicionado. O engenheiro civil de formação e artista da terra, Philipe Sancho, encontrou no barro não apenas um material de trabalho, mas uma linguagem capaz de unir arte, ancestralidade e sustentabilidade. O que começou na construção civil, hoje se traduz em paredes, telas e revestimentos que, além de estética e identidade, conseguem reduzir em até 1ºC a temperatura interna de ambientes, oferecendo conforto térmico em casas, pousadas e espaços comerciais.


Ao , Sancho explica que mesmo quando o barro é aplicado como revestimento em paredes convencionais, já é capaz de melhorar a umidade do ar e reduzir a temperatura em até 1ºC. Em construções feitas totalmente em adobe ou taipa de pilão, a diferença pode chegar a 5ºC. 
“Até para a economia de ar-condicionado e o controle da umidade, coisas que uma parede convencional não proporciona, a terra tem esse apelo tecnológico. É como um filtro de barro: a água fica mais fresca e ganha qualidade. Em regiões como a Chapada dos Guimarães, por exemplo, esse equilíbrio térmico é muito perceptível”, explica.
A economia é outro atrativo, já que substituindo os materiais convencionais é possível reduzir entre 10% e 15% dos custos de uma obra. Em casos de autoconstrução ou projetos coletivos, a economia pode chegar a 40% ou até 50%. “Principalmente nos acabamentos, que são a parte mais cara. Se você já pinta com uma tinta de terra ou faz um revestimento de barro, começa a absorver o que gastaria com mão de obra externa.”
Em Cuiabá, ele foi responsável por revestir com arte em barro a Cafeteria Téo, no bairro Jardim das Américas, e a padaria Levita, na avenida Miguel Sutil. Sancho hoje atende tanto residências quanto empresas, especialmente no turismo.
“Diria que uns 70% dos trabalhos que faço acabam sendo para empresas. São pousadas, lugares que a pessoa quer mostrar essa relação com a natureza. Já tive oportunidade de fazer um resort no Manso”. 
Há dois anos, ele foi um dos fundadores da Galeria Mandala, no Centro de Cuiabá, construída com barro e técnicas ecológicas. Apesar de estar fechada para o público, o ateliê funciona também como espaço educacional, onde recebe turmas infantis para oficinas de experimentação com a terra.
“A relação com a natureza é mais o centro da minha visão e trajetória do que propriamente a terra somente como elemento. Dou oficinas em escolas, insiro esse universo da experimentação com a terra como elemento pedagógico.”
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O interesse pela terra surgiu ainda na faculdade, quando percebeu o impacto ambiental da construção civil. Ele lembra que, a partir disso, conheceu a bioconstrução, baseada em terra e materiais naturais, e começou a aprofundar pesquisas sobre a viabilidade e sustentabilidade desse material.
O que começou como pesquisa técnica transformou-se em experiência artística e não demorou para que a casa de Sancho se transformasse em um laboratório ateliê. Há sete anos, ele mergulhou de cabeça na arte e no revestimento com barro. 
“Lentamente fui saindo do mundo da construção e indo para o mundo dos acabamentos e da arquitetura. Comecei a dar cursos e oficinas, fui dando passos para o lado da educação. Mais recentemente, há uns sete anos, comecei a trabalhar com acabamentos e revestimentos. Fui migrando da engenharia para a arquitetura e depois para arte”. 
 
Entre os trabalhos mais marcantes, ele lembra de uma tela feita para uma cliente que queria homenagear os pais. Ela trouxe referências e lembranças da infância, de quando eles buscavam argila branca nos vales de Minas Gerais. “O que mais me encanta em trabalhos personalizados é poder materializar essas memórias, criar uma ligação concreta entre a pessoa, suas lembranças e a natureza. As telas, feitas com barro, carregam essa presença viva do passado e das emoções.”
Para Sancho, a terra carrega ancestralidade, território e pertencimento. Em mostras como a Casacor, ele já levou para o público grafismos indígenas inspirados na etnia Kayapó. “Sempre tem alguma coisa que a terra conta a história. A terra como testemunha daquele valor, daquele povo, daquele território.”
A transição da engenharia para a arte não eliminou a técnica. Pelo contrário, ele destaca que foi a engenharia que lhe deu base para experimentar e aprimorar métodos que garantissem resistência e durabilidade às obras. “Acaba que um universo contribui para o outro. Parece que larguei a engenharia, mas a ciência dela me deu a possibilidade de fazer testes, levantar dados e transferir isso para as telas e paredes de uma maneira eficiente.”
Apesar do crescimento, ele reconhece que a bioconstrução ainda encontra barreiras. A falta de formação específica nas faculdades de arquitetura e a resistência cultural são alguns dos obstáculos. “No começo, só tinha uma pessoa em Cuiabá que trabalhava com projetos voltados à arquitetura sustentável. Hoje já tem diversos, até outros artistas transitando nesse universo. Vejo esse interesse crescendo. Os arquitetos estão mais abertos, os clientes também. Isso me permitiu fazer essa migração definitiva para a arte.”
Em sua análise, o caminho é promissor. “Eu vejo a bioconstrução tanto como uma referência do passado, aprendendo com os nossos ancestrais, como uma solução para o futuro. Estamos falando de energia, de consumo, de qualidade de vida e de sustentabilidade. Uma casa de adobe, quando demolida, retorna para a própria terra. Não deixa resíduo poluente. Hoje, de 25% a 30% dos resíduos ambientais vêm da construção civil. Se fosse possível reduzir isso em 10% ou 15% já seria um avanço imenso.”
 

 

Fonte: Olhar Direto

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