O artista beninense Roméo Mivekannin utiliza lençóis como suporte para reinterpretar obras famosas, sobretudo do Museu do Louvre, substituindo protagonistas brancos por autorretratos. Sua exposição O Avesso do Tempo, exibida na França, chega ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, entre agosto e novembro, como parte da Temporada França-Brasil.
Essas releituras convidam o público a refletir sobre quem pinta, quem é representado e quem fica de fora da narrativa. Na versão da Balsa da Medusa, de Géricault, Mivekannin aparece entre os sobreviventes do naufrágio. Segundo Evelyne Reboul, responsável pelas atividades educativas no Louvre Lens, ele “se insere para propor sua narrativa e nos provocar a reescrever as nossas histórias”.
Nascido na Costa do Marfim e descendente do último rei independente de Daomé, o artista vive entre França e Benin. Ele escolhe lençóis de segunda mão como material, símbolo de rituais de purificação em sua cultura, para redesenhar o passado. Em algumas obras, costura cartas pedindo permissão para ocupar o lugar dos personagens, numa prática ligada ao vodu.
Na releitura do Retrato de Madeleine, Mivekannin substitui a mulher negra antes anônima por sua própria imagem. Seu trabalho também homenageia o tataravô, o rei Behanzin, em fotografias históricas em que ele se insere, questionando a narrativa colonial.
Em São Paulo, o Museu do Ipiranga receberá a mostra Brasil Ilustrado – Um legado pós-colonial de Jean-Baptiste Debret, que revisita gravuras do artista francês para evidenciar a violência da escravidão. Obras como Retrato da Mãe e transformações, de Eustáquio Neves, e Trabalho, de Jaime Lauriano, dialogam criticamente com o legado de Debret. Já Espera da reza pro bater do tambor, de Gê Viana, atualiza a cena ao incluir elementos contemporâneos e protagonistas negros.
A Temporada França-Brasil, prevista para agosto a dezembro, inclui programações em 15 cidades, promovendo diversidade, democracia e diálogo com a África como temas prioritários.
Fonte: cenariomt