A crise diplomĂĄtica criada pela declaração desastrosa do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva contra Israel em Adis Abeba, capital da EtiĂłpia, no domingo 18, Ă© fruto da doutrina do assessor especial da PresidĂȘncia, Celso Amorim. A avaliação Ă© da coluna de Malu Gaspar, de O Globo.
+
Para a colunista, âLula errou feio ao comparar a tragĂ©dia da guerra em Gaza com o Holocaustoâ, mas Israel tambĂ©m errou âao tentar encurralar a diplomacia brasileira com uma emboscada diplomĂĄtica e ataques destrambelhadosâ.
O jornal lembra que Celso Amorim, a pessoa mais influente na polĂtica externa do governo, declarou, depois de instaurada a crise, que a fala de Lula âsacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoçÔesâ que pode ajudar a solucionar o conflito em Gaza.
+
Entretanto, apenas as ditaduras e os governos jĂĄ contrĂĄrios a Israel se mobilizaram com mais ataques ao governo de direita de Benjamin Netanyahu e em defesa da acusação de Lula. âNenhum lĂder mundial relevante veio em auxĂlio de Lulaâ, diz a coluna.
O jornal lembra que, na visĂŁo de Amorim, o chanceler nĂŁo oficial de Lula, o Brasil deve usar sua posição de liderança no âSul Globalâ, formado por paĂses do Brics e outras naçÔes alinhadas, para âconquistar um lugar na geopolĂtica das grandes potĂȘnciasâ.

A O Globo, o professor de relaçÔes internacionais da FGV Matias Spektor, autor de estudos sobre a polĂtica externa brasileira, disse que essa âfilosofiaâ de Amorim influencia as falas de Lula sobre a guerra em Gaza e sobre a invasĂŁo da UcrĂąnia pela RĂșssia.
+
O entendimento do assessor parece ser o seguinte, nas palavras de Spektor: âSe o Brics Ă© a melhor coisa que aconteceu nos Ășltimos 20 anos, nada mais natural que usar essas alianças para esticar a corda e ser duro com o Ocidente, obrigĂĄ-lo a fazer concessĂ”es aos paĂses em desenvolvimento. Porque, se o Ocidente nĂŁo se sente pressionado, mantĂ©m o statu quo, esse sistema internacional super-hierĂĄrquico em que o Norte manda, e o Sul obedece.â
O jornal afirma que o primeiro problema de âusar as alianças antiocidentais para sacudir o Ocidenteâ Ă© o âaval tĂĄcitoâ dado a âpara perseguir e matar opositores, censurar a imprensa e invadir territĂłrios vizinhos, desprezando o valor da democracia e da prĂłpria autonomia dos povosâ.
+
Uma consequĂȘncia de usar as relaçÔes internacionais para favorecer aliados econĂŽmicos e ideolĂłgicos Ă© desgastar ou apagar a tradição do Brasil em polĂtica externa. Por fim, a coluna lembra que essa estratĂ©gia tem um custo, que pode afetar as relaçÔes com outros paĂses, nĂŁo alinhados. âPode atĂ© ser que a âdoutrina Amorimâ ainda venha a produzir o efeito desejado e arranque concessĂ”es das potĂȘncias globais. Por ora, tudo o que temos como saldo Ă© um constrangimento diplomĂĄtico e uma chuva de memesâ, finaliza.Â
Fonte: revistaoeste