No Pavilhão das Mesas da Flib (Feira do Livro de Bonito), o ar se encheu de história, paixão e provocação na tarde desta sexta-feira (19), com a presença do diretor e ator Antônio Pitanga. Em um bate-papo, Pitanga não apenas apresentou seu mais novo filme, “Malês”, mas também fez um mergulho profundo nas raízes de sua própria vida e da identidade brasileira.
“A gente tem que contar nossa história”, afirmou Pitanga, com a autoridade de quem dedicou a vida a esse propósito. O profissional explicou que “Malês” não é só sobre a maior revolta urbana de escravizados no Brasil, em 1835. É sobre trazer à luz uma história que foi apagada dos livros, mas que sobreviveu pela oralidade, tatuando a consciência política, social e cultural do povo negro.
Pitanga, nascido no Pelourinho, na Bahia, lembra que a violência do passado ainda ecoa no presente, citando a invisibilidade de negros e negras em posições de poder e a persistência de um racismo velado. Destaca ainda, que o filme é nutrido no amor e na grandeza de sua mãe, uma neta de escravizados que o criou com dignidade, e na riqueza das várias Áfricas que se formaram no Brasil. O projeto, que levou 29 anos para ser concretizado, é fruto de uma colaboração com parceiros como a Globo Filmes e a Petrobras, além de um “quilombo” de criadores que inclui seus filhos, Camila e Rocco Pitanga.
O artista aborda ainda, a força da miscigenação religiosa e cultural do Brasil. E explica como dirigiu o filme com respeito às diferentes crenças, buscando a orientação de líderes religiosos como o Sheik Gerra e a Mãe Menininha do Gantois.
“É preciso saber lidar com isso, sem agredir, respeitando”, disse, lembrando de sua própria casa, onde sua esposa, a ex-deputada Benedita da Silva, é evangélica, enquanto ele tem formação no Candomblé.
Com a vitalidade de seus 86 anos, Pitanga defendeu a revolução da velhice, contrariando a máxima de que “velho não faz revolução”, mas lê, ensina e indica o caminho. O diretor e ator salientou que sua forma de lutar hoje é através da arte, da memória e da provocação, sempre buscando dar luz às histórias esquecidas do Brasil.
Fonte: primeirapagina