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Alunos de Cuiabá redescobrem hobbies como crochê, bozó e palavras cruzadas após proibição de celular na escola

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Em menos de um mês, professores e coordenadores do Colégio Isaac Newton (CIN), em Cuiabá, viram o ambiente escolar se transformar com a proibição do uso de celulares, algo que já era comum dentro da sala de aula também passou a ser regra na hora do intervalo. Sem o smartphone para roubar a atenção, as mãos das crianças e adolescentes deixaram de rolar feeds intermináveis na tela do smartphone para explorar novos hobbies, como os pontos de crochê feitos por Sofia Akemi, de 15 anos, durante o recreio. 


“Comecei a fazer há um tempo por iniciativa da minha avó, mas agora estou trazendo para a escola, não costumava trazer. Comecei agora, porque como estou vendendo consigo fazer no recreio e como não estamos usando celular, consigo fazer”. 
No dia que a reportagem do Olhar Conceito esteve no CIN, no horário do intervalo do ITA Medicina, ela estava fazendo uma bolsa com pontos de crochê. Antes da proibição do uso do celular, Sofia também costumava ficar no celular durante os 10 minutos de descanso entre as aulas, no entanto, a determinação não foi vista com maus olhos pela estudante. 
 “Não achei tão ruim, pelo contrário, acho que tem muitos motivos para isso ter acontecido, não foi algo que me atrapalhou em muita coisa. Já vi muita gente reclamando, mas da minha parte é tranquilo”. 
Nas salas, além de grupos conversando sobre amenidades como o que fizeram no feriado de Carnaval, algo que a coordenação do CIN já não via há algum tempo, já que os jovens mantinham contato pelo celular, os alunos também aproveitam o ócio com jogos como xadrez, UNO, palavras cruzadas e bozó. 
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Segurando uma câmera digital nas mãos, a estudante Valentina Neves, de 17 anos, conta que não vê problema em ficar sem mexer no celular dentro da escola. A câmera foi uma alternativa que ela encontrou para conseguir registrar as memórias do último ano escolar. 
“Agora que tiraram o celular é bom, porque ela grava vídeo, por exemplo, quando formos começar os trotes vou poder guardar. É tranquilo ficar sem o celular, não foi uma grande questão. Também trago jogos, trago UNO, bozó e estou com dois livros na mochila, estou lendo ‘Senhora’, de José de Alencar, e ‘1984’, de George Orwell”. 
A proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras entrou em vigor recentemente, após a Lei nº 15.100/2025 ser sancionada pelo presidente Lula (PT), em janeiro deste ano. As aulas no CIN retornaram em 3 de fevereiro, mas a proibição do celular no prédio passou a ser efetiva apenas duas semanas depois, em 17 de fevereiro. A coordenadora Rafaela Gurgel explica que a escola adotou um período de conscientização antes de proibir os aparelhos. 
“A gente ia avisando quando via alguém mexendo no celular ou jogando, mas ainda tem alguns poucos que são insistentes. Fizemos uma pesquisa em novembro do ano passado em que 73% dos pais pediram que os celulares fossem retirados, a gente já estava tentando sentir nosso público, porque eles já sabiam que a gente ia proibir. Na emenda veio a Lei Estadual e a Lei Federal, é toda uma tendência mundial, levamos muitos alunos para intercâmbio no exterior, vamos muito para Europa e Estados Unidos, já estava proibido”. 

Os adolescentes que estudam no prédio do ITA Medicina do CIN já nasceram conectados, familiarizados aos feeds e as trends que são virais nas redes sociais como Instagram e TikTok. Por conta disso, a coordenadora explica que os primeiros dias foram difíceis para alguns estudantes que tiveram sintomas de abstinência por conta do uso exagerado e da dependência do celular. 
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“Nos primeiros dias tivemos uma síncope de alunos saindo do prédio, porque temos alguns estabelecimentos aqui por perto, eles saiam para almoçar e poder mexer no celular. Agora isso já mudou, eles voltaram a comer aqui dentro”.  
Os celulares não são recolhidos pela direção e podem ficar guardados nas mochilas dos alunos, já aparelhos como smartwatch também podem ser utilizados, desde que estejam desconectados do smartphone. “A justificativa é logística de vir para a escola, tem pais que precisam dessa segurança, mas eles têm que ter o autocontrole de não mexer”. 
Acostumada a acompanhar os alunos em viagens de intercâmbio para o exterior, Rafaela também notava que muitos dos jovens sequer aproveitavam o presente durante os passeios, já que a maior preocupação era registrar tudo no celular. 
“ Perguntei para uma aluna o que ela tinha achado da Torre Eiffel, ela disse: não lembro, deixa eu ver no meu vídeo. Nosso diretor é muito a favor do mindfullness, você está presente no momento, eles não estão no presente”. 
Outra mudança que já foi notada pela coordenação da escola foi a redução das notificações de alunos dormindo durante a aula, já que o uso exagerado dos smartphones também afeta a qualidade do sono dos jovens. 
“Já é cientificamente provado que deixa eles agitados, claro que é pior nas últimas horas antes de ir para cama. Essas crianças estão alterando o ciclo circadiano deles, porque eles ficam altas horas acordados, chegam aqui e dormem em aula. Já estamos tendo um índice menor de alunos dormindo, toda vez que tem um aluno dormindo, eu não posso tocá-lo, não posso acordar, mas os pais recebem uma notificação”.

 

Fonte: Olhar Direto

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