Um grupo de médicos registrou um Boletim de Ocorrência denunciando a situação de calamidade na Santa Casa de Campo Grande. Aos policiais, os profissionais da saúde relataram que pelo menos 70 pacientes correm risco iminente de morte ou de desenvolver sequelas graves após os atendimentos.
Os médicos descreveram à polícia a situação na Santa Casa como “caótica”. Os setores de urgência, emergência e ortopedia são os mais afetados, pois são os que mais recebem pacientes. Também foi denunciada a falta de insumos nos estoques.
“Neste momento, não há nenhum material ortopédico disponível para a realização de cirurgias de urgência e emergência, que deveriam estar ocorrendo. A situação chegou ao limite hoje, mas há semanas a quantidade de insumos não chega”.
Detalha um dos médicos no Boletim de Ocorrência.
A situação foi denunciada por aqueles que estão na linha de frente, tentando salvar vidas. Os médicos afirmaram que, sem o apoio necessário, precisarão comunicar a não realização de procedimentos urgentes ou até mesmo óbitos.
“Além desses 70 pacientes que estão na lista, outros se acrescentarão, pois acidentes ocorrem o tempo todo e os pacientes chegam à Unidade, que ‘fechou as portas para a ortopedia hoje cedo’. Colapsou. Não dá mais”, disse o médico no Boletim de Ocorrência.
A falta de insumos tem afetado diversos setores. Os médicos atribuem o caos à escassez de recursos e aos baixos repasses de verbas da Prefeitura de Campo Grande para a administração do hospital.
O Primeira Página entrou em contato com a secretária de Saúde de Campo Grande, Rosana Leite, que informou que os médicos são orientados pelo Conselho Regional de Medicina a registrar a situação em Boletim de Ocorrência.
A secretária também afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) está negociando com outras unidades hospitalares para tentar aliviar a demanda na Santa Casa. Rosana Leite ainda explicou que a pasta solicitou a regulação de 40 pacientes da área de trauma, mas até a última atualização deste conteúdo, esses pacientes ainda não foram transferidos.
“O município se comprometeu a realizar um aporte adicional de R$ 1 milhão por mês no contrato, elevando o repasse para a Santa Casa a R$ 6 milhões. O estado, que atualmente repassa cerca de R$ 9 milhões mensais, também está avaliando um aumento nesse valor. Pelas regras do programa, qualquer rompimento contratual exige um período de carência de seis meses: ‘Não é algo que se resolve da noite para o dia’”, afirmou.
Rosana Leite, secretária municipal de Saúde.
Bloqueio de bens
Para conter o colapso financeiro que ameaça o funcionamento da instituição, a Santa Casa de Campo Grande obteve uma decisão judicial favorável para o bloqueio de R$ 46 milhões da Prefeitura de Campo Grande. A medida foi tomada após a Santa Casa alegar, em ação cível, que opera com subfinanciamento crônico e que a prefeitura não cumpriu integralmente o orçamento destinado à saúde no último ano.
A Justiça, em caráter de urgência, determinou que a prefeitura realize o repasse da verba em 48 horas, sob pena de sequestro de bens. A decisão, concedida pelo juiz Marcelo Andrade Campos Silva, titular da 4ª Vara, visa garantir o cumprimento de uma sentença judicial anterior que reconheceu o direito da Santa Casa ao recebimento do montante.
A instituição hospitalar, que realiza mais da metade dos atendimentos de alta complexidade na região de Campo Grande, argumenta que o repasse é crucial para a manutenção dos serviços e para evitar o agravamento da crise financeira que a assola.
Fonte: primeirapagina