Mato Grosso encerrou 2024 com 4.674 novos casos de hanseníase, número superior ao registrado no ano anterior e que mantém o estado na liderança nacional em taxa de detecção da doença. O dado integra um levantamento técnico realizado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCEMT), que aponta um cenário persistente de transmissão ativa e desafios significativos no diagnóstico precoce, no acompanhamento clínico e na prevenção de incapacidades.
A atualização epidemiológica mostra que a hanseníase permanece amplamente distribuída pelo território mato-grossense, com forte concentração de registros em Cuiabá (658 notificações), Juína (458), Várzea Grande (404), Colniza (261), Castanheira (257), além de municípios como Sinop, Confresa, Pontes e Lacerda, Lucas do Rio Verde e Sorriso. Juntos, esses polos concentram parte expressiva da carga da doença no estado.
Os dados revelam um problema de transmissão contínua. A presença de casos entre menores de 15 anos, considerados indicadores sensíveis, confirma infecções recentes e demonstra que a cadeia transmissiva permanece ativa. A maior parte dos novos registros, porém, está entre adultos de 30 a 59 anos, faixa etária que responde pela maior incidência da doença.
O perfil dos pacientes também expõe um componente social importante. A maioria das pessoas diagnosticadas se declara parda e possui baixa escolaridade, especialmente indivíduos que não concluíram o ensino fundamental, reforçando a relação entre vulnerabilidade socioeconômica e o risco de adoecimento.
Outro dado que acende alerta é o aumento de diagnósticos tardios. Em 2024, 14,6% dos casos foram identificados já com grau 2 de incapacidade, patamar quase quatro vezes maior que o observado em 2009, quando a taxa era de 4,3%. Esse resultado indica que muitas pessoas chegam ao serviço de saúde quando o dano físico já está instalado, o que poderia ser evitado com detecção precoce.
Mesmo com boa cobertura de avaliação clínica, 91,4% dos pacientes avaliados no momento do diagnóstico, o estado ainda enfrenta obstáculos na vigilância ativa. A investigação de contatos, essencial para cortar a transmissão, alcançou 79% em 2024, abaixo do nível considerado ideal. A taxa de cura também apresentou queda ao longo da última década, ficando em 69,5%, o que aponta dificuldades de adesão ao tratamento ou falhas no acompanhamento dos casos.
Situação da hanseníase em MT • 2024
Mato Grosso lidera taxa de hanseníase e convive com diagnóstico tardio
Levantamento epidemiológico mostra transmissão ativa, aumento de incapacidades e maior impacto em municípios de médio porte.
Novos casos em 2024
4.674 registros
O estado mantém a maior taxa de detecção do país, em patamar de hiperendemia e com circulação contínua da doença.
Diagnóstico tardio
14,6% com grau 2
Proporção de pessoas já com incapacidades visíveis no diagnóstico, quase quatro vezes maior que em 2009.
Vigilância e cura
79% contatos
Cobertura de exame de contatos ainda abaixo do ideal, com taxa de cura em queda, hoje em 69,5%.
Quem mais adoece
A maior parte dos registros se concentra em adultos de 30 a 59 anos, com número relevante também entre pessoas idosas.
Predominam pessoas pardas e com baixa escolaridade, especialmente quem não concluiu o ensino fundamental, indicando forte influência das desigualdades sociais.
Transmissão recente
A presença de casos em menores de 15 anos revela que a infecção continua ocorrendo de forma recente, exigindo diagnóstico precoce e busca ativa contínua.
Sem cortar essa cadeia, o estado tende a manter níveis elevados de casos, mesmo com expansão das avaliações clínicas.
A combinação de hiperendemia, diagnósticos tardios, desigualdades sociais e vigilância insuficiente reforça a urgência de estratégias permanentes para prevenção, detecção e cuidado integral às pessoas acometidas pela hanseníase.
Fonte: TCE-MT.
O conjunto dos indicadores reforça que Mato Grosso permanece em situação de hiperendemia, com taxas muito acima dos padrões nacionais e internacionais considerados aceitáveis. Apesar de avanços pontuais, o levantamento mostra que o estado ainda precisa enfrentar desafios estruturais, incluindo o fortalecimento da busca ativa, a ampliação de exames de contatos, a redução do diagnóstico tardio e a melhoria das condições gerais de acesso aos serviços de saúde.
Com transmissão contínua, impacto social significativo e tendência de incapacidades em crescimento, os dados apontam a necessidade de ações coordenadas e contínuas para reduzir o avanço da hanseníase e evitar que Mato Grosso siga ocupando o primeiro lugar entre os estados brasileiros mais afetados pela doença.
Fonte: primeirapagina






