O aumento do volume de produção não tem sido novidade na fábrica da cachaça Velho Barreiro nos últimos 25 anos. Mas o segmento ganhou impulso adicional desde o início da pandemia do novo coronavírus. Com isso, a empresa engarrafou mais de 80 milhões de litros da bebida por ano desde 2020, e sua receita cresceu nesse período. Nos últimos sete anos, diz a empresa, sem informar os valores, seu faturamento dobrou.
A expansão da demanda exigiu um aumento de área de cultivo de cana-de-açúcar. Agora, os canaviais da empresa em São Pedro, no interior de São Paulo, somam 15 mil hectares, ou 3 mil hectares a mais do que poucos anos atrás. Em 2022, a fábrica da empresa em Rio Claro, vizinha de São Pedro, produziu 87 milhões de litros da cachaça, comercializada em 99,2% dos mais de 1 milhão de pontos de venda espalhados pelo país.
“Na virada de abril para maio de 2020, nossos volumes de venda começaram a crescer de forma exponencial, e não estávamos preparados para isso. Foi tão intenso em maio e junho que tivemos que abrir outro turno, criar os protocolos de proteção dos funcionários e deixar a fábrica a pleno vapor”, disse ao Valor César Rosa, CEO da Velho Barreiro.
A mudança de comportamento das pessoas na pandemia intensificou as vendas da cachaça nas periferias das cidades, onde está a maior parte do público da empresa, composto principalmente por consumidores das classes C e D. Nesses locais, onde, em linhas gerais, o lockdown não foi seguido tão à risca, a população manteve hábitos de circulação e comércio.
“Foi um trabalho complexo, principalmente de logística. Não podíamos parar. As pessoas estavam em casa querendo consumir. Entre maio e agosto daquele ano, o volume de vendas aumentou 75% na comparação mês a mês”, contou. “A pandemia teve impacto positivo sobre os números, tanto que gente exclui esse período dos números e comparativos, pois achamos que nunca mais vai acontecer nada semelhante”, completou.
Com a marca consolidada no mercado, a procura em alta pela cachaça e um canal de distribuição potente, com 850 distribuidores, a Velho Barreiro conseguiu agregar valor aos seus produtos, repassar o aumento de custo e, mesmo assim, ampliar as vendas. “Há oito anos, a nossa marca trabalhava no ponto de venda com diferença de preço 10% abaixo da líder de mercado. Hoje, o preço é de 12% a 15% maior que o da líder de mercado e crescemos em volume e, evidentemente, em faturamento”, comentou Rosa.
Ele disse que as janelas de recuperação de margens são escassas nesse mercado e que agregar valor ao produto só é possível com a venda em escala. “Só conseguimos fazer isso porque a nossa marca também é muito boa”, disse. “O público é muito fiel, mas é volátil, porque tem um problema muito sério, que é a renda. Temos que cuidar com muito carinho desse consumidor. A base de consumo e demanda está na venda de cachaça em dose, que é 85% do nosso negócio, e por isso estamos sempre atentos ao perfil dos grandes centros e periferias”, indicou.
O que poderia ser um entrave nos negócios, virou oportunidade. Com uso do vidro retornável, a Velho Barreiro ativou uma campanha para ampliar a devolução de vasilhames à fábrica, para que eles sejam lavados e enchidos novamente. Enquanto algumas empresas passavam dificuldades para comprar garrafas, a companhia de César Rosa aumentou em 40% a captação dos retornáveis com ajuda dos distribuidores e passou a adotar rótulos biodegradáveis em todos os produtos.
“Isso nos ajuda a cumprir a legislação da logística reversa e a estar perto da comunidade. Foi um aprendizado”, explicou.
A Velho Barreiro vende ao mercado externo há 30 anos – hoje, ela exporta para 47 países. No entanto, o negócio internacional representa apenas 3% do faturamento da companhia, que é, ainda assim, o maior exportador de cachaça engarrafada do país.
“Somos radicalmente contra a exportação a granel”, diz Rosa, que critica a venda da bebida para engarrafamento e rotulagem nos países de destino.
O CEO da Velho Barreiro defende a obtenção de denominação de origem para a cachaça brasileira. O reconhecimento dos Estados Unidos recentemente foi um avanço, mas ele diz que há um extenso trabalho a ser feito. “Se a gente busca denominação de origem para o Brasil, temos que exportar as nossas marcas”, reforçou o executivo.
A exportação, diz Rosa, é uma forma democrática de impulsionar os pequenos produtores de cachaça. A produção artesanal ou de alambique, afirma, também é importante como nicho de mercado, além de ajudar a imagem do setor em geral com mais qualidade.
Em 2022, quando mais de 50 empresas exportaram, o Brasil vendeu 9,31 milhões de litros de cachaça ao exterior, em negócios que renderam US$ 20,8 milhões – o volume cresceu 29% em relação a 2021 e a receita, 52,3%. Os principais destinos da bebida brasileira foram EUA, Alemanha, Portugal, França e Itália, segundo o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).
Fonte: portaldoagronegocio