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Agronegócio

Valor do ATR segue caindo, mas final da safra pode melhorar – Por: Marcos Fava Neves

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Valor do ATR segue caindo, mas final da safra pode melhorar - Por: Marcos Fava Neves

Seguem nossas reflexões dos fatos e números da cana em julho/agosto e o que acompanhar em outubro. Na cana, a moagem de cana-de-açúcar da safra 2022/23 na principal região produtora do país, Centro-Sul, alcançou volume acumulado de 431,1 milhões de t entre 1° de abril e 1° de outubro (6 meses completos), uma retração de 7,9% na comparação com o mesmo período do ciclo passado. Na última quinzena de setembro, o ritmo de processamento caiu de forma significativa (- 29,7%) no comparativo anual, com 25,3 milhões de t processadas.

De acordo com a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), entidade responsável pelo acompanhamento, a diminuição no ritmo de moagem do setor nas últimas semanas tem relação com o alto volume de chuvas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e sul de Minas Gerais, o que tem prejudicado a colheita da cana e a oferta de matéria-prima para as usinas.

Já o teor médio de ATR (Açúcar Total Recuperável) da cana-de-açúcar, indicador de qualidade da matéria-prima, foi de 115,3 kg/t na última quinzena de setembro, queda de 0,3% na comparação com o mesmo período de 2021/22. No acumulado deste ciclo, temos um ATR médio de 140,9 kg/t, inferior em 1,3% na comparação anual, o que demonstra a qualidade inferior da matéria-prima neste ciclo.

Segundo apurado pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a produtividade média dos canaviais da região Centro-sul está em 74,5 t/ha, considerando os dados da safra corrente de abril a setembro. Isso reflete uma evolução no indicador de 7,3% em comparação ao mesmo período no ciclo anterior, quando a produtividade foi estimada em 69,5 ton/ha.

Nas usinas, o mix de produção em 1° de outubro era de 45,5% para açúcar (45,9% em 21/22) e 54,5% para o etanol (era 54,1% em 21/22). Já a eficiência industrial estava em: 45,03 litros de etanol para cada t de cana (- 0,5%); e 61,08 kg de açúcar por t da matéria-prima (- 2,2%).

Em relação as negociações de CBios, até 07 de outubro, 23,38 milhões de créditos haviam sido emitidos no acumulado de 2022; dados divulgados pela Unica com informações da B3. 27 milhões de créditos de descarbonização já haviam sido negociados — e estão em posse — pela parte obrigada no RenovaBio até a data em questão, o que representa 76% da meta para 2022.

A Atvos deu mais um passo para a integração do digital nos canaviais. A empresa anunciou que irá investir R$ 3,5 milhões para o monitoramento das operações de preparo de solo e plantio de mudas via telemetria – tecnologia que permite a medição de dados de forma remota e os disponibiliza em centrais de informação. O objetivo do grupo é aumentar a eficiência das operações e aumentar a produtividade das lavouras em 6,7 t/ha.

No açúcar, a produção de açúcar na safra 2022/23 alcançou volume acumulado de 26,33 milhões de t até 1° de outubro, queda de 9,9% ou 2,9 milhões de t a menos em comparação com o período passado. Com a queda no processamento de cana nos últimos 15 dias de setembro, a produção de açúcar também caiu de forma expressiva, 27,3% a menos, com oferta de 1,7 milhão de t; dados da Unica.

Em relação ao comércio exterior, os embarques do açúcar em setembro somaram 3,08 milhões de t, aumento de 21% na comparação com setembro de 2021 (era de 2,54 milhões de t). Já as receitas somaram US$ 1,24 bilhão, alta de 44,7% graças a valorização dos preços do adoçante. No acumulado do ano, o Brasil já exportou 17,78 milhões de t do produto (-8,0%) e arrecadou US$ 7,44 bilhões (+11,0%).

Nova estimativa divulgada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta que a produção de açúcar na União Europeia deve ser 330 mil t inferior neste ciclo, totalizando 16 milhões de t. A queda é resultado da menor área plantada com beterraba nos países do bloco, em virtude da melhor rentabilidade oferecida por outras culturas (substituição de cultivos). Com isso, o órgão reviu o déficit ao final de 2022/23 para 1,0 milhão de t; e as importações deverão subir para 2,0 milhões de t.

No etanol, a Unica também divulgou os dados relativos à produção de etanol até 1° de outubro. No acumulado de 2022/23, chegamos a 21,48 bilhões de litros, queda de 5,8% no comparativo de safra, sendo que foram 12,91 bilhões de litros do hidratado (- 7,25%) e 8,57 bilhões de litros do anidro (- 3,6%). Na última quinzena de setembro, o etanol entregou 1,42 bilhão de litros, retração de 28,6%.

Do total produzido até o momento, 2,07 bilhões de litros (ou 9,6%), correspondem ao etanol de milho, um salto de 27,0% quando comparamos com a mesma data de 2021. Apenas no mês de setembro, o biocombustível a partir do cereal entregou 384,7 milhões de litros, alta de 30,5% e mais um mês de crescimento em 2022.

Setembro foi mercado pelo grande volume de vendas de etanol pelas usinas na região Centro-Sul: ao todo, foram 2,67 bilhões de litros vendidos, alta de 8,1% na comparação com o mesmo mês de 2021. Com isso, alcançamos 14,87 bilhões de litros totais do biocombustível (mercado interno + externo) comercializados até o momento, um avanço de 0,7%.

Para o mercado interno, foram vendidos 1,38 bilhões de litros do hidratado (+ 4,7%) e 938,8 milhões de litros do anidro (- 1,8%) no mês de setembro. No acumulado da safra, as vendas do hidratado somam 8,27 bilhões de litros (- 4,9%) e do anidro 5,37 bilhões de litros (+ 4,3%).

Já para o mercado externo, o mês foi marcado por grandes avanços, com embarques de 140,92 milhões de litros do hidratado (+ 2,9%) e 209,54 milhões de litros do anidro (+ 264%). No acumulado dessa safra, já exportamos 1,24 bilhão de litros para o exterior, crescimento de 33%.

Desde o início da safra, os preços do etanol hidratado vêm registrando forte redução mensal: em abril, a média do Indicador Cepea/Esalq – São Paulo ficou em R$ 3,63/l; em junho, caiu para R$ 3,06/l; no mês de agosto nova redução para R$ 2,67/l; e em setembro a tendência de queda se manteve, com preço a R$ 2,36/l. No entanto, o novo cenário de restrição da oferta global de gasolina para equilibrar os preços já começou a se refletir nas bombas, com o preço médio chegando a R$ 2,70/l nos primeiros 20 dias de outubro.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em novembro na cadeia da cana:

  1. Impactos do clima (chuvas) na reta final da moagem da cana-de-açúcar na região Centro-Sul. A oferta de matéria-prima, que vinha melhorando nos últimos meses, caiu bastante no final de setembro por conta das dificuldades em colher, graças a pluviosidade.
  2. Comportamento de venda do etanol pelas usinas. Em setembro, o resultado foi bastante positivo graças a alta demanda interna, com a retomada do consumo do hidratado nos postos de combustível; e também externa, especialmente pela alta demanda do anidro.
  3. Efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, da crise energética na Europa e da crise econômica global (e possibilidade de recessão em 2023) nos preços do Petróleo. Em 30 de setembro, os valores do barril Brent estavam em US$ 85 e saltaram para US$ 97 no início de setembro.
  4. Exportações brasileiras do setor sucroenergético. Setembro foi um mês bastante positivo para o etanol, que cresceu 76,7% no comparativo com o mesmo mês de 2021; e no açúcar, que embarcou 21% a mais do adoçante no mês. Outubro começou com bons resultados para o açúcar, com alta de 46,5% na média diária embarcada (segundo a Safras&Mercado).
  5. E diante de um setor tão impactado historicamente por políticas públicas, não poderíamos deixar de citar os impactos que o resultado das eleições (presidenciáveis e de governadores) poderão trazer para o setor. Novembro será um mês de avaliar os resultados e começar a prever possíveis medidas; ou, até mesmo, compor ações de planejamento para o próximo ano, observando o cenário ao qual nos encontraremos. Torcendo aqui para bons incentivos a nossa cana e seus produtos todos!

Valor do ATR — pelo segundo mês consecutivo, o preço médio do Açúcar Total Recuperável (ATR) registrou queda: fechou setembro com R$ 1,0662/kg. Com isso, apresentamos na sequência o histórico da safra em andamento: em abril, R$ 1,245/kg; maio com R$ 1,221/kg; junho foi a R$ 1,186/kg; em julho subimos para R$ 1,203/kg; em agosto, nova queda, indo a R$ 1,139/kg; e em setembro ficamos em R$ 1,0662/kg, como vimos anteriormente. No acumulado de 2022/23, o preço está agora em R$ 1,1761 /kg. Nossa previsão segue sendo de que fique em torno de R$ 1,13/kg até o final da safra 2022/23.

Marcos Fava Neves – Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.

Fonte: portaldoagronegocio

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