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Agronegócio

SUSTENTABILIDADE: Por que a Agenda ESG exige atenção imediata, segundo adido agrícola brasileiro na União Europeia

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O evento reuniu especialistas para esclarecer as cooperativas sobre as próximas etapas dessa agenda e as exigências internacionais que entrarão em vigor nos próximos anos. O objetivo foi alertar as cooperativas para a importância da adequação às regras para permanecerem competitivas no mercado. ESG é a sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança e refere-se a um conjunto de padrões que envolvem essas áreas e que devem ser seguidos pelas empresas e organizações.  

Mercado europeu – O superintendente da Fecoopar, Nelson Costa, abriu o evento destacando a importância do mercado europeu e as exigências em qualidade e rastreabilidade que demandam melhoria contínua. “As cooperativas paranaenses já estão no mercado mundial, para onde são destinadas 60% das suas exportações, e o mercado europeu é fundamental pelos volumes exportados e pelas exigências de qualidade que acabam dando suporte para a melhoria contínua dos processos produtivos”, informou Costa. Ele lembrou que há dois anos a Ocepar tem o seu próprio programa de ESG para apoiar as cooperativas. “Temos programas de rastreabilidade de produtos e um cuidado muito grande com as pessoas que trabalham todos os processos produtivos”, declarou.

Lei Antidesmatamento – Costa disse que a motivação do webinar foi a recente lei antidesmatamento que a União Europeia aprovou. “Esse tema nos preocupa porque ainda não se tem mais detalhes de sua aplicabilidade e o que será considerada área de desmatamento – áreas novas ou antigas? A regulamentação traz novas diretrizes para a compra de produtos como soja e café, importantes produtos brasileiros. Por isso vai impactar o setor produtivo”, alertou. O superintendente da Fecoopar observou, no entanto, que no Paraná a prática do desmate não acontece mais. “Temos um processo grande de repovoamento de áreas, que não possuem aptidão para a atividade produtiva, com espécies nativas para recompor o ambiente natural”, informou. “Não é apenas o mercado europeu que nos preocupa, mas também os Estados Unidos e o Mercosul. Por isso temos que debater com especialistas e dar uma visão mais completa para as nossas cooperativas”, frisou.

Oportunidade – “O cumprimento da Agenda ESG requer atenção imediata”, destacou o adido agrícola do Brasil na União Europeia, Bernardo Todeschini, que participou do webinar, falando sobre o “Contexto Político Internacional”. Segundo ele, na mesma medida em que o ESG promove restrições, pode proporcionar ampliação de mercado. “É um desafio. Os países que não forem classificados como de baixo risco terão dificuldades e poderão ser substituídos por outros no mercado”, alertou, referindo-se à regulação voltada ao combate ao desmatamento, recém aprovada pelo Conselho Europeu.

Risco – Com a entrada em vigor da norma, em 30/12/2024, haverá uma classificação por risco dos países que exportam para a União Europeia. A classificação identificará países de baixo, médio e alto risco. Nos países classificados como de alto risco de desmatamento, onde o Brasil deverá se enquadrar, serão cobradas auditorias rigorosas em suas cadeias produtivas. Em países de grande dimensão, como o Brasil, é difícil classificar como um único nível de risco. Seria mais adequado por região”, opina Todeschini. Mas, ainda não se sabe se a classificação por região será aprovada.

Desmatamento – O regulamento, publicado pelo Conselho Europeu em julho desse ano, tem como foco combater a importação de produtos cuja produção envolve desmatamento ou degradação de florestas. O adido agrícola esclarece que a norma vai mais além e avalia também se a estrutura de produção, em todas as suas fases, respeita os direitos humanos, como o cumprimento da legislação trabalhista e o respeito aos povos indígenas, por exemplo.

Oito produtos – A regra alcança 55% das exportações do Brasil para a União Europeia, envolvendo diretamente oito cadeias produtivas: óleo de palma, bovinos, soja, café, cacau, madeira, papel e borracha. “Não se trata apenas destes produtos especificamente, mas de toda a cadeia produtiva”, explica o adido agrícola. Ele reforça a necessidade de, desde já, os produtores implementarem medidas de rastreabilidade. “Não podemos deixar para estabelecer o sistema de monitoramento quando a regra passar a ser aplicada”, alertou.

Cooperativas – O adido agrícola observou que a legislação ambiental brasileira é sólida e aplicada por 99% dos produtores. “As cooperativas têm uma capacidade enorme de comunicação e coesão. Talvez seja uma oportunidade de fazer deste limão uma limonada, sair na frente e na posição de liderança neste mercado”, pontuou. Sobre as cooperativas, o professor da PUCPR, Ubiratã Tortato, palestrante do evento, chamou a atenção para um dado: uma pesquisa que avalia o nível de percepção das pessoas relacionado a marcas de empresas e organização líderes em ESG (Top 10 ESG) revelou que na Itália, das cinco primeiras colocadas, duas são cooperativas. Enquanto no Brasil, nenhuma cooperativa figura entre as dez primeiras. “Isso não quer dizer que as cooperativas não fazem [ações em ESG]. Elas fazem e às vezes até melhor que empresas privadas, mas não divulgam”, pontuou, reforçando que “ESG e Marketing têm que caminhar juntos”.  

Estratégia – Falando sobre “A importância do ESG nas empresas e impactos no mercado”, Tortato frisou que ESG significa competitividade. “Se não adotarmos essa estratégia, só temos a perder”, afirmou o professor, que é doutor em Engenharia de Produção pela USP. Segundo ele, é muito importante entender como vai funcionar o mercado nos próximos anos. “A União Europeia vai continuar sendo um parceiro comercial muito importante para o Brasil nas próximas duas décadas. Depois virão os asiáticos e os africanos. Se conseguirmos atender a União Europeia, estaremos preparados para os outros desafios que vem pela frente”, disse.

ESG x Sustentabilidade – Tortato explicou a diferença entre trabalhar com sustentabilidade e com ESG. “Tenho certeza que para as cooperativas é ESG”, afirmou. “ESG tem foco em diminuir riscos. Antes, quando se falava de sustentabilidade, se falava do macro, de tudo que se relaciona ao ambiente. ESG trata do micro, da empresa, do que ela precisa. A representatividade da empresa ficou muito maior”, ressaltou. “ESG é mensurável, é específico. Não tem mais promessa, tem relatório, tem evidência. Se não fizer, corre o risco de perder cliente e de perder acesso a crédito com juro menor. Tem meios de mensurar, é preciso fazer auditorias, diligências”, frisou. Segundo o professor, quanto mais se investir nesses pontos, menor será a taxa de risco. “O gestor é quem tem que fazer essa conta: o investimento vale o risco? Ou eu prefiro renunciar a esse mercado?”, provocou. Ele ainda polemizou afirmando que: “ESG não é para proteger floresta, macaquinho, tribo indígena, oceanos, rios e lagos, é para proteger o sistema financeiro, que entendeu que se proteger a floresta, o macaquinho, a tribo indígena e os oceanos rios e lagos, estará protegendo o sistema financeiro”.

Sobrevivência – “Esse tema, ESG, é de extrema relevância para a sobrevivência das empresas hoje”, declarou a professora Dulce Benke, da Proativa Results, consultoria que apoia empresas na Agenda ESG, com atuação em toda a América Latina. Ela participou do webinar, apresentando a palestra “Visão e exigências do mercado europeu”. Benke deu um recado às cooperativas: “o ambiente regulatório está borbulhando e impacta diretamente as atividades. Precisa fazer parte da gestão de risco de vocês. Observar o ambiente regulatório é extremamente relevante”.

Reino Unido e EUA – A professora frisou que as cooperativas precisam entender o que têm que fazer para atender as demandas da União Europeia relacionadas à regulamentação de desmatamento, como forma de manter e ampliar o acesso a esse mercado. Além disso, advertiu que não se pode perder de vista outras duas regulamentações: do Reino Unido e dos Estados Unidos, também relacionadas ao tema e mais direcionadas ao desmatamento ilegal.

Fonte: portaldoagronegocio

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