Ter filha “doutora” é um orgulho para qualquer pai. Para o senhor Carlos Roberto Lopes, então, tem um gostinho mais especial. Produtor rural de Canaã, na Zona da Mata mineira, enfrentou uma rotina dura na produção de frangos, para estudar as 3 filhas. “No princípio foi muito difícil. Quando eu mudei pra cá a gente tinha condição apenas pra fazer o galpão pra criar os frangos, porque na época era mais barato. Mas não foi fácil, porque não tinha nada mais na propriedade. A gente foi crescendo, criei minhas filhas com a renda dos frangos. Estudei as meninas, tem doutora na família, graças a Deus”, conta orgulhoso.
Então, quando a filha Izabela resolveu largar a carreira como física, profissão na qual se formou na faculdade, para regressar para a roça, o Roberto não gostou muito da ideia. Mas a resistência durou pouco tempo.
“Na hora a gente se sente um pouco mal porque você estuda as filhas pra ir embora, mas hoje estou querendo trazer as outras pra casa. Tem muita gente que não concorda, mas eu acho que filho tem que ficar com os pais. A cidade foi muito bom, mas hoje já não vale a pena mais. Na roça, no campo é muito mais saudável”, opina.
E foi em busca dessa vida mais saudável, mais leve, que a Izabela fez o caminho de volta para roça, além, claro, da vontade de estar mais próxima da família.
“Antes de formar eu já sentia que eu gostaria de estar perto do meu pai, da minha mãe, de toda minha família. Assim que me formei ainda tive uma resistência, dei aula por um tempo. Mas quando comecei a ter mais contato com a fazenda, eu soube que precisava largar tudo e vir embora. Eu morei 10 anos fora de casa e nesse tempo eu entendi a necessidade de estar próxima da família”, diz.
Diversificando a produção
Izabela voltou com vontade de fazer a diferença. Logo assumiu o controle da parte administrativa da fazenda, propondo melhorias que surpreenderam o pai. “Hoje eu vejo que ela era o que eu precisava, me ajuda nas anotações, que eu era ruim. Agora eu sei o quanto ganho, o quanto gasto. Eu mexia com vaca, ela fez os cálculos e vimos que não valia a pena”, conta Roberto.
Assim que chegou em Canaã, a jovem também procurou a assistência técnica da Emater-MG. A orientação foi para buscar novas culturas para investir, como o plantio do tomate. Segundo o extensionista da empresa, Gilmar Rezende, diversificar é sempre uma opção interessante, especialmente para as pequenas propriedades. “Isso garante renda maior e menor dependência de uma única atividade”, pontua.
Ele ainda destaca que a produção de tomate em estufas exige uma menor área, cabendo perfeitamente para o caso da Izabela. Com orientação da Emater-MG, ela conseguiu acesso ao crédito rural do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) para implantar parte do cultivo do tomate em sistema protegido. A outra parte, cerca de um hectare, ela mantém no sistema tradicional. Pouco a pouco está migrando também para o cultivo livre de agrotóxicos, fazendo o controle biológico das pragas.
“O meu sonho é ter uma produção mais sustentável para que as pessoas lá na frente possam consumir algo que está pensando no planeta, para ter um mundo mais sustentável, sem agredir ao meio ambiente, aos animais, é isso que eu quero”, reforça.
Sucessão familiar
Histórias de sucessão familiar, como da Izabela com o senhor Roberto, têm mudado o panorama rural em Canaã. Segundo a extensionista de bem-estar social da Emater-MG, Alessandra Miranda, que atua no município há mais de 14 anos, este impacto tem sido visivelmente positivo. “Antes a produção aqui era mais focada na monocultura, pouca diversificação. Economicamente o retorno dos jovens às propriedades tem sido muito bom”, relata.
Para Izabela, voltar marcou uma nova fase de prosperidade. Com a renda da produção já está erguendo sua casa própria e se depender dela será na roça que vai plantar seus sonhos e fincar raízes. “Foi aqui no interior que eu encontrei minha paz e o estilo de vida que eu quero pra mim”, arremata.
Fonte: portaldoagronegocio