O agronegócio brasileiro já é um dos mais importantes fornecedores de alimentos ao mundo, mas, para Fabiana Alves, que assumiu no mês passado o posto de principal executiva do banco holandês Rabobank no Brasil e na América do Sul, o setor ainda carece de uma estratégia mais coesa e de visão de longo prazo. “Nós precisamos criar uma marca do agro brasileiro.
Essa marca é agroambiental, social, mas ela tem que ser transversal, tem que integrar todos os elos da cadeia”, afirma.
Criado por agricultores holandeses há 125 anos, o Rabobank tem uma trajetória intimamente ligada à agropecuária. Hoje, o banco atua em quase 40 países – no Brasil, ele está há mais de 30 anos -, concedendo crédito a alguns dos líderes globais no comércio de alimentos e matérias-primas agrícolas.
Isso põe o banco no centro das discussões inescapáveis do agronegócio na atualidade, como a luta contra o desmatamento, as mudanças climáticas, o protecionismo comercial e o combate à exploração de trabalhadores rurais. Dito de outra forma: quando governos, empresas e organizações não-governamentais alertam que ignorar preocupações ambientais pode levar à perda de espaço no comércio internacional, isso significa, entre outras coisas, correr o risco de sair da carteira de clientes do Rabobank.
Fabiana Alves diz que o Brasil tem condições de se apresentar ao mundo com sua “marca agroambiental”, mas que isso exige, antes, que os diferentes elementos dessa construção coletiva passem a falar a mesma língua. “Nós precisamos reavaliar o papel das instituições de representação, das associações e de suas iniciativas, inclusive políticas”, afirma ela. “O agro tem que ser um pouco mais agnóstico politicamente, tem que concentrar seu foco na estratégia de longo prazo, porque a base da nossa economia é de longo prazo”.
Em agosto do ano passado, conta a executiva, o Rabobank reuniu em São Paulo os presidentes de 25 grandes clientes do banco no Brasil para discutir os desafios do setor. “Em um encontro com grupos que respondem por mais de 10% da área de plantio no país, uma das conclusões foi que ainda falta representatividade ao agro, e ela nasce da falta de coordenação”, diz. “A gente não tem agenda, plano estratégico, visão de longo prazo. Ficamos sujeitos às volatilidades econômicas e políticas, mas, como base da economia, o agro deveria ter uma agenda própria”.
A executiva não citou nomes de pessoas nem de entidades, mas não é difícil pensar em casos concretos que sustentam seu argumento. Nos últimos anos, alguns segmentos do agro fizeram coro com afirmações do governo anterior que minimizavam a crise climática, o garimpo ilegal em terras indígenas e o desmatamento na Amazônia, que voltou a crescer. Independentemente das escolhas individuais de cada empresário e produtor rural, o conjunto do agro brasileiro não teve ganhos competitivos ou comerciais quando entidades importantes do setor passaram a se manifestar de maneira contraditória sobre esses temas – e ao sabor, muitas vezes, da preferência política de seus dirigentes.
Nos esforços para que o agronegócio brasileiro adote amplamente as boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), cabe ao setor financeiro impor critérios mais rigoroso para a concessão de crédito, diz Fabiana Alves. “Aqui no banco, nós já temos um histórico de declinar projetos ou transações que não estavam alinhados com nossos princípios”, afirma. Segundo ela, o banco deve passar a ser “mais vocal” sobre essa política para que outros bancos levem essas ações a públicos que o Rabobank não atende.
O banco tem 1,7 mil clientes no Brasil, quase todos grupos ligados à agricultura exportadora de larga escala. A executiva conta que uma de suas metas é seguir acompanhando a expansão do mercado para manter a fatia que a instituição tem hoje nesse nicho do mercado de crédito, de cerca de 25%.
Fonte: portaldoagronegocio