Os preços do café, que atingiram recordes históricos em setembro, apresentaram uma queda na primeira semana de outubro. Segundo Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint Global Markets, o principal fator que contribuiu para essa desvalorização é a previsão de chuvas significativas nas regiões produtoras de café do Brasil nos próximos dez dias. “Tanto os modelos europeu quanto americano indicam um aumento nas precipitações a partir de 9 de outubro, especialmente nas áreas de Minas Gerais e São Paulo, que foram as mais afetadas pela seca até agora”, destaca.
Essas chuvas serão cruciais para a florada que se iniciou no final de setembro, auxiliando os cafezais na recuperação do déficit hídrico. Contudo, a analista alerta que as condições climáticas adversas já podem ter impactado o potencial produtivo da safra 2025/26. “Ainda é cedo para avaliar a magnitude da próxima safra, uma vez que o pegamento das flores abertas e o padrão de precipitação nos meses seguintes serão determinantes para o desenvolvimento da temporada”, afirma.
Além disso, chuvas significativas também são esperadas para o Espírito Santo, uma região menos afetada, onde a floração ocorreu em agosto e setembro. “De modo geral, o cenário climático tem sido mais favorável para as regiões de robusta do que para as de arábica”, observa.
Os preços do arábica e do robusta estão sob pressão devido às perspectivas climáticas otimistas no Brasil e podem continuar nessa tendência se as chuvas se confirmarem. Outra variável que poderá impactar os preços é a nova perspectiva em relação à EUDR (Regulamento de Desmatamento da União Europeia). Em resposta a reações negativas de vários países produtores, a Comissão Europeia propôs no dia 1º de outubro um adiamento da implementação da EUDR, passando a valer em 30 de dezembro de 2025 para grandes empresas e em 30 de junho de 2026 para micro e pequenas empresas.
Adicionalmente, a Comissão divulgou documentos orientadores e um quadro de cooperação internacional para auxiliar as partes interessadas em sua adaptação ao novo regulamento. A proposta ainda precisa passar pela aprovação do Parlamento Europeu e do Conselho, mas já existe uma crescente pressão, tanto externa quanto interna, para seu adiamento. Caso a proposta seja aprovada, a pressão de compra que se observou nos últimos meses pode diminuir a curto prazo.
Em 2024, as importações de café pela União Europeia aumentaram, especialmente em relação aos grãos brasileiros, uma vez que muitas empresas e exportadores buscaram garantir o envio do café para a Europa antes da implementação da EUDR. Dados acumulados até setembro mostram que a UE importou 34,8 milhões de sacas de café verde, um crescimento de 3,5% em relação ao ano anterior e 24,6% acima da média dos últimos cinco anos, indicando uma recuperação nas exportações europeias.
Neste contexto, o mercado deve permanecer cauteloso, mas com uma tendência de baixa nos próximos dias, enquanto aguarda a confirmação das chuvas no Brasil e a postura em relação à implementação da EUDR. Vale destacar que o Vietnã começará a colheita da safra 2024/25 nas próximas semanas, com os trabalhos nos campos de arábica iniciando este mês e os de robusta em novembro. Isso pode estreitar os diferenciais, à medida que os exportadores aguardam o aumento da oferta no país asiático, resultando em possíveis pressões baixistas sobre os preços futuros do café.
A longo prazo, o cenário pode favorecer um aumento dos preços, com o balanço global da safra 2024/25 ainda apontando para um déficit, especialmente devido à queda na produção de robusta, e com estoques nas origens e destinos abaixo das médias históricas. Em resumo, os preços do café estão sob pressão e podem continuar assim nas próximas semanas, impulsionados pela previsão de chuvas e a proposta de adiamento da EUDR. Apesar de melhorias nas condições dos cafezais, o impacto negativo da seca até agora pode afetar a produtividade da próxima safra, e a atual temporada já registrou uma produção inferior ao esperado.
Fonte: portaldoagronegocio