A cidade de Piau, situada na Zona da Mata mineira, destaca-se como um importante polo de produção de bananas na região. Contudo, devido à natureza altamente perecível da fruta, a cadeia produtiva enfrenta o desafio de gerir o excedente das colheitas e evitar o desperdício. Visando a sustentabilidade e a utilização integral do alimento, os produtores locais têm demonstrado criatividade ao transformar a banana em uma variedade de produtos, aumentando a renda e agregando valor à sua produção.
Para o casal Elaine e Quintino Moreira, que cultivam bananas orgânicas, a solução para otimizar a colheita foi investir na agroindústria. “Nossa produção é vendida in natura, mas o que não conseguimos vender, transformamos em outros produtos”, explica Quintino. Eles aproveitam as bananas que não atendem aos padrões de venda para elaborar diversos itens, como banana passa, bananada sem açúcar, farinha de banana verde, bombons e uma barra energética que combina a fruta com batata-doce e chocolate. Segundo Elaine, essa iniciativa representa um considerável aumento na renda. “Uma caixa de bananas in natura custa cerca de 60 reais, enquanto a mesma quantidade processada pode valer mais de 100 reais.”
Outra produtora inovadora de Piau é Maria Lúcia Evaristo, que se dedica à produção de cachaça de banana. Após um desafio há mais de 20 anos, ela desenvolveu uma cachaça exclusiva, feita apenas com banana, sem misturas com cachaça de cana. “A técnica foi aperfeiçoada, e hoje transformo a banana nanica em uma bebida saborosa que faz muito sucesso no mercado, alcançando um preço de venda em torno de 30 reais por litro”, conta. A produção das bananas é responsabilidade de sua filha, que se concentra no processamento. Elas utilizam frutas que não se enquadram nos padrões de venda e que, sem um mercado, seriam descartadas. “Iniciei nesse ramo após me aposentar, e a cachaça de banana se tornou uma fonte complementar de renda”, explica Maria Lúcia.
O produtor Guilherme Lima, que cultiva nove hectares de banana nanica, encontrou uma oportunidade de expansão no mercado de snacks. Ele utiliza bananas verdes para fabricar chips crocantes, um petisco que conquistou consumidores em várias cidades, como São Paulo e Belo Horizonte. “Cheguei ao ponto ideal de crocância através da experiência”, comenta Guilherme. Atualmente, ele produz cerca de seis mil pacotes de banana chips por mês, obtendo um aumento de até 600% no preço de venda em relação ao produto in natura. A aceitação do mercado foi positiva, mas o crescimento é limitado pela falta de mão de obra. “Toda a produção é vendida, e a demanda é alta. Para atender novos clientes, precisamos de pelo menos 15 dias para entregar os produtos”, explica.
Ícaro Nogueira e Silva, supervisor da assistência técnica e gerencial do Sistema Faemg Senar, ressalta as vantagens da diversificação para os produtores. Ele destaca que a banana é um produto perecível, e entre 5% e 25% da colheita pode ser perdida por não atender aos padrões do mercado. “Transformar o excedente em produtos derivados reduz o desperdício e aumenta a lucratividade. Esses produtos agregam valor à agricultura familiar e podem ser vendidos por preços até 100% mais altos”, afirma. “O que antes seria descartado agora se transforma em renda.”
Com criatividade e inovação, os produtores de Piau transformam a banana em oportunidades, evitando o desperdício e promovendo uma agricultura mais sustentável e valorizada.
Fonte: portaldoagronegocio