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Agronegócio

O Café do Jacu: A Surpreendente Symbiose Entre a Cafeicultura e a Natureza na Zona da Mata

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Tradicionalmente visto como uma ameaça nas lavouras de café, o pássaro jacu, com sua plumagem preta e porte médio, agora tem sido transformado em um aliado crucial para a produção de um dos cafés mais caros e exclusivos do Brasil: o café do jacu. No Sítio Pico do Boné, localizado em Araponga, na Zona da Mata mineira, a presença constante da ave é motivo de satisfação para a cafeicultora Kátia Belo Martins, que percebe o pássaro como um indicador de que a colheita está próxima e que haverá uma boa quantidade do exótico café.

Kátia explica que, embora o jacu fosse inicialmente considerado um inimigo, sua visão mudou após compreender a importância da ave como dispersora de sementes, contribuindo para a regeneração florestal. Além disso, ela descobriu o valor dos grãos de café que são retirados das do pássaro. “Aqui temos muitos jacus, e percebemos que, ao invés de espantá-los, decidimos transformá-los em aliados”, revela a produtora.

O Processo de Produção do Café do Jacu

A colheita do café do jacu é um processo manual e delicado, pois os grãos devem ser recolhidos do chão, onde ficam nas fezes da ave. As fezes, semelhantes a um pé de moleque, abrigam os grãos valiosos que são extraídos com cuidado. Todos os dias, Kátia conta com a ajuda de sua mãe, irmã ou namorado para realizar a coleta dos excrementos. Após a retirada, os grãos passam por um processo de secagem antes de serem higienizados, torrados, moídos e embalados.

O café do jacu é considerado exótico não apenas pelo método peculiar de colheita, mas também pela qualidade superior dos grãos. Regivaldo Moreira Dias, extensionista da Emater-MG, explica que o pássaro se alimenta dos melhores grãos, o que contribui para a qualidade final. Além disso, o processo de fermentação ocorre naturalmente no sistema digestivo do jacu. “O jacu processa apenas a casca e a polpa do café, deixando o grão praticamente intacto, mas já com características sensoriais superiores ao café convencional”, afirma Dias.

Segundo Kátia Martins, embora a produção seja pequena e exija grande atenção, o esforço vale a pena. A demanda pelo café Penélope Majestosa, nome dado em homenagem ao jacu, é grande, e a comercialização atualmente ocorre apenas no Brasil. A saca de 60 kg pode alcançar preços de até R$ 34 mil, enquanto o pacote de 150 gramas é vendido por R$ 125,00.

O Jacu como Aliado da Cafeicultura

Regivaldo Dias também reforça a importância do jacu para o setor cafeeiro. “O jacu não é um vilão. Pelo contrário, ele é um aliado, pois, ao invés de consumir o café, ele processa os grãos, gerando um produto de altíssima qualidade”, destaca o especialista.

Tradição e Sustentabilidade Familiar

Nascida e criada no meio rural, Kátia Martins voltou às suas origens após se formar em Administração de Empresas, decidindo seguir o caminho da cafeicultura, mesmo após enfrentar dificuldades. Juntamente com sua família, ela cuida de cerca de 80 mil pés de café cultivados sem o uso de agrotóxicos, adotando o Sistema Agrícola Tradicional (SAT). A produção do café especial Pico do Boné e do café gourmet Araponga tem garantido uma renda significativa à família, que também tem se aventurado no turismo rural. Os cafés da propriedade já conquistaram o terceiro lugar no Concurso Regional de Café de Viçosa em 2023.

Os produtos do Sítio Pico do Boné são certificados pelo selo Certifica Minas, e a região, com suas condições climáticas e geográficas, contribui para a qualidade superior do café. Além disso, a família oferece aos turistas a oportunidade de conhecer o processo de produção, desde o plantio até a de diferentes tipos de café, acompanhados de pratos típicos preparados no fogão a lenha.

Kátia convida: “Se você vier conhecer o Sítio Pico do Boné, terá uma experiência única. Vamos mostrar como o café é plantado, o seu crescimento, a lavagem, a torrefação e, , a degustação dos nossos cafés, acompanhados de uma comida feita com ingredientes cultivados aqui”.

Fonte: portaldoagronegocio

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