Com a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, obtendo 277 delegados no colégio eleitoral até a manhã de sua confirmação, o agronegócio brasileiro pode enfrentar novas dinâmicas no comércio global. Em sua candidatura, Trump, que tem JD Vance como vice-presidente, promete implementar políticas de corte de impostos, controle da inflação, recuperação da indústria e um endurecimento das relações comerciais com a China e nas questões de imigração. Essas propostas têm o potencial de impactar diretamente o comércio internacional, especialmente no setor agrícola, afetando as relações comerciais com a China.
Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump iniciou uma guerra comercial com a China, impondo tarifas sobre produtos chineses, como eletrônicos da Huawei. Em retaliação, a China aplicou tarifas sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos, incluindo soja, milho e trigo. Este cenário acabou beneficiando o Brasil, que se tornou o principal fornecedor de produtos agrícolas para a China, com um aumento expressivo nas exportações de soja, milho, carne de frango, celulose, açúcar e café. Contudo, a possível reintrodução de tarifas pelos EUA pode afetar negativamente esse comércio. De acordo com um relatório da National Corn Growers Association (NCGA) e da American Soybean Association (ASA), a volta dessas tarifas representaria prejuízos de bilhões de dólares para os produtores americanos.
Entre 2018 e 2019, as perdas nas exportações agrícolas dos EUA para a China superaram US$ 27 bilhões, com 95% desse montante devido às tarifas chinesas. Se a China voltar a aplicar tarifas sobre os produtos agrícolas dos EUA, as perdas poderão ser ainda maiores, impactando diretamente a soja e o milho, o que exigiria que o Brasil ampliasse suas exportações para atender à demanda chinesa. Isso, por sua vez, pressionaria o setor agrícola brasileiro. Em relação ao agronegócio, Trump afirmou que o setor será tratado da mesma forma que outros, sem intervenções diretas, mas com a reformulação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o que poderia limitar políticas agrícolas vigentes.
Na última segunda-feira, a TF Agroeconômica analisou os possíveis impactos da vitória de Trump sobre os preços da soja. A resistência técnica nos preços da soja para janeiro de 2025, que se mantém na faixa de US$ 980, pode ser alterada caso Trump reinicie a guerra comercial. Nessa hipótese, os preços em Chicago poderiam cair, enquanto no Brasil os preços da soja poderiam subir. Se não houver novas tarifas, a tendência é que os preços globais recuem.
Adicionalmente, uma possível deportação em massa de imigrantes nos EUA geraria incertezas, especialmente em estados como a Califórnia, que dependem da mão de obra estrangeira para a produção agrícola. Embora essa medida seja complexa e difícil de ser implementada rapidamente, ela pode prejudicar a produção agrícola nos Estados Unidos, afetando toda a cadeia produtiva.
Fonte: portaldoagronegocio