A queda nos preços dos grãos, resultado da elevada oferta global, exerceu pressão sobre o desempenho operacional e financeiro das companhias agrícolas no terceiro trimestre de 2024. No entanto, essa redução ajudou a reduzir os custos e a melhorar as margens dos frigoríficos. Em um cenário de alta de juros, que impactou os custos das empresas brasileiras de maneira geral, os frigoríficos conseguiram reduzir a alavancagem, enquanto as companhias mais afetadas pela baixa nos preços das commodities viram seu índice de endividamento em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) piorar.
Levantamento realizado pelo Valor Data, com 26 empresas do agronegócio — a maioria com ações na B3 — revelou que 15 delas tiveram aumento na alavancagem, enquanto dez registraram queda. A Heringer, empresa de fertilizantes, não teve o índice de alavancagem calculado devido ao EBITDA negativo nos últimos 12 meses.
Todas as companhias de grãos apresentaram piora na alavancagem, com destaque para a BrasilAgro, que registrou um aumento de 1,01 ponto percentual no índice. A FS, produtora de etanol de milho, teve a alavancagem mais elevada, com aumento de 1,83 ponto, atingindo 4,91 vezes. Este resultado é reflexo de um Ebitda que ainda reflete os baixos resultados do ano anterior, mas a queda nos preços dos grãos ajudou a melhorar o Ebitda da FS no último trimestre, que subiu sete vezes, para R$ 169,4 milhões.
Impacto do cenário de oferta elevada
Guilherme Pedroni Palhares, analista sênior do banco Santander, explicou que o cenário de ampla oferta tem levado a preços mais baixos para os grãos, o que tem impactado negativamente a rentabilidade dos produtores. “Esse é o pano de fundo do terceiro trimestre”, comentou.
Entre as empresas de grãos, a SLC se ajustou às margens, especialmente em função da pressão sobre o milho e o caroço de algodão, além da queda de produtividade. A companhia encerrou o trimestre com um recuo de 99% no lucro e aumento de 0,66 ponto na alavancagem, que passou para 2 vezes. A BrasilAgro teve lucro apenas devido à venda de terras, caso contrário, teria registrado prejuízo de R$ 10,5 milhões. A alavancagem da empresa cresceu 1 ponto, atingindo 1,29 vez, devido ao aumento do endividamento e das despesas com juros.
Setor de insumos também sente o impacto
O segmento de insumos também foi impactado pela queda nos preços dos grãos e pelo atraso nas chuvas, o que resultou em adiamento nas compras de sementes, fertilizantes e defensivos pelos produtores. Isso afetou negativamente a receita e o Ebitda de empresas como Heringer, Boa Safra Sementes e Vittia. No caso da Vittia, a queda nas vendas de produtos biológicos teve um impacto ainda maior nas margens. O impacto no Agrogalaxy, que está em recuperação judicial, ainda não pôde ser avaliado, pois a divulgação do balanço foi adiada para 19 de dezembro.
Perspectivas para o quarto trimestre
De acordo com Gabriel Barra, analista do Citi, o desempenho dessas empresas pode melhorar no quarto trimestre, com a retomada das chuvas e o estímulo ao plantio da soja da nova safra. Ele também destacou que o risco de atraso na colheita do milho tem diminuído.
Resultados mais positivos entre frigoríficos e produtores de biodiesel
Em contrapartida, empresas expostas à queda nos custos dos grãos se saíram muito melhor no trimestre, como os frigoríficos e produtores de biodiesel, como a 3tentos. A JBS foi a empresa que conseguiu reduzir sua alavancagem de forma mais significativa. O indicador caiu para 2,24 vezes, menos da metade das 4,84 vezes registradas no ano anterior. Esse resultado positivo refletiu principalmente o aumento do resultado operacional, com o Ebitda da JBS mais do que dobrando, saltando 120,7%, para R$ 11,94 bilhões.
A BRF também foi destaque, mais que dobrando tanto seu Ebitda quanto seu lucro líquido. Com isso, a alavancagem caiu para 0,71 vez, e a empresa anunciou a distribuição de R$ 946 milhões em juros sobre o capital próprio aos acionistas.
Desempenho no setor de bioenergia
No setor de bioenergia, os resultados variaram conforme a estratégia de cada empresa. A Raízen Energia, que reúne os segmentos de açúcar e renováveis da Raízen, viu sua alavancagem aumentar 1,04 ponto, para 3,15 vezes. Apesar do aumento das despesas com juros, que chegaram a cerca de R$ 300 milhões, a empresa teve crescimento na receita e no Ebitda, impulsionado pela estratégia de aumentar as vendas e o volume próprio de açúcar, com margens mais altas.
Já a CerradinhoBio teve uma redução significativa em sua alavancagem, que caiu de 5,01 vezes para 2,96 vezes, após a conclusão de seus investimentos em ampliação da planta de etanol de milho em Maracaju (MS) e uma nova fábrica de açúcar. O aumento nas vendas gerou uma forte geração de caixa.
Expectativas para os próximos trimestres
Gabriel Barra, do Citi, aponta que os próximos trimestres devem trazer melhorias para as empresas de grãos e insumos, com um câmbio mais favorável e a recuperação dos preços da soja. Por outro lado, para as empresas do setor de carne bovina, como apontado por Palhares, do Santander, o terceiro trimestre pode ter sido o último com margens confortáveis, dado o aumento no preço do gado e a expectativa de uma oferta mais restrita de animais com a virada de ciclo da pecuária em 2025.
Fonte: portaldoagronegocio