O estado de São Paulo agora conta com o primeiro frigorífico de jacarés-de-papo-amarelo aprovado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O frigorífico Selvatti, localizado em Porto Feliz, a aproximadamente 120 km da capital paulista, migrou sua inspeção de estadual para federal em novembro, tornando-se o segundo do Brasil a receber o selo de qualidade SIF. Com isso, a empresa amplia sua capacidade de comercialização, que até então era restrita ao mercado paulista, permitindo acesso a novos mercados no território nacional.
O veterinário do Mapa, Luís Felipe Lopes Conceição, é o responsável pela inspeção da carne e das carcaças. Ele foi treinado no frigorífico Caimasul, em Corumbá (MS), o primeiro frigorífico de jacarés a operar com o SIF. Em Porto Feliz, Luís Felipe realiza a inspeção ante mortem, que envolve a avaliação visual dos animais, verificando seu comportamento e saúde, além de realizar exames individuais, se necessário. Também é responsável pela inspeção post mortem, onde verifica, por meio de visualização, palpação e cortes, se a carne está adequada para consumo, conforme as diretrizes do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA).
O veterinário comparou a operação de um frigorífico de jacarés com a de um frigorífico de bovinos, com a diferença de que os jacarés são criados em cativeiro, o que exige uma gestão mais integrada. Para ele, o maior desafio ainda é normatizar alguns procedimentos, sendo o contato com o abatedouro de Corumbá fundamental para o desenvolvimento de boas práticas.
Expansão da Linha de Produtos e Possibilidade de Exportação
Além do abate de jacarés, o frigorífico Selvatti também se destaca pela produção de pescados, como hambúrgueres e linguiças de peixe (pirarucu e tambaqui), com grande demanda no mercado. Em relação aos jacarés, são comercializados cortes como o filé da cauda, filé do lombo e costela temperada, além de uma linha especial de linguiças e hambúrgueres de jacaré, utilizando a gordura do animal. A venda de carcaças inteiras também tem se mostrado promissora, especialmente para churrascarias.
O chef pantaneiro Antonio Albaneze, especializado em pratos à base de jacaré, destacou que a carne do animal, por ser magra, exige um preparo rápido para evitar que fique “emborrachada”. A recomendação é grelhar o filé por dois minutos de cada lado ou prepará-lo rapidamente na churrasqueira. A carne de jacaré é considerada por muitos como tendo uma textura intermediária entre peixe e frango.
Embora a empresa ainda não tenha planos imediatos para exportar a carne de jacaré, devido à alta demanda do mercado interno, há possibilidade de mudança nesse cenário com o aumento da produção e a expansão dos criatórios.
Desafios e Cuidados na Criação e Manejo dos Jacarés
O criatório Caiman, responsável pela produção de jacarés-de-papo-amarelo, foi adquirido pelos atuais proprietários com o objetivo de expandir a criação. A escolha dessa espécie se deve ao fato de ser a única autorizada para criação e comercialização no estado de São Paulo, por ser uma espécie endêmica da região.
A reprodução é a fase mais delicada do processo, pois exige controle rigoroso de temperatura e umidade na sala de incubação, que hoje é automatizada. Essa fase é crítica, pois a determinação do sexo dos filhotes depende da temperatura em que o embrião se desenvolve dentro do ovo.
O abate dos jacarés ocorre quando os animais atingem mais de 10 quilos de peso vivo, independentemente da idade. O frigorífico Aruman, responsável pelo abate, segue todos os protocolos estabelecidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A atividade do frigorífico gera emprego para cerca de oito pessoas, além dos dois funcionários dedicados ao manejo dos animais. O mercado de peles também tem se mostrado lucrativo, o que contribui para a viabilidade econômica da operação.
Fonte: portaldoagronegocio