O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), ferramenta vital para a vigilância epidemiológica no Brasil, tem enfrentado críticas quanto à precisão na notificação de intoxicações por pesticidas, tanto agudas quanto crônicas. Problemas estruturais e operacionais, como a falta de treinamento específico dos profissionais de saúde e a dependência de notificações manuais, comprometem a confiabilidade dos dados compilados.
Muitos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde carecem de capacitação para identificar os sintomas, especialmente em casos de exposição crônica. A dificuldade em diferenciar exposição (contato com o pesticida) de intoxicação (efeitos prejudiciais à saúde) também contribui para a subnotificação e classificação inadequada dos casos.
Impactos na Vigilância e Políticas Públicas
A lacuna no treinamento e a insuficiência de dados comprometem a análise epidemiológica e a formulação de políticas públicas voltadas à saúde dos trabalhadores rurais. Embora o Brasil registre um aumento nas notificações, isso pode não refletir a realidade, mas sim inconsistências na identificação e registro dos casos.
Em 2023, foram notificadas 703.729 intoxicações exógenas no país, englobando diferentes agentes tóxicos. Os pesticidas figuram como um dos principais causadores, especialmente em exposições ocupacionais e acidentais. O Sudeste concentra cerca de 49,3% das notificações, seguido pelas regiões Nordeste e Sul.
Responsabilidades na Notificação
No Brasil, a notificação de casos de intoxicação por pesticidas é obrigatória para unidades de saúde pública e privada. Diversos profissionais desempenham papéis importantes nesse processo:
- Médicos: São responsáveis pelo diagnóstico, reconhecimento dos sintomas e envio da notificação.
- Enfermeiros: Podem registrar casos identificados em triagens e emergências.
- Farmacêuticos: Notificam interações ou sintomas relacionados a pesticidas em suas áreas de atuação.
- Técnicos de enfermagem: Auxiliam na triagem e coleta inicial de informações.
- Agentes comunitários e assistentes sociais: Identificam casos em visitas domiciliares e ações de campo.
Essa colaboração interdisciplinar é essencial para a vigilância epidemiológica, mas requer maior capacitação e sensibilização.
Deficiências na Formação Acadêmica
Embora cursos como medicina, enfermagem e farmácia incluam disciplinas relacionadas à toxicologia, o enfoque específico em pesticidas é limitado. Essa lacuna na formação resulta em dificuldades para reconhecer e diferenciar casos, impactando diretamente a qualidade das notificações.
Instituições como USP, Fiocruz, UFRJ e UNICAMP oferecem programas que abordam toxicologia, mas especialistas apontam a necessidade de treinamentos adicionais, principalmente para profissionais em regiões rurais, onde o uso de pesticidas é mais intenso.
Estudos e Reflexões
Estudos realizados em municípios do Paraná evidenciam falhas no SINAN, dificultando análises precisas sobre intoxicações. A falta de reconhecimento adequado dos casos gera um panorama distorcido sobre o impacto dos pesticidas na saúde pública.
Esses desafios reforçam a necessidade de fortalecer o treinamento de profissionais e melhorar a infraestrutura do sistema para garantir dados confiáveis, que embasem políticas públicas eficazes e protejam as populações expostas.
Fonte: portaldoagronegocio