Até quinta-feira, cerca de 160 casos da doença haviam sido relatados na temporada de 2022/23 em dez Estados, com os principais índices no Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Mato Grosso, conforme dados do Consórcio Antiferrugem. Uma semana antes, eram 144 relatos contra 88 no mesmo período de 2021/22.
“A ferrugem asiática está, sim, mais incidente do que no ano passado… A chuva favorece o ambiente para replicação de fungos então, de fato, estamos notando mais necessidade de tratos culturais com fungicidas”, disse o diretor da consultoria Pátria AgroNegócios, Matheus Pereira.
Segundo ele, áreas que no passado teriam até três aplicações de fungicidas, “nesse ano dificilmente conseguirão aplicar menos do que quatro”.
Nas lavouras atingidas pela ferrugem, que é a mais grave das doenças fúngicas, não há expectativa de grande quebra para esta safra devido ao estágio em que as plantas se encontram, em sua maioria em enchimento de grãos, e ao aumento de aplicações de fungicidas.
As chuvas e o calor que favorecem o fungo, por outro lado, têm beneficiado o desenvolvimento das lavouras do país, que deve ter uma colheita recorde. Desta forma, o principal impacto é, de fato, no bolso do produtor rural com os custos para controle.
Pereira calcula que uma nova aplicação de fungicida aumenta o custo com químicos em torno de 8% nesta safra. Desta forma, a despesa total do agricultor com insumos (semente + fertilizante + defensivo) deve ter um incremento adicional de 3,4%.
O especialista destacou, no entanto, que a safra de 2022/23 –estimada pelo governo federal em recorde de 152,7 milhões de toneladas– já era a mais custosa da história do maior produtor e exportador da oleaginosa.
“No Centro-Oeste em 2022/23, o custo de insumos (apenas sementes, defensivos e fertilizantes), sem elencar o custo com a aplicação, foi em média de 4,300 reais por hectare, alta de 28% em relação a 2021/22”, afirmou sobre a despesa inicial do agricultor, antes do avanço da ferrugem e demais doenças.
A guerra entre Rússia e Ucrânia teve importante contribuição nas despesas maiores desta safra, pois elevou no ano passado os preços dos fertilizantes no primeiro semestre, momento em que os agricultores faziam aquisições para o plantio de 2022/23.
Outras doenças causadas por fungos também vêm sendo registradas nas lavouras de soja, acrescentou a pesquisadora da embrapa Soja Cláudia Godoy.
Segundo ela, nas regiões do Cerrado, por exemplo, onde vem ocorrendo boa distribuição de chuvas, observa-se alta incidência da doença mancha-alvo.
Além disso, na região Sul, há relatos de mofo-branco nas regiões mais altas com temperaturas mais amenas e, em períodos de menor precipitação, a presença do conjunto de fungos oídio.
REGIÕES AFETADAS
Ana Paula Kowalski, técnica do departamento técnico e econômico do sistema Faep/Senar-PR, disse que havia uma expectativa de avanço para a ferrugem nesta safra, pois a seca ocorrida no Sul em 2021/22 reduziu as estatísticas da doença naquela temporada.
“No ano passado, os produtores fizeram de uma a duas aplicações de fungicidas no máximo, ou até nenhuma, porque eram menos esporos da doença… agora, a tendência é de três a quatro aplicações, para condições médias a severas da doença”, afirmou.
Ela ainda disse que na região de Londrina (PR), por exemplo, o custo com aplicação de fungicida era de 215,91 reais por hectares no ciclo anterior, quando a demanda era menor, e passou para o intervalo entre 300 e 400 reais por hectare na safra atual. O Paraná aparece como líder nos casos de ferrugem de 2022/23, com 56 relatos citados pelo Consórcio Antiferrugem.
De Mato Grosso do Sul, terceiro no ranking de casos da doença, o presidente da associação Aprosoja-MS, André Dobashi, disse que a ferrugem está estabelecida no Estado nesta temporada, porém na maior parte das ocorrências a soja está em estágios mais avançados de desenvolvimento.
“Em 18 de 24 casos, a soja está praticamente fechando ciclo, mas não é hora de relaxar os protocolos de manejo de pragas porque mesmo em R6 (fase de pleno enchimento de grão) causa prejuízos para o produtor”, afirmou à Reuters.
O vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber, disse que apesar da ferrugem ser um problema grave para a soja, ela deixou de causar grandes danos no maior Estado produtor da cultura, pois os agricultores têm “feito o dever de casa”, com aplicações preventivas de agroquímicos, alternância de princípios ativos e uso de fungicidas multissítios, que possuem capacidade de controle de vários patógenos.
Fonte: portaldoagronegocio