As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, aliadas à Medida Provisória (MP) 1224/2024, que autoriza a importação de arroz beneficiado, estão causando impactos significativos no mercado agropecuário brasileiro. Com o Rio Grande do Sul representando quase 70% da safra nacional de 2023/24, a segurança da oferta interna do grão tornou-se uma preocupação central, gerando incertezas sobre a disponibilidade de arroz no mercado interno.
De acordo com um levantamento realizado em maio pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), grande parte da safra de arroz no Rio Grande do Sul já havia sido colhida antes das enchentes, minimizando o impacto imediato na oferta. Contudo, a Conab registrou aumentos significativos nos preços do grão em várias regiões do país: 14,24% no RS, 9,44% em SC, 13,04% no tocantins, 5% no MT e 11,71% no atacado em São Paulo.
Este aumento acende um alerta quanto à variação nos preços nos próximos meses, especialmente com o período de plantio do cereal se iniciando em setembro. “A nossa dependência do RS para o abastecimento de arroz é enorme, e qualquer evento climático adverso pode causar variações significativas nos preços”, comenta Isadora Araújo, economista da GEP COSTDRIVERS, plataforma líder no Brasil em inteligência, análise e projeção de dados.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) indicam que a média nacional do preço do arroz em junho já chegou a 4,04%. A principal preocupação agora é com a safra 2024/25, uma vez que o desastre natural pode atrasar o plantio e afetar a produção futura, gerando incertezas que podem manter os preços elevados até a confirmação das condições da nova safra.
“Embora o impacto numérico sobre a próxima safra de arroz ainda seja incerto, ele poderá ser melhor mensurado a partir de setembro. O que é possível afirmar é que esse risco leva a uma maior margem de aumento de preços pelos produtores, ainda mais considerando a recente estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a produção e exportação mundial no próximo ano”, afirma Isadora Araújo.
Para combater a especulação e estabilizar o mercado, o governo federal promulgou a MP 1224/2024, autorizando a Conab a importar até 1 milhão de toneladas de arroz beneficiado, com um investimento de R$ 7,2 bilhões. Esta medida representa 8,19% da demanda total de arroz do Brasil, estimada em 12,20 milhões de toneladas, e visa controlar a flutuação dos preços e proporcionar estabilidade durante o período de incerteza, sem competir com os produtores brasileiros.
Ainda em 2024, espera-se que os preços continuem a subir devido a uma combinação de fatores internos e externos, com uma projeção de aumento anual de 23,41%. A estabilidade dependerá de como o governo e os produtores enfrentarão os desafios climáticos e econômicos nos próximos anos. “A tendência de aumento dos preços deve persistir no próximo ano, impulsionada pela insegurança sobre a próxima safra no RS, a situação das exportações mundiais e as condições macroeconômicas globais. A continuidade ou ampliação das medidas de importação pelo governo será crucial para mitigar os impactos no mercado interno”, conclui Isadora.
Fonte: portaldoagronegocio