O Banco Central avaliou, nesta terça-feira (17), que a recente disparada do dólar — cuja cotação ultrapassou R$ 6 — e as percepções do mercado em relação ao pacote fiscal anunciado pelo governo foram fatores decisivos para a necessidade de um aumento nos juros. A conclusão está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa Selic pela terceira vez consecutiva, agora para 12,25% ao ano, com alta de um ponto percentual.
De acordo com o documento, a decisão foi motivada pela “deterioração adicional” do cenário inflacionário, com a alta do dólar, pressões sobre os preços de ativos e expectativas mais negativas em relação à inflação. O BC também sinalizou que novos aumentos nos juros podem ocorrer no início de 2025, reforçando um quadro de aperto monetário.
Intervenção cambial não contém alta do dólar
Na segunda-feira (16), o Banco Central interveio no mercado cambial por meio de vendas diretas de dólares — no valor de US$ 1,6 bilhão — e de leilões de linha, uma modalidade de empréstimo de moeda estrangeira, totalizando US$ 3 bilhões. Apesar da ação, a taxa de câmbio fechou o dia em R$ 6,09, atingindo um novo recorde.
Pacote fiscal gera tensão no mercado
O pacote fiscal do governo, embora tenha previsto cortes de gastos, incluiu medidas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) para rendas de até R$ 5 mil. Segundo analistas, a proposta beneficia cerca de 32% dos trabalhadores que ganham acima de dois salários mínimos, o que gerou reação negativa no mercado financeiro.
O BC pontuou que o aumento das expectativas de risco e da taxa de câmbio foi resultado direto da percepção dos agentes econômicos em relação à proposta fiscal, destacando o impacto na inflação e nos juros futuros.
Busca por previsibilidade fiscal e monetária
Na ata, o Copom enviou um recado à equipe econômica do governo, reforçando a necessidade de uma política fiscal “previsível, crível e anticíclica”. O BC reiterou que políticas de gastos devem ser harmônicas com a política monetária para evitar pressões adicionais sobre os juros. A alta de gastos, segundo o comitê, eleva a necessidade de ajustes na Selic, prejudicando a desinflação.
O Copom também alertou que fatores como o abandono de reformas estruturais, aumento de crédito direcionado e incertezas fiscais podem elevar a taxa de juros neutra da economia, aumentando os custos da política monetária para conter a inflação.
Cenário externo e atividade econômica
O Banco Central apontou que o ambiente externo permanece desafiador, com destaque para a política monetária dos Estados Unidos e as incertezas sobre os efeitos de medidas protecionistas. No cenário doméstico, a atividade econômica e o mercado de trabalho mantêm dinamismo, mas já há indícios de desaceleração devido às condições financeiras mais restritivas.
Diante desse quadro, o BC afirmou que os riscos inflacionários se materializaram, tornando o cenário mais adverso. A resiliência da inflação de serviços, a desancoragem das expectativas e a depreciação cambial estão entre os principais fatores de preocupação.
Metas de inflação e projeções do mercado
No sistema de metas de inflação, o BC mira os preços futuros, pois os efeitos da Selic demoram entre seis e 18 meses para se materializar. As projeções de inflação do mercado são de 4,89% para 2024 e 4,60% para 2025, ambas acima do teto da meta, que é de 4,5%. Para 2026, a expectativa é de 4%.
Por fim, o Copom enfatizou que o cenário demanda cautela e novas elevações da taxa básica de juros, visando o cumprimento das metas de inflação nos próximos anos.
Fonte: portaldoagronegocio