O dólar avançava acentuadamente frente ao real na manhã desta terça-feira, acompanhando recuperação da moeda norte-americana no exterior e aumento da cautela de investidores locais às vésperas do feriado de 7 de Setembro, que trará manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Às 10:03 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,01%, a 5,2053 reais na venda, recobrando forças depois de cair por dois pregões consecutivos e ter fechado a última sessão em 5,1533 reais, menor patamar em quase uma semana.
Na B3, às 10:03 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,93%, a 5,2390 reais.
Os ganhos do dólar frente ao real acompanhavam a alta de mais de 0,5% de um índice da divisa norte-americana em relação a uma cesta de rivais de países ricos, que rondava seus níveis mais altos em duas décadas.
Ao mesmo tempo, várias moedas emergentes ou sensíveis às commodities –cujo movimento o real tende a acompanhar– registravam perdas nesta manhã, entre elas peso mexicano, rand sul-africano e dólar australiano.
“Ainda vejo sinais de fragilidade nos mercados em meio a um ambiente econômico desafiador e sem sinais de melhora na visibilidade”, escreveu Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.
Os ânimos globais têm se deteriorado diante da iminência clara de recessão na Europa, que enfrenta uma crise energética, e riscos econômicos crescentes nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve deve continuar aumentando os juros de forma agressiva, freando o consumo ao encarecer o crédito para famílias e empresas.
Em busca de pistas sobre a saúde da maior economia do mundo, investidores estarão de olho nesta terça-feira na divulgação de indicadores do setor de serviços dos EUA para agosto.
Enquanto isso, “as comemorações do Bicentenário da Independência deverão dominar o cenário nos próximos dias no Brasil”, disse em relatório a Genial Investimentos.
A menos de um mês do primeiro turno das eleições, Bolsonaro busca demonstrar força ao mesclar convocatórias de campanha com eventos civis e militares marcados para o 7 de Setembro em Brasília e no Rio de Janeiro, enquanto a cúpula do Judiciário, provável alvo das manifestações, se prepara para a contenção de excessos nos discursos e atos contra as instituições com reforço de segurança.
Investidores devem monitorar os atos com cautela, de olho em qualquer escalada significativa nas tensões políticas locais.
Ainda no âmbito local, participantes do mercado digeriam comentários feitos na noite de segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele disse que a autarquia não pensa em queda de juros neste momento, e sim em “finalizar o trabalho”, fazendo a inflação convergir para as metas.
Sua fala foi interpretada como mais “hawkish” (agressiva na conduta da política monetária) do que as comunicações recentes do BC, e, nesta terça-feira, as taxas dos principais DIs subiam acentuadamente –de 14 a 20 pontos-base– na curva abrangendo janeiro de 2024 a janeiro de 2027.
A taxa Selic está atualmente em 13,75%.