A mudança reflete as interferências do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, na política que incentiva a produção de biocombustíveis.
Uma foi a prorrogação do prazo para que as distribuidoras de combustíveis comprovem o cumprimento das metas anuais de descarbonização — para a meta de 2022, a data foi adiada para 30 de setembro e, para os anos seguintes, para 31 de março. Antes, era até 31 de dezembro de cada ano.
Outra, a redução da meta de 2023 — caiu de 42,35 milhões de CBIOs para 37,47 milhões de títulos. Cada crédito equivale a uma tonelada de carbono. É emitido por produtores de biocombustíveis que comprovam a descarbonização da sua produção.
Os analistas da hEDGEpoint observam que o novo prazo para comprovação de metas levou a uma quebra de sazonalidade no volume negociado e aposentado na comparação com valores de 2021.
O volume negociado ficou abaixo da média do ano em novembro e dezembro de 2022 — meses que, normalmente, têm negociação acima da média.
“[Com a prorrogação para 30 de setembro de 2023], também é possível que vejamos uma mudança no padrão do mercado nos dois meses que antecedem a data”, diz Yuri Renni, analista sênior de Inteligência de Mercado de Energia Renovável.
Ele acredita ser mais provável que os distribuidores comprem e aposentem CBIOs neste período, levando a uma tendência de alta para o terceiro trimestre, em contraste com os dois primeiros trimestres, quando mais CBIOs devem estar disponíveis no mercado.
No ano passado, a emissão dos créditos do Renovabio alcançou 31,4 milhões, de acordo com a ANP, 2% acima das emissões de 2021 e 13% abaixo da meta de 35,98 milhões de CBIOs para 2022.
Somando os estoques, havia 41,9 milhões de títulos disponíveis em 2022, superando a meta de 2022 em 5,92 milhões.
Dados da B3 (onde os créditos são comercializados) mostram que o ativo começou 2023 ao preço médio de R$ 85,01 e vem valorizando desde então. Na quarta (8/2) era cotado a R$ 97,16.
A revisão da meta para baixo também deve ajudar as distribuidoras a cumprir a obrigação de compra. De acordo com o especialista, os estoques de créditos no início de 2023 representam quase 16% da meta do ano.
Além disso, o desenvolvimento do mercado futuro de CBIO poderá reduzir a oscilação de preços, completa Renni, ao permitir que as instituições financeiras que negociam diretamente com emissores primários e compradores sejam identificáveis.
Incertezas políticas
Embora o novo governo tenha sinalizado preocupação com “as constantes mudanças de políticas do setor”, ainda não está claro qual será o rumo escolhido para os biocombustíveis.
Um dos motivos é que o próprio Ministério de Minas e Energia (MME) só definiu seus primeiros secretários hoje. Outro, é a política de preços dos combustíveis.
Segundo análises da hEDGEpoint, uma possível intervenção na metodologia de precificação de combustíveis também traz preocupações, pois poderia reduzir artificialmente a paridade entre o etanol e o açúcar. O que levaria os usineiros a priorizar o adoçante.
“CBIOs são altamente dependentes da produção de biocombustíveis, principalmente etanol. Em 2022, 85% dos CBIOs vieram da produção de etanol. Assim, qualquer interferência de preço dessa natureza, causando redução na produção de etanol, significaria necessariamente uma redução nos CBIOs emitidos”, explica o relatório da consultoria.
Fonte: portaldoagronegocio