O mercado brasileiro de feijão carioca enfrentou uma semana de pouca liquidez, caracterizada por uma demanda fraca e preços em queda. De acordo com o analista e consultor da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, a escassez de negócios foi resultado de uma postura cautelosa adotada pelos compradores, que reagiram às recentes retrações nos preços. Mesmo os lotes de melhor qualidade, como o padrão 9,5, apresentaram queda para R$ 270 por saca (sc), enquanto os lotes de padrão 9 chegaram a ter pedidos de até R$ 255/sc, sem, contudo, serem concretizados.
A oferta de feijão esteve concentrada principalmente em Minas Gerais e São Paulo, com Goiás e Paraná apresentando menor contribuição. Feijões provenientes de Goiás, valorizados pela baixa umidade, foram os mais procurados, enquanto os recém-colhidos do Paraná apresentaram qualidade inferior. A maior disponibilidade de grãos em Itapeva (SP) pressionou ainda mais os preços para baixo.
Desafios de qualidade e aproximação da nova safra
No meio da semana, a oferta foi dominada por feijões comerciais com defeitos causados pelas chuvas, o que afastou os compradores, mesmo com a oferta de descontos. Lotes extras de Minas Gerais e Goiás continuaram sendo preferidos, mas seus preços elevados limitaram a competitividade em São Paulo. Segundo Oliveira, o ritmo lento de vendas reflete a aproximação da nova safra, o que mantém a tendência de queda nos preços. No entanto, a oferta restrita pode aliviar parte dessa pressão nas semanas seguintes.
Ao final da semana, a qualidade dos lotes permaneceu como o principal obstáculo para a concretização dos negócios. Sem feijão de qualidade extra disponível, o interesse dos compradores foi mínimo. Além disso, o foco sazonal do varejo e atacado migrou para outros produtos, como lentilhas, que são tradicionais nas festas de fim de ano. “Produtores resistem a oferecer grandes descontos, enquanto compradores evitam subir suas ofertas”, explicou o consultor. O mercado também apresentou estoques baixos entre empacotadores, o que deve intensificar as compras durante o pico da colheita da primeira safra.
Mercado do feijão preto segue tendência semelhante
Assim como o feijão carioca, o mercado do feijão preto também apresentou baixa liquidez na semana. No início do período, os feijões de melhor qualidade tiveram pedidos máximos de R$ 280/sc, mas as transações ocorreram entre R$ 270 e R$ 275/sc. Na Zona Cerealista de São Paulo, feijões de boa qualidade foram ofertados até R$ 260/sc, mas a demanda permaneceu restrita, focada apenas em necessidades pontuais.
A pressão para a queda nos preços continuou ao longo da semana, impulsionada pela alta oferta e pela falta de uma demanda consistente. A chegada dos feijões da primeira colheita no Rio Grande do Sul e Paraná aumentou ainda mais a disponibilidade, reforçando a tendência de queda nos preços.
Exportações se destacam como alternativa para escoamento
Diante da estagnação das vendas internas, as exportações se consolidaram como a principal via para escoar a produção de feijão, especialmente com a valorização recente do dólar, que superou a marca histórica de R$ 6,00. Esse cenário cambial favorece a competitividade do feijão brasileiro no mercado internacional. O analista destaca que o câmbio atual cria um ambiente mais propício para a comercialização externa, ampliando as oportunidades para os produtores brasileiros e reduzindo a necessidade de importação do grão.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), na temporada comercial 2024/25, as exportações de feijão superaram as importações em mais de oito vezes. O Brasil exportou 277,91 mil toneladas, gerando receitas de US$ 268,18 milhões, enquanto as importações somaram 33,06 mil toneladas, com gastos de US$ 28,88 milhões. O saldo comercial positivo reflete a boa demanda externa, especialmente de países como Índia, Venezuela e México.
Fonte: portaldoagronegocio