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Agronegócio

Centro de pesquisas pós-colheita e segurança alimentar: Como alcançar o sucesso?

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A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ) é o único centro de pesquisa da Embrapa voltado exclusivamente para atividades de pesquisa pós-colheita, com foco em qualidade e segurança de alimentos. A Unidade tem como objetivo o desenvolvimento de tecnologias para agregar valor a produtos, o que permite maior competitividade e sustentabilidade ao segmento agroindustrial. 

“Essas características a tornam parceira natural de outras Unidades da Embrapa, além de instituições de Pesquisa e Desenvolvimento, em projetos que envolvem a diversificação de uso e otimização do aproveitamento de matérias-primas agropecuárias, além de desenvolver técnicas de processamento que permitam a ampliação do período de consumo e/ou comercialização para a garantia da segurança e a qualidade dos produtos”, explica a pesquisadora e chefe-geral do centro de pesquisa, Edna Oliveira. 

A chefe-geral destaca que o fato de estar situada no segundo maior mercado consumidor do Brasil, o Rio de Janeiro, resulta no fortalecimento das atividades desenvolvidas pela Embrapa Agroindústria de Alimentos. “O mercado consumidor demanda produtos com qualidade sensorial, nutricional e segurança adequados. Nesse sentido, a Unidade se destaca como referência no desenvolvimento e/ou aprimoramento de processos e/ou tecnologias que resultem em produtos diferenciados para diferentes públicos-alvo”, diz. 

Outro ponto forte da trajetória da Unidade é a elaboração de subsídios para formulação de políticas públicas que impactam não somente o setor agroindustrial como também a segurança alimentar e combate à desnutrição da população – neste caminho estão as pesquisas com adição de ferro e de ácido fólico nas farinhas e todo o trabalho da rede de biofortificação de alimentos. 

Breve histórico

Em 1971, a partir da fusão dos Institutos de Tecnologia de Óleos, de Tecnologia de Bebidas e Fermentações e de Tecnologia Alimentar – três instituições com longa tradição em pesquisa no Rio de Janeiro – foi criado o Centro de Tecnologia Agrícola e Alimentar (CTAA), subordinado ao Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuárias (DNPEA) do Ministério da Agricultura. Em 1973, com a criação da Embrapa, o CTAA foi incorporado à sua estrutura como uma das unidades de pesquisa, exercendo atividades de âmbito nacional.

O pesquisador Esdras Sundfeld, que atuou por longo período como chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroindústria de Alimentos, conta que, em março de 1980, o CTAA assumiu a coordenação e a execução do Programa Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos (PNPTAA). “Assim, deixou de ser um centro focado em química de produtos agrícolas para ser um centro gerador de tecnologia de alimentos, cujo segmento econômico-social visado é a agroindústria de alimentos, compreendendo a transformação, conservação e o processamento da produção agropecuária”, explica.     

Em 1984, a Unidade foi transferida do Jardim Botânico para novas instalações construídas no bairro de Guaratiba, zona Oeste do Rio de Janeiro, e teve o nome alterado para Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos, mantendo-se a sigla CTAA. Ao final da década de 1990, com a implantação da Política de Comunicação da Embrapa, passou a adotar o nome-síntese de Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Contribuições para segurança e qualidade de alimentos

Segundo Esdras, nas últimas quatro décadas foi notável a expansão do sistema agroindustrial de alimentos brasileiro, com indiscutíveis avanços na diversificação da oferta de produtos, agregação de valor, segurança e qualidade dos alimentos.

Algumas soluções tecnológicas de destaque recente são os produtos vegetais Amazonika Burger, Siriju, Kafta Amazonika e Tirinha Amazonika, desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria de Alimentos em parceria com a empresa Amazonika Mundi, de Niterói (RJ), que representam um case de sucesso de um dos primeiros projetos de inovação aberta da Unidade. Os produtos têm textura, sabor e aparência similares aos alimentos de origem animal. Na composição, um dos ingredientes é a fibra de caju tratada, com características neutras de sabor e odor, desenvolvida por pesquisas da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE). Burger, Siriju (bolinho com sabor parecido a siri) e Kafta já podem ser comprados em mercados de vários estados brasileiros. A Tirinha Amazonika foi lançada em 2023 junto à comemoração dos 50 anos da Embrapa e a previsão é que, a partir de junho, também esteja à venda em supermercados. 

Uma solução de elevado impacto da Unidade foi o desenvolvimento e a incorporação ao setor produtivo, nas décadas de 1980 e 1990, das tecnologias de farinhas mistas: processos de substituição parcial de farinha de trigo por farinhas sucedâneas (milho, soja, sorgo, mandioca, arroz e aveia) na elaboração de produtos alimentícios (pães, bolos, biscoitos, macarrão), com importante redução dos gastos do governo com a importação e o subsídio ao consumo de trigo. 

Outra contribuição expressiva, de meados dos anos 2000, foi a implementação do programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) para Agroindústria Familiar, visando assegurar a qualidade e segurança na produção de alimentos de pequenas agroindústrias. “Foram realizadas capacitações de técnicos multiplicadores e elaboradas informações técnico-operacionais para implementação de BPF por processadores de alimentos, principalmente as pequenas agroindústrias, cumprindo requisitos da vigilância sanitária e evitando a ocorrência de perigos físicos, químicos e biológicos nos alimentos para os consumidores”, informa Esdras.

O pesquisador conta que, no início dos anos 2000, foi dada uma contribuição importante para a implementação de política pública quando a Unidade validou tecnicamente a implementação e garantia de qualidade do processo de fortificação, em escala industrial, de farinhas de trigo e de milho com ferro, em moinhos de diversas escalas de produção e regiões do país, numa iniciativa apoiada pelo Ministério da Saúde (MS), pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e pela Micronutrient Initiative (MI). “O sucesso do processo levou o MS a tornar obrigatória a adição de ácido fólico juntamente com ferro, contribuindo para redução da ocorrência de anemia ferropriva, uma carência nutricional relevante no Brasil e no mundo, pela ingestão das farinhas fortificadas”, diz.

O Programa de Biofortificação de Alimentos, com as pesquisas iniciadas no Brasil em 2002, é hoje uma opção sustentável para a produção de alimentos básicos mais nutritivos.  No Brasil, a Embrapa lidera a rede de Biofortificação, que nos últimos 20 anos liberou 14 cultivares com maiores teores de ferro, zinco ou provitamina A como, por exemplo, batata doce CIP BRS NUTI e milho BRS 4104 com maiores teores de carotenoides; feijão comum FC409 com maiores teores de ferro; feijão caupi BRS Arace e BRs Tumucumaque com maiores teores de ferro e zinco.

Os projetos liderados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos refletem sua missão institucional, com atuação focada em qualidade e segurança de alimentos. De acordo com Edna Oliveira, as ações da Unidade durante a última década tiveram como objetivos principais promover o avanço de conhecimentos e soluções tecnológicas com foco na ampliação das contribuições da pesquisa agropecuária para a integração entre alimento, nutrição e saúde; desenvolver conhecimentos e tecnologias para o adequado manejo e aproveitamento sustentável dos biomas brasileiros, além de ampliar a base de conhecimentos e a geração de ativos que acelerem o desenvolvimento e a incorporação aos sistemas agroalimentares e agroindustriais de soluções avançadas baseadas em ciências e tecnologias emergentes. “Com isso, contribuímos para diferentes eixos de impacto tais como avanços na busca da sustentabilidade, inserção produtiva e redução da pobreza, inserção estratégica e competitiva na bioeconomia, e contribuição para mercados, políticas públicas e desenvolvimento rural”, explica.

Exemplos de resultados obtidos pela Unidade e instituições parceiras nas últimas décadas incluem produtos alimentares com diferenciais de qualidade, saudabilidade e apelo funcional; processos inovadores para industrialização de alimentos; tecnologias para agregação de valor a produtos da biodiversidade de vários biomas; estratégias para redução de perdas pós-colheita e aproveitamento de resíduos agroindustriais; metodologias avançadas para análise sensorial e estudos do consumidor; métodos de análise para avaliação da qualidade e segurança de matérias-primas e alimentos processados.

Atuais desafios tecnológicos
  • Ampliar a oferta de produtos alimentícios que atendam aos requisitos de conveniência, praticidade, sensorialidade e saudabilidade dos consumidores.
  • Promover técnicas rápidas para detecção e prevenção de contaminantes químicos e biológicos em alimentos;
  • Reduzir perdas nas cadeias produtivas de alimentos provocadas por práticas de pós-colheita e processamento inadequadas;
  • Mitigar riscos de contaminantes biológicos, químicos e físicos associados ao consumo de alimentos relevantes para a saúde pública e barreiras técnicas ao comércio; 
  • Agregar valor às matérias-primas agroalimentares por meio de agroindustrialização, rastreabilidade, indicações geográficas, marcas coletivas e/ou certificações nas cadeias produtivas;
  • Viabilizar a oferta de novos alimentos para consumidores com necessidades especiais (hipertensos, diabéticos, obesos, celíacos e/ou alérgicos);
  • Viabilizar a produção de alimentos de origem vegetal com características equivalentes aos derivados de proteína animal (“plant-based foods”);

No futuro, a Embrapa Agroindústria de Alimentos continuará cumprindo sua missão de viabilizar soluções tecnológicas para a sustentabilidade da agroindústria de alimentos, atendendo às exigências dos consumidores por qualidade e segurança.

Fonte: portaldoagronegocio

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