O minério de ferro, que historicamente é o principal produto transportado por trilhos no país, ainda respondeu por 67% do total. Porém, trata-se da menor participação do setor desde o início da série histórica, segundo a ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários). Em 2021, a fatia havia sido de 70%.
A queda reflete, de um lado, a retração no transporte de minério de ferro, que caiu 5% no ano passado, para 248,5 bilhões de TKU (tonelada por km útil), principalmente devido à menor demanda na China e à queda de preços do produto no mercado global. De outro lado, a carga geral — que inclui produtos agrícolas, celulose, combustíveis, entre outros — avançou 11,7%, para 122,5 bilhões de TKU, em 2022.
No balanço geral do ano passado, o volume transportado por ferrovias permaneceu estável, com queda de 0,1% na comparação com 2021, apontou a ANTF.
A perda de participação do minério de ferro em 2022 é fruto de oscilações naturais da commodity, porém, o setor de ferrovias vê o avanço da carga geral como uma tendência de longo prazo, inclusive impulsionado pelos novos projetos em desenvolvimento, segundo Fernando Paes, diretor-executivo da associação.
“A participação do minério de ferro sempre será gigantesca, porque são volumes grandes. Mas há um claro avanço das commodities agrícolas, da celulose, do açúcar na participação nas ferrovias. Esse movimento vai se acentuar com os novos projetos, como o início da operação do trecho central da Norte-Sul, a expansão da Malha Norte no Mato Grosso, a construção da Fico [Ferrovia de Integração Centro-Oeste] e as renovações antecipadas da Rumo e da MRS “, afirma Paes.
No balanço de 2022, em carga geral, o principal aumento se deu na movimentação de milho, que somou 26,7 bilhões de TKU, uma alta de 69% na comparação com o ano anterior, em que houve quebra da safra. No transporte de soja e farelo, houve aumento de 3%, para 46,3 bilhões de TKU.
O transporte de celulose cresceu 26%, alcançando 5,5 bilhões de TKU, impulsionado por novos projetos e plantas fabris do setor. Já o fluxo de combustíveis e derivados avançou 6% nas ferrovias, chegando a 8 bilhões de TKU. Segundo a ANTF, a alta se deu por investimentos em segurança, que levaram à reativação de trechos. Em contêineres, o aumento foi de 4%, para 4,3 bilhões de TKU.
Em relação às perspectivas para 2023, Paes avalia que ainda é cedo para uma estimativa, que dependerá de vários fatores, como a própria economia do país.
Em termos de novos projetos, a projeção para os próximos anos é de continuidade. A expectativa é que haja o avanço das obras da Fico e da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste Leste), para que os novos trechos sejam licitados.
Além disso, a ANTF prevê que as renovações antecipadas seguirão em pauta. Os dois projetos mais avançados para a renovação são a FCA (Ferrovia Centro Atlântica), da VLI, e a Malha Sul, da Rumo. Paes avalia que também poderão entrar na lista a FTC (Ferrovia Tereza Cristina), que hoje depende do transporte de carvão no Sul do país, e a ferrovia transnordestina logística, da CSN.
Já em relação aos projetos de autorização — um novo modelo criado por lei, no governo passado -, ele avalia que vias de pequeno porte e com estrutura já existente (possivelmente fruto da devolução de trechos que não gera interesse às grandes operadoras) poderão sair do papel nos próximos anos. “Trechos menores e ´brownfield´ saem na frente, porque parecem ter mais viabilidade. Para ferrovias estruturantes, dificilmente o setor privado assumirá todos os riscos. Podemos ver alguns, como a extensão da Malha Norte, mas serão exceção.”
Fonte: portaldoagronegocio