O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, manifestou nesta terça-feira sua preocupação com a desancoragem das expectativas do mercado em relação à inflação, um cenário que, segundo ele, exige atenção redobrada da autoridade monetária. Durante audiência pública conjunta das Comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Campos Neto reiterou o compromisso do Banco Central em seguir atuando de maneira técnica e autônoma para cumprir a meta de inflação.
Segundo Campos Neto, apesar dos avanços no combate à inflação, ainda é necessária uma “perseverança” no trabalho, especialmente diante da elevação nas projeções de mercado para os preços futuros. “Observamos uma desancoragem, ou seja, as expectativas estão subindo. Isso, obviamente, é um fator que preocupa o Banco Central”, declarou o presidente, reforçando a necessidade de manter o foco na meta estabelecida.
Ele também chamou a atenção para a recente alta na inflação acumulada em 12 meses, que atingiu o teto da meta de 4,5%, destacando que itens menos voláteis começam a apresentar sinais de elevação. As expectativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) situam-se em 3,97% para 2025 e 3,60% para 2026, conforme o boletim Focus, enquanto as projeções do Banco Central também indicam uma inflação acima do centro da meta de 3%.
Na audiência, Campos Neto comentou sobre o contexto atual da economia brasileira, destacando que a taxa de juros neutra — que não estimula nem retrai a economia — é atualmente de 5%, um patamar superior ao considerado anteriormente pelo Banco Central, que trabalha com uma taxa real neutra de 4,75%. Esse aumento foi ajustado em junho, quando a taxa foi elevada em 0,25 ponto percentual.
Sobre a situação fiscal do país, o presidente do Banco Central observou que, apesar dos esforços do governo, o mercado mantém expectativas pessimistas quanto ao cumprimento das metas fiscais nos próximos anos. Essa percepção, segundo ele, adiciona um prêmio de risco ao Brasil, dificultando o processo de convergência da inflação para a meta. Campos Neto enfatizou que a desorganização das contas públicas torna o custo de estabilização dos preços mais elevado, especialmente se houver desacordos em relação aos compromissos fiscais e monetários do país.
Fonte: portaldoagronegocio