O mercado internacional de café experimentou uma semana marcada por intensa volatilidade, impulsionada por preocupações climáticas no Brasil e pelo cenário financeiro global. O clima seco no cinturão cafeeiro brasileiro, combinado com a previsão de uma nova massa de ar polar para o início da próxima semana, levou a uma alta nas cotações tanto do café arábica na Bolsa de Nova York quanto do robusta na Bolsa de Londres.
Gil Barabach, consultor da Safras & Mercado, destaca que essas condições climáticas adversas têm gerado apreensão, o que elevou os preços do café na bolsa de Nova York. Em meio à incerteza climática, a cotação do contrato para dezembro de 2024 atingiu 253 centavos de dólar por libra-peso, o maior valor registrado desde fevereiro de 2022. Contudo, Barabach explica que o mercado acabou devolvendo parte desses ganhos, estabilizando-se abaixo da linha dos 250 centavos.
“Sinais de sobrecompra provocaram uma correção técnica, e a adoção de uma estratégia de compra mais conservadora contribuiu para esse ajuste negativo. Grandes indústrias globais têm enfrentado dificuldades em absorver e repassar os aumentos nos custos do café”, analisa Barabach.
Além das incertezas na produção, a turbulência financeira global também tem influenciado os preços do café, aumentando a volatilidade no mercado. “Há uma expectativa crescente de que o Federal Reserve (Fed) iniciará um ciclo de redução de juros na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em setembro. A divulgação da ata da última reunião do Fed reforçou essa percepção”, comenta o consultor. Diante dessa possibilidade, o mercado já começa a reagir, com o dólar se valorizando frente a moedas emergentes, embora continue desvalorizado em relação às moedas fortes, como o iene, o euro e a libra.
Barabach ressalta que as mudanças na política monetária dos Estados Unidos afetam os preços e o equilíbrio dos ativos globais, alterando os fluxos financeiros. “Esses movimentos impactam diretamente o preço das commodities e as taxas de câmbio, afetando o valor do café recebido pelos produtores”, observa.
A oferta de café segue restrita, refletindo uma redução na produção de robusta e indicando que a próxima colheita no Vietnã também será limitada, assim como a anterior. “No Brasil, uma safra abaixo do esperado intensifica a escassez na oferta, favorecendo o aumento do preço de equilíbrio global do café. No entanto, o robusta já atingiu o maior nível em 16 anos, e o arábica também está bastante valorizado, refletindo esse cenário de oferta apertada”, analisa Barabach.
Por outro lado, ele pondera que a demanda, que anteriormente estava em alta, começou a desacelerar. Os estoques baixos foram recompostos, e na União Europeia as compras ultrapassaram o necessário, aumentando as reservas de proteção contra possíveis impactos do novo regulamento EUDR (European Union Deforestation-Free Regulation), que exige produtos isentos de desmatamento. “O mercado encontra suporte na oferta limitada e nas preocupações em relação à próxima safra brasileira, mas enfrenta dificuldades para avançar devido às cotações já elevadas e à postura mais cautelosa da demanda nesse patamar de preço. Nesse contexto, o mercado busca uma acomodação, tentando consolidar o intervalo entre 230 e 250 centavos, enquanto aguarda uma definição financeira e sinais mais claros sobre a próxima safra brasileira”, conclui o consultor.
Fonte: portaldoagronegocio