No dia 1º de dezembro de 2024, o Brasil iniciará a implementação de um novo sistema de gerenciamento de risco para a importação de trigo argentino, que será aplicado em portos de todo o país. O anúncio foi feito na manhã desta quinta-feira, 24 de outubro, durante a abertura do 31º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em Foz do Iguaçu, Paraná.
O Secretário Adjunto da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Allan Rogério de Alvarenga, destacou que essa mudança atende a uma demanda do setor e busca simplificar o processo de importação do grão argentino, sem comprometer a segurança alimentar. “Faremos o deferimento antecipado da importação do trigo argentino. Essa decisão contribuirá enormemente para a simplificação do processo, mantendo as ações de rotina e a coleta de amostras do montante comprado”, explicou.
Na prática, a fiscalização das cargas que entram no Brasil, que atualmente abrange 100% delas, será reduzida para 10%. Essa mudança permitirá o monitoramento de todas as entradas, facilitando a seleção das cargas que passarão por inspeção física e coleta de amostras, enquanto as demais serão liberadas diretamente para processamento ou para seu destino final.
Essa iniciativa, que originou o novo projeto, foi desenvolvida em colaboração entre a Receita Federal, o MAPA, a Abitrigo e o Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo). Em setembro de 2023, um projeto piloto foi realizado no Porto de Santos, sendo avaliado tanto pela coordenação geral do Vigiagro quanto pelo Departamento de Sanidade Vegetal (DSV), com resultados considerados extremamente positivos.
O anúncio foi bem recebido pelo setor moageiro. Rubens Barbosa, presidente-executivo da Abitrigo, afirmou que essa é uma medida imprescindível para o mercado brasileiro. “O projeto, proposto por nós, poderá se expandir para todo o Brasil, desburocratizando, simplificando e reduzindo os custos para as indústrias que importam trigo, transformando-o em produtos para a sociedade brasileira. Essa é, sem dúvida, uma ação muito importante do MAPA”, avaliou.
Avanços no Setor do Trigo
Durante o evento, Osvaldo Vasconcellos Vieira, supervisor da Embrapa Trigo, celebrou os 50 anos da instituição e destacou o desenvolvimento contínuo do setor nas últimas décadas, resultado da colaboração entre produtores, organizações, governo e consumidores. “A nossa sociedade depende do trigo, e a Embrapa está preparada para desenvolver novas tecnologias que ampliem a produção de alimentos seguros e eficientes nos próximos 50 anos. O apoio da Abitrigo é essencial para isso”, afirmou.
O deputado federal Luiz Carlos Hauly também abordou a importância da reforma tributária para o Brasil, enfatizando que os altos custos embutidos impactam a competitividade dos produtores. “A reforma tributária, que alterará a forma como os impostos são cobrados e administrados, poderá contornar esse cenário, desatando e desburocratizando a economia”, comentou.
Debates sobre o Cenário Geopolítico e Econômico
O congresso prosseguiu com palestras sobre “Economia e Geopolítica no Brasil e no Mundo”. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, analisou o cenário macroeconômico atual, abordando riscos políticos e econômicos, como as eleições americanas e a instabilidade no Oriente Médio. Ele previu um crescimento modesto de cerca de 2% para os próximos anos, com a taxa Selic próxima de 10% até 2026, além de alertar sobre a inflação, que deve permanecer perto do teto da meta de 4,5%.
O cientista político e jornalista Gustavo Segré enfatizou os desafios do cenário político nacional e suas implicações nas relações internacionais. Para ele, as decisões políticas tomadas nos próximos dois anos poderão comprometer a relevância global do Brasil, dificultando acordos importantes para o setor produtivo.
Perspectivas para o Mercado do Trigo
A programação do segundo dia do congresso incluiu um painel sobre o mercado do trigo, mediado pelo consultor Edson Csipai. O trader da IPSOY S.A. (Uruguai), Eduardo Vazquez, falou sobre o papel proeminente da Argentina e as mudanças climáticas que afetaram a safra 2023/24 em países como Rússia, Estados Unidos e Brasil.
Roberto Sandoli Jr., representante da Cooperativa Agrária, declarou que o Brasil pode se tornar um grande produtor de trigo, desde que haja união na cadeia produtiva e entendimento sobre as mudanças necessárias. “É imprescindível que todos os envolvidos, sejam os produtores ou o governo, compreendam suas responsabilidades”, ressaltou.
O Congresso do Trigo continua até sexta-feira, 25 de outubro, abordando temas relevantes para o setor moageiro nacional. Rogério Tondo, presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, enfatizou a importância do congresso como espaço de atualização, networking e aperfeiçoamento, visando fortalecer cada vez mais o setor.
Fonte: portaldoagronegocio