Na última quinta-feira, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) para janeiro de 2026 e janeiro de 2027 apresentaram uma elevação significativa, enquanto as taxas mais longas subiram em menor intensidade. Essa movimentação foi influenciada pelo aumento dos rendimentos dos Treasuries no exterior e pelos comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acerca da recente alta dos prêmios.
No segmento curto da curva, as taxas encerraram o dia praticamente estáveis, com o mercado majoritariamente precificando uma elevação de 50 pontos-base da Selic em novembro. Ao final da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,995%, comparada a 10,993% no ajuste anterior.
No “miolo da curva”, a taxa para janeiro de 2026 registrou 12,2%, um aumento de 12 pontos-base em relação ao ajuste anterior de 12,081%. Já a taxa para janeiro de 2027 marcou 12,23%, também com um aumento de 12 pontos-base ante os 12,108% do dia anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 12,3%, subindo em relação a 12,252%, enquanto o contrato para janeiro de 2033 apresentou taxa de 12,24%, com um acréscimo de 4 pontos-base em comparação a 12,2%.
Do lado internacional, a queda inesperada nos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos impulsionou os yields logo pela manhã, levando investidores a reconsiderar a necessidade de cortes mais drásticos nas taxas de juros pelo Federal Reserve. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 4.000 na semana passada, totalizando 218.000, segundo o Departamento do Trabalho, um número abaixo das expectativas de economistas que previam 225.000.
Esse aumento dos yields no exterior também refletiu nas taxas brasileiras ao longo de toda a curva, com os níveis mais altos do dia sendo registrados por volta das 10h, logo após a divulgação dos dados de auxílio-desemprego. Contudo, na ponta mais longa, as taxas se aproximaram da estabilidade e registraram leves quedas durante a tarde.
“Tivemos uma movimentação interessante na curva hoje, com as taxas mais curtas caindo, a parte intermediária subindo e as longas apresentando queda”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Segundo ele, as taxas mais longas perderam força em parte devido à devolução de prêmios incorporados recentemente.
Na sexta e na segunda-feira, as taxas dos DIs com vencimentos mais longos mostraram altas acentuadas, à medida que o mercado incorporava mais prêmios à curva, em meio a incertezas sobre a capacidade do governo Lula de equilibrar as contas públicas. Na terça-feira, Campos Neto havia avaliado que houve um “exagero” nas taxas.
Em coletiva realizada na quinta-feira em São Paulo, ele explicou que a alta dos prêmios pode ser atribuída à percepção de menor transparência fiscal por parte do governo, embora tenha ressaltado que a situação do Brasil não é tão desfavorável quando comparada a outros países. Ao ser questionado sobre a possibilidade de o “exagero” já ter sido absorvido nos últimos dias, Campos Neto limitou-se a esclarecer sua visão sobre o movimento.
“Observamos que o mercado parecia incomodado com a transparência fiscal, o que gerou aversão ao risco”, afirmou. “Aquele aumento de prêmios pode ser explicado pela percepção de menor transparência fiscal”, reiterou, adicionando que a comparação com outros países não era “tão ruim”.
Até o fechamento do dia, as taxas longas recuperaram parte de sua força, enquanto o miolo da curva intensificou seus avanços. Na manhã de quinta-feira, o Banco Central já havia divulgado seu Relatório de Inflação, que trouxe projeções mais otimistas para os principais indicadores econômicos. No documento, a instituição elevou sua previsão de crescimento econômico para 2024, passando de 2,3% para 3,2%. No entanto, o BC também alertou para uma expectativa de desaceleração do crescimento na segunda metade de 2024 e ao longo de 2025, ano para o qual projeta um crescimento de 2,0%.
“A mensagem deste relatório é clara: o Brasil está aquecendo, e isso é preocupante”, resumiu Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, em mensagem enviada a clientes. “A questão é como gerenciar esse processo para que continue de forma sustentável, evitando uma aceleração excessiva da inflação”, acrescentou.
Na curva de juros, as apostas de um aumento de 50 pontos-base da Selic em novembro diminuíram um pouco. Ao fechamento, a curva brasileira precificava 72% de probabilidade de uma elevação de 50 pontos-base, contra 28% de chance de um aumento de 25 pontos-base. Na véspera, os percentuais eram de 77% e 23%, respectivamente.
Às 16h45, o rendimento do Treasury de dois anos — que reflete as expectativas sobre as taxas de juros de curto prazo — apresentou uma alta de 7 pontos-base, alcançando 3,625%. Já o retorno do título de dez anos, referência global para decisões de investimento, subiu 2 pontos-base, atingindo 3,796%.
Fonte: portaldoagronegocio