Além disso, a guerra e seus efeitos mundiais nos preços e na oferta de petróleo também pressionaram a demanda por etanol e outros biocombustíveis, o que ajudou na expansão da venda do etanol. Com as vantagens da remuneração do açúcar, os produtores de usinas conversíveis fazem um balanceamento cirúrgico entre açúcar ou álcool no esmagamento da safra de cana-de-açúcar prevista para o período 23/24, de 637,1 milhões de toneladas.
De acordo com a primeira previsão do ano safra 23/24, divulgada em abril pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de açúcar deverá atingir 38,77 milhões de toneladas, a segunda maior marca registrada na série histórica desde o recorde no esmagamento no ano safra 20/21, quando chegou a 41,25 milhões de toneladas. A previsão da Conab enfatiza a destinação maior da cana para o açúcar frente à produção de álcool e etanol.
De qualquer forma, a oferta do etanol também deverá crescer 5,9% em comparação com o ano safra anterior e pode chegar à casa dos 33,17 bilhões de litros. Desse total, o etanol anidro, que é adicionado à gasolina, deve representar 14,26 bilhões de litros. O etanol hidratado, por sua vez, corresponderá a 18,91 bilhões de litros.
Preços estão mais convidativos para o açúcar no mercado internacional” — Luciano Rodrigues
Essa expansão na produção do biocombustível se deve, principalmente, à oferta do produto derivado do milho, projetada em 5,64 bilhões de litros, que sozinha significa um aumento de 42% frente ao ciclo anterior. Enquanto isso, segundo a Conab, o tradicional etanol da cana deve registrar uma leve alta de 0,6%, com a esmagadora fatia da oferta de 27,53 bilhões de litros.
“Estamos observando preços mais convidativos para o açúcar no mercado internacional em função da menor oferta do produto em importantes países produtores. Esse cenário indica que o Centro-Sul do Brasil deve ampliar a produção e a receita com a venda de açúcar na safra que se iniciou em abril deste ano” diz Luciano Rodrigues, diretor de economia e inteligência setorial da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), enfatizando que a oferta de etanol também deve crescer. “Mais de um terço da produção de etanol é realizada por empresas que não possuem capacidade de produzir açúcar”, lembra Rodrigues.
Como, internamente, o consumo de açúcar se mantém relativamente estável, em torno de 10 milhões de toneladas por ano, a maior produção esperada para o adoçante deve ser direcionada prioritariamente para o mercado internacional, segundo a Unica. No ciclo agrícola encerrado em abril, a quantidade de açúcar exportada foi de 27,7 milhões de toneladas.
Na safra 22/23, a moagem de cana totalizou 548,28 milhões de toneladas, ante 524,1 milhões de toneladas registradas no ano safra 21/22, com um avanço de 4,61%, graças ao aumento da produtividade agrícola da lavoura, cuja média no Centro-Sul atingiu 73,3 toneladas de cana por hectare, 8% acima da safra anterior.
A recuperação da produtividade dos canaviais, após os revezes climáticos no Brasil na safra 21/22, é o principal desafio da francesa Tereos (ex-Guarani), sem ampliar a área de plantio, adianta Pierre Santoul, diretor-presidente da companhia no país.
“Uma das soluções é a ampliação do uso localizado de vinhaça, resíduo da produção de etanol, para fertilização natural dos canaviais. A prática, que possibilita maior precisão no processo e investimento de R$ 24 milhões no projeto, aumentou em cerca de 40 mil hectares a aplicação em nossas áreas”, conta Santoul, que também aposta em um projeto piloto com pivô central de irrigação em duas unidades, onde projeta um ganho de produtividade de 20 toneladas por hectare de cana-de-açúcar.
Nesta safra a estimativa da Tereos é atingir 19 milhões de toneladas de cana-deaçúcar, volume 10% maior do que no ciclo anterior. Com esse montante, a produção projetada é de 1,7 milhão de toneladas de açúcar e 575 milhões de litros de etanol.
A empresa tenta evitar gargalos logísticos, competindo por frete ante a safra recorde de grãos. A trading, a Tereos Commodities, distribui açúcar para as várias unidades fabris de clientes, como Coca-Cola, PepsiCo, Unilever, Oetker.
Fonte: portaldoagronegocio