Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) conduziram um extenso estudo para avaliar os efeitos de 20 diferentes combinações de tratamentos de solo no cultivo do café. O objetivo da pesquisa foi analisar como cada tratamento influencia a fertilidade, umidade do solo e a nutrição das plantas. Os resultados indicaram que os fertilizantes de liberação controlada melhoram significativamente a nutrição dos cafeeiros, enquanto o uso de casca de café e compostos orgânicos contribui para o aumento da umidade do solo e a absorção de nutrientes, favorecendo a tolerância à seca.
O experimento foi realizado com 80 mudas da variedade Coffea arabica L. Mundo Novo, plantadas em uma estufa na UFLA, em Lavras, Minas Gerais. A pesquisa testou dois níveis de irrigação — com disponibilidade de água em 40% e 80% da capacidade de campo —, dois tipos de fertilizantes (convencional e de liberação controlada) e cinco condicionadores de solo: composto orgânico, casca de café, polímero retentor de água, gesso agrícola e solo exposto, sem condicionador.
Após 130 dias, amostras de solo das 20 combinações foram coletadas e analisadas em laboratório para medir sua fertilidade e umidade. Nutrientes essenciais como fósforo (P), cálcio (Ca), potássio (K), magnésio (Mg) e alumínio (Al) foram mensurados, assim como a umidade gravitacional. Segundo a pesquisadora Marina Scalioni Vilela, uma das autoras do estudo, esses nutrientes são cruciais para a nutrição das plantas e a saúde do solo. “Um solo fértil é aquele que fornece nutrientes como P, Ca, K e Mg, além de ter sua toxicidade por Al neutralizada”, explica Vilela.
A nutrição das plantas também foi avaliada por meio da análise das folhas, observando a presença de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S), além de micronutrientes como boro (B), cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn) e ferro (Fe). Essa análise foliar permitiu verificar se os nutrientes fornecidos ao solo estavam sendo efetivamente absorvidos pelas plantas.
Os dados coletados foram submetidos a análises multivariadas, utilizando a técnica de Tocher para classificar os tratamentos com base nas características do solo e nas distâncias euclidianas entre os grupos. O estudo revelou que potássio (K) e enxofre (S) foram os nutrientes que mais contribuíram para as variações nos dados, seguidos por ferro (Fe) e manganês (Mn).
Vilela ressaltou que os tratamentos com casca de café e composto orgânico melhoraram a umidade e a fertilidade do solo, demonstrando resultados equivalentes aos obtidos com a irrigação mesmo em condições de baixa disponibilidade hídrica. Já os fertilizantes de liberação controlada mostraram-se eficazes em otimizar a nutrição das plantas, disponibilizando os nutrientes de forma gradual e reduzindo a perda de nitrogênio.
“A pesquisa permitiu compreender como os diferentes condicionadores de solo, fertilizantes e níveis de irrigação podem influenciar a nutrição das plantas de café e ajudar a mitigar os efeitos da escassez de água”, explicou a pesquisadora. Segundo ela, os resultados fornecem informações valiosas para aprimorar práticas de manejo agrícola, especialmente em condições climáticas adversas.
O estudo, intitulado “Contribution of soil sustainable management to improve coffee nutrition and mitigate water scarcity”, foi publicado em 2024 no Journal of Plant Nutrition. Ele foi conduzido por Marina Scalioni Vilela, atual professora e pesquisadora do IFSuldeMinas, em colaboração com Milene Alves de Figueiredo Carvalho, da Embrapa, e os professores Dalyse Toledo Castanheira e Rubens José Guimarães, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/UFLA), além dos engenheiros agrônomos Arthur Henrique Cruvinel e Pedro José Cintra Nascimento, ambos egressos da UFLA. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Fonte: portaldoagronegocio