A empresa que não estiver com uma estratégia de sustentabilidade muito bem definida está perdendo a oportunidade de acompanhar esse momento de produção do conhecimento e desenvolvimento de soluções sustentáveis que estão despontando em todo mundo. Hoje, pensar no desenvolvimento sustentável como estratégia de negócio exige mais do que intenção ou compromisso com selos verdes, certificados e marcos legais. É preciso ter ações práticas para romper paradigmas.
Se pensarmos em soluções que mais contribuem para uma sociedade sustentável, acredito que a economia circular seja um dos conceitos que consegue melhor se adequar a qualquer segmento da economia, pois ela é capaz de fechar ciclos e incentivar o uso de produtos e recursos da maneira mais engenhosa ao longo de toda cadeia de valor. É possível perceber a materialização dessa ideia em muitas iniciativas de mercado: cápsulas de café produzidas com alumínio reciclado; molduras e acabamentos feitos a partir de isopor; embalagens de bens de consumo utilizando plásticos renováveis; entre outros exemplos.
Além disso, a economia circular tem ganhado espaço na indústria ao longo dos últimos anos. Por trás dessa ideia está uma mudança do modelo linear de “take-make-dispose” (coletar, produzir e descartar) para um sistema de circuitos fechados alimentados por energia renovável ou não. Isso porque a sociedade está seguindo para um caminho muito positivo, valorizando menos os materiais de uso único e priorizando ainda mais os materiais de longa duração.
O pensamento de economia circular não pode se restringir às próprias operações de uma empresa. Precisa percorrer toda a cadeia para abranger e fornecer valor a clientes e fornecedores. A indústria química — que é responsável por fornecer matérias-primas para outros negócios – e as suas inovações podem liderar o caminho nessa mudança, aplicando esse modelo de várias maneiras com o propósito de inovar e buscar oportunidades que possam gerar mais valor para clientes e para a sociedade em geral. Como, por exemplo, um projeto do mercado de tintas que transforma embalagens de garrafas PET, coletadas por recicladores, e transformadas em esmaltes e vernizes.
Um conceito de economia circular inteligente deve ser integrado ao desenvolvimento de produtos, processos de produção, utilização e reutilização de sistemas desde o início.
Um outro exemplo que trago aqui é um projeto socioambiental que deu nova função a 2,5 milhões de unidades de embalagens plásticas, direcionadas para a construção da segunda escola sustentável da ONG Mangalô, no bairro do Tatuapé (SP). Os números impressionam: gerou 95% menos resíduos, emitiu 90% menos CO2 e utilizou 90% menos água em comparação à construção civil tradicional. Por meio desse projeto, ainda em fase de implementação, será possível evitar descartes no meio ambiente e promover a economia circular plena, pois os produtos oriundos desse material podem ser reciclados inúmeras vezes ao final de sua vida útil.
O grau e a velocidade da “circularidade” no mercado dependerão do ritmo do desenvolvimento tecnológico, incentivos regulatórios, novos modelos de negócios, disponibilidade de investimentos e da disposição dos consumidores e do setor empresarial para mudar o seu comportamento. O caminho é longo, mas a transição de uma economia linear para um modelo circular traz alterações significativas nos modelos de negócios e nas atividades de muitas indústrias.
A economia circular deve continuar sendo uma aposta prioritária do setor empresarial, tendo em vista não somente um crescimento maior em termos econômicos e sociais, mas também alcançar impacto ambiental verdadeiramente positivo que beneficie todos os atores da cadeia e da sociedade em geral.
Rodolfo Viana é gerente sênior de sustentabilidade da BASF para a América do Sul e diretor-presidente da Fundação Espaço ECO
Fonte: portaldoagronegocio