A moda Brazilcore, tendência que ganhou ainda mais força neste ano por conta da Copa do Mundo no Catar, é a estética que se apropria de roupas e acessórios com as cores do Brasil ou símbolos que remetem à bandeira brasileira.
O Brazilcore ou Brazil Aesthetic ficou ainda mais em evidência a partir do segundo semestre deste ano, quando blogueiras e influenciadoras, tanto brasileiras quanto estrangeiras, começaram a usar roupas verde e amarelas nas redes sociais.
Mas você sabia que esse estilo não é novidade e sempre existiu nas periferias do Brasil?
A designer Mayra Souza dos Santos, que faz parte da equipe do blog de moda “Steal the look” e cresceu no bairro Capão Redondo, na zona Sul da cidade de São Paulo, afirmou que as cores verde e amarelo sempre fizeram parte das periferias.
“É importante entender o real significado para a população periférica. O futebol para a periferia é sinônimo de sonho, só uma parte da população possui acesso a artigos originais”, diz a designer.
A versão da camisa oficial da Seleção usada pelos jogadores é vendida por R$ 699,99. O modelo “torcedor”, que tem o mesmo design, mas sem a tecnologia Dri-FIT ADV, a mais avançada da Nike, está esgotada no site oficial da marca e custa cerca de R$ 349,99 em lojas esportivas.
empresas de pequeno porte também investem na criação de itens Brazilcore. Gabriel Alves, assistente de estilo de sua marca em desenvolvimento DaSilva, produziu um desfile sobre moda periférica com ênfase no funk e faz um alerta para a falsificação de produtos que, muitas vezes, é a única opção acessível para o consumidor.
“Para se fazer roupa é algo muito caro. Temos que pensar na situação econômica. Acredito que muitas pessoas vão optar por usar uma camiseta falsificada por conta do preço e da facilidade”, disse Alves.
Gustavo Viana, diretor de marketing da Fisia, distribuidora oficial da Nike do Brasil, afirma que também foi produzida uma linha de produtos casuais com preços mais acessíveis para atender a todos os consumidores. Para o executivo, o esporte sempre esteve conectado com a moda e com a música, principalmente com a cultura do hip hop e funk.
“Vemos cada vez mais essa conexão de estilo com esporte. A onça-pintada é uma das principais fontes de inspiração para a coleção e esteticamente traz uma mensagem muito forte: o visual e a garra da onça-pintada simbolizam o espírito do brasileiro, e também conectam com consumidores que fazem parte de manifestações urbanas justamente pela sua estética ousada e potente”, completa Gustavo.
Com milhões de seguidores, influencers brasileiras como Malu Borges, Livia Nunes e a americana Hailey Bieber são alguns dos exemplos de pessoas que adotaram o Brazilcore como parte do estilo.
“Quando você se apropria de uma estética ou símbolo periférico e modifica tanto pra ser legal apenas em pessoas brancas e padrões, você anula todo o simbolismo existente, deixando invisível quem foram os principais precursores. A periferia tem muita potência de moda e beleza”, relata a designer Mayra.
Gabriel Alves afirma que sempre viu pessoas usando camisas de times como peças de looks. “Visibilidade sempre teve dentro dos espaços periféricos. Com as redes sociais, isso se potencializou. A elite só está dando ‘atenção’ por conta das redes sociais, pelo hype, porém isso logo acaba e quem sempre usou vai continuar usando”, avalia.
O executivo Gustavo Viana ainda complementa.
“Tendências vêm e vão, mas entendemos que existe um público bastante consolidado, principalmente nas periferias, que gosta de inserir as camisas de times no seu estilo do dia a dia há bastante tempo, antes mesmo da conversa sobre Brazilcore existir.”
Fonte: cnnbrasil