Em Brasília, entre os dias 2 a 11 de dezembro ocorre o 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena, pioneiro no gênero a ser realizado no país e que pretende dar vulto a obras cinematográficas e da cultura dos povos indígenas brasileiros.
Idealizado pelo mato-grossense Takumã Kuikuro, um dos cineastas mais representativos de sua geração, o Festival apresenta o tema “Como você cuida da sua aldeia?”.
“Esse tema pretende refletir sobre o cuidado e a regeneração como elementos éticos da relação com o espaço em que vivemos e procura indagar aos visitantes da mostra sobre como coexistir no mundo de hoje, criar possibilidade de relação com o humano e o não humano e a como incentivar outras potências de viver”, destaca Takumã.
Takumã é membro da aldeia indígena Kuikuro, mas atualmente vive na aldeia Ipatse, no Parque Indígena do xingu, em Mato Grosso. Dirigiu o documentário As hiper mulheres (2011), junto a Leonardo Sette e Carlos Fausto. Teve filmes premiados em festivais como os de Gramado e Brasília, e no Presence Autochtone de Terres em Vues, em Montréal. Em 2017, recebeu o prêmio honorário Bolsista da Queen Mary University London. E foi, em 2019, o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília.
O Festival de Cinema e Cultura Indígena (FeCCI), em sua primeira edição, foca nas histórias de coletivos e realizadores de origem indígena, tendo como propósito promover, fortalecer e difundir as variadas culturas e cinemas dos mais de 305 povos indígenas do país. Além disso, o evento traz uma programação de longas-metragens de temática indígena e ambiental que marcaram o cinema brasileiro.
Com a mostra, Takumã diz que pretende ainda, promover encontros e a formação de novos públicos, e que os realizadores dessa arte sejam incentivados e reconhecidos em uma premiação.
As obras selecionadas para serem exibidas durante o Festival receberão cachê e os filmes vencedores da competição serão premiados nas categorias “Melhor Filme pelo júri Técnico” e “Melhor filme do Júri Popular”. Haverá ainda premiação especial com a entrega do troféu Tamakahi para o “Melhor Roteiro”, “Melhor Direção” e “Melhor Fotografia” patrocinada pelo Instituto Alok, apoiador da iniciativa.
O Festival, que já teve a sua primeira etapa realizada no próprio território Kuikuro, no Xingu, em setembro de 2022, é uma importante ação de protagonismo, reconhecimento e fortalecimento das culturas indígenas, em especial as práticas xinguanas.
“O Festival de Cinema e Cultura Indígena representa um marco das políticas públicas da cultura para os povos originários, que é de outra ordem, que envolvem outras questões, que necessita de outras abordagens e que nos força a repensar a própria ideia de gestão pública. Ficamos muito contentes e aprendemos muito com esta ação. Vivemos num estado que possui 47 etnias, e cada uma com sua própria cultura, o que torna nosso trabalho, de gestão cultural, ao mesmo tempo desafiador, mas também empolgante. É um espaço que o próprio povo se vê, e também uma oportunidade para nós, não-indígenas, de conhecermos mais o universo que envolve suas práticas”, destaca Jan Moura, secretário Adjunto de Cultura da Secel.
“Nós realizamos essa mostra para que a gente possa mostrar [o cinema indígena] para o público indígena da aldeia, que nunca tiveram a oportunidade de ir a uma sala de cinema, porque isso é importante para a gente mostrar realmente nossa própria realidade. Nós temos uma riqueza, uma cultura, dentro da nossa aldeia. [O cinema] é uma ferramenta importante para que nós possamos realmente lutar junto com as lideranças, através do audiovisual […] Cada vez mais, a gente tem que se tornar protagonistas de nossas próprias histórias”, reforçou Takumã.
Fonte: matogrossodigital