O Rural Entrevistas desta terça-feira (29) foi gravado diretamente do Egito, onde ocorreu a O conversou com o Governador reeleito de Mato Grosso, Mauro Mendes participou da 27ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas da ONU (COP-27). Lá, ele abordou os compromissos do estado com a agenda de redução de emissões de gases poluentes.
Mato Grosso é o maior produtor agrícola do Brasil e também um dos mais bem servidos da região quando o assunto é logística. “Talvez nenhum país, região do planeta ou estado possua o que temos: produzir muito alimento com grande preservação ambiental”, afirma Mendes.
Em entrevista concedida no Egito, durante a COP27, ao diretor de Conteúdo do Canal Rural, Giovani Ferreira, o governador de Mato Grosso falou sobre Ferrogrão, Marco Temporal, desafio de aumentar a produção de comida sem crescer o desmatamento e outros assuntos.
Confira os todos os tópicos abordados por Mauro Mendes
Economia de baixo carbono
O governador de Mato Grosso destacou que a economia de baixo carbono discutida durante a COP será atingida apenas se a sociedade mundial passar por uma mudança de comportamento não apenas na forma de produzir, mas também de consumir. “Essa economia de baixo carbono trará profundas alterações, e precisamos compreender e nos anteciparmos e, assim, poderemos ser protagonistas dessas mudanças ou sermos arrastados e termos de tomar decisões sem, muitas vezes, estarmos preparados para elas”.
Diversificação da produção mato-grossense
Mato Grosso é reconhecido por ser um grande produtor de soja e milho. No entanto, Mendes lembra que o estado também vem se sobressaindo no cultivo de algodão e já se tornou o maior produtor de etanol de milho, que “é a primeira cadeia da industrialização do etanol. Hoje, uma grande parte do que produzimos de milho deixamos de exportar para outros países ou até mesmo para outros estados brasileiros para transformá-lo em etanol”.
Segundo o governador, a cadeia de proteína também se fortalece com a transformação das proteínas vegetais em animais. “Além de outras culturas, como milho de pipoca e gergelim, em que estamos crescendo, nos tornando também os maiores produtores”.
Mendes destaca que Mato Grosso possui amplas áreas planas com grande capacidade de mecanização. Com as novas tecnologias e inovações em genética, o estado viria ganhando competitividade, tornando regiões que eram inóspitas em espaços altamente produtivos.
Incremento da infraestrutura
Para enfatizar o tamanho do desafio logístico do estado, o governador lembrou que Mato Grosso possui 904 mil quilômetros quadrados de extensão, tamanho semelhante ao da França e da Alemanha. “Hoje, 62% desse território está integralmente preservado, como Pedro Álvares Cabral encontrou há mais de 500 anos. Fazemos toda nossa produção agropecuária, sendo que temos o maior rebanho bovino do Brasil, com 32 milhões de cabeça, em 38% de nosso território. Nenhuma região tem isso que nós temos”, destaca.
Segundo ele, Mato Grosso vem crescendo fortemente ao longo das últimas duas décadas, mas com uma logística ruim. “Tínhamos, por exemplo, uma ferrovia que chegava apenas na região sul do estado, em Rondonópolis. As obras já iniciaram e teremos mais de 700 km construídos para levar a ferrovia até Cuiabá e ao Médio-Norte, que é uma grande região produtora do estado”.
Mato Grosso, afirma, está asfaltando 2.600 km de novas estradas. “Se já fomos muito bem até agora, imagine com toda essa infraestrutura logística em curso. Seremos muito mais”.
Continuidade da Ferrogrão
A EF-170, conhecida como Ferrogrão, que visa construir um novo corredor ferroviário de exportação do Brasil pelo Arco Norte, ainda está em processo de licitação. Isso ocorre porque, em março de 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, concedeu liminar para suspender a licença de construção da ferrovia, alegando que a obra causaria danos ambientais.
“Espero, respeitosamente, que o ministro possa demonstrar a mesma energia, a mesma ‘pegada’ que ele tem demonstrado como presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], dando celeridade à solução desse problema. Não pode um ministro do STF engavetar, deixar parado um projeto extremamente importante para o Brasil, para Mato Grosso e para a competitividade do agronegócio brasileiro”.
Segundo Mendes, a quantidade produzida pelo estado justifica a necessidade desse tipo de infraestrutura. “Mato Grosso está chegando à casa de 80 milhões de toneladas [de grãos] e nos próximos dez anos devemos chegar à marca de 130, 140 milhões de toneladas [produzidas]”.
amazônia Legal
Mendes considera que, nos últimos quatro anos, houve fortalecimento no consórcio de governadores da Amazônia Legal, composto por nove estados. “Entre as características comuns [dos nove estados] está a falta de infraestrutura. Se em Mato Grosso, que é um estado muito grande, mas que conta com uma logística que vem evoluindo nos últimos anos [é complicado], imagine no Pará e no Amazonas, estados que são maiores e em grande parte com florestas sem alteração nenhuma nesse tipo de bioma. Viver nesses lugares é uma dificuldade e o desenvolvimento caminha a passos lentos”.
Para o governador de Mato Grosso, quando não há progresso e o Estado deixa de fazer a sua parte, abre-se caminho para as ilegalidades. “Então, boa parte do desmatamento ilegal acontece em regiões onde o Estado não consegue chegar”.
Como alimentar o mundo e não descuidar do meio ambiente
O governador de Mato Grosso ressaltou que o produtor – independentemente de ser pequeno, médio ou grande – não tem interesse no desmatamento. “Diria que 98%, 99% dos produtores mato-grossenses, que conheço muito bem, trabalham procurando cumprir a legalidade ambiental”.
Segundo ele, no que se refere ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), o estado é o que está mais evoluído. “Além disso, temos um sistema de detecção de desmatamento em que em 48 horas somos capazes de flagrar e proibir qualquer ação que esteja ocorrendo no estado”
Mendes também falou sobre o Código Florestal Brasileiro. Para ele, trata-se da lei ambiental mais restritiva do mundo e que produtores de outros países, como os da noruega, não conseguem compreender o alto nível de exigências a que o agricultor brasileiro fica sujeito.
“Não há de se falar de desmatamento zero, é preciso falar sobre desmatamento ilegal zero, porque temos de ter o direito de usar, no bioma amazônico, pelo menos 20% do território, criando ali mais condições de produzir e de preservar os outros 80% que a lei não permite que sejam utilizados”.
De acordo com o governador, dos cinco maiores produtores de alimentos do mundo – Estados Unidos, Brasil, Rússia, Índia e China – nenhum tem o nível de preservação que o Brasil possui.
“Não podemos deixar que nós, que temos grandes ativos ambientais, sejamos colocados como o patinho feio nesta discussão de preservação e produção. O mundo precisa de alimentos e essa história de ficar nos ameaçando de vez em quando, dizendo que vão nos boicotar e deixar de comprar, interessa apenas a alguns produtores ineficientes que existem em alguns desses países”.
O governador acredita que o Brasil precisa ter, em todo o território, mecanismos mais eficientes de mostrar que os produtores estão cumprindo a lei brasileira e que essa legislação é altamente protetora do meio ambiente.
Marco temporal
Para Mendes, as discussões do marco temporal são das mais absurdas sob o ponto de vista da lógica e da realidade. “Se aprovarmos esse marco temporal como está, aparentemente iniciando uma aprovação no Supremo, haverá uma grande revolução no país. Transformaremos 30% de nosso território em reserva indígena. Os preços dos alimentos irão lá para cima”, afirma.
De acordo com ele, o marco temporal é absurdo e vai ferir direitos no país, podendo criar uma grande insurreição com a lei e a ordem.
Desmatamento legal x ilegal
No estado de Mato Grosso, conforme o governador, 5% do que se desmatou em 2019 era legal e 95% ilegal, ou seja, sem autorização e em desconformidade com os padrões da lei.
“Já em 2021, que é o último dado consolidado, temos 38% legal, ou seja, a atuação eficiente do estado está diminuindo a ilegalidade. No entanto, se está dentro da lei brasileira, que é a mais restritiva do mundo, tem que ser considerada uma atividade legal [o desmatamento legal] e tem de ser respeitada por nós brasileiros, pela imprensa e por qualquer cidadão em qualquer parte do mundo”.
O governador afirmou que Mato Grosso assumiu o compromisso de, até 2030, reduzir em 80% as suas emissões de gases geradores do efeito estufa.
“O problema do clima é sério, é um problema de todos nós e precisamos mudar muita coisa em nosso país, no planeta, em nossos hábitos de produzir e consumir, mas os países ricos têm que fazer a sua parte, pois foram e continuam sendo os grandes vilões e não estão entrando seriamente nesta discussão, precisam fazer a sua parte e pagar para os países em desenvolvimento”, finaliza.
Fonte: canalrural