Se você cresceu nos anos 90 ou no início dos anos 2000, você provavelmente viu e reviu Anastasia, animação de 1997 que girava em torno de uma herdeira perdida da monarquia russa tentando se lembrar de seu passado. A personagem Anya de fato existiu e era a filha de Nicolau II, o último czar a mandar na Rússia antes de os bolcheviques tomarem o poder em 1917, derrubando a dinastia Romanov e assassinando toda a família real.
Mas Anastasia teria sobrevivido e desaparecido por anos – uma lenda que, como nos mostra The Crown, atravessou a vida da rainha Elizabeth II (Imelda Staunton). A 5ª temporada da série criada por Peter Morgan, que chegou recentemente ao catálogo da Netflix, recupera o curioso fato de que a monarca britânica e a princesa russa eram parentes.
Vemos isso no sexto episódio, que nos leva para o Reino Unido da Primeira Guerra Mundial. Uma crise surge para o então rei George V, avô de Elizabeth, que recebe uma carta de Nicolau e sua esposa Alexandra suplicando refúgio em seu território.
Logo somos transportados para Ipatiev, uma casa no interior da Rússia que serve de título ao episódio e onde os derradeiros Romanov estão sendo feitos de reféns por soldados da revolução socialista, em 1918. Nicolau, Alexandra e seus cinco filhos – entre eles Anastasia – são acordados às pressas sob a desculpa de que serão transferidos para um lugar mais seguro.
O que acontece a seguir é o contrário: a família é conduzida até o porão da casa e reunida em um canto para supostamente tirar uma foto. Uma vez acomodados, os Romanov são informados de que foram condenados à morte, e os soldados dão início à execução, usando revólveres e baionetas. Quando terminam a tarefa, os homens empilham os corpos em um caminhão.
Onde estava o rei George V durante tudo isso? Caçando faisões e perdizes com seus amigos da nobreza. Afinal, ele e sua esposa, a rainha Mary, se negaram a resgatar os Romanov – algo que Elizabeth descobre mais para frente no episódio, já em 1991, e que lhe deixa bastante chocada. Sobretudo porque seu marido, o príncipe Philip (Jonathan Pryce), é procurado para colaborar em um teste de DNA relacionado aos Romanov.
QUAL É O GRAU DE PARENTESCO ENTRE ELIZABETH E ANASTASIA?
São dois os caminhos que conectam a monarca britânica e a princesa russa – ambas mortas já. O primeiro deles é pela rainha Vitória, que carregou a coroa por 64 anos, entre 1837 e 1901. Ela era avó de Alexandra Feodorovna, a esposa de Nicolau II. A mãe de Alexandra era a segunda filha de Vitória, a princesa Alice.
A rainha Elizabeth, o príncipe Philip e todos os seus descendentes também são parentes dos Romanov por meio de Vitória. Elizabeth é sua trineta, enquanto Philip é seu tataraneto. Essa árvore genealógica interligada não é mera coincidência: o reinado de Vitória ficou marcado pelo fato de todos os seus herdeiros terem se casado com membros da realeza e da nobreza espalhados pela Europa, unindo o continente.
O segundo caminho é pela mãe de George V e, portanto, bisavó paterna de Elizabeth. A rainha Alexandra descendia da coroa dinamarquesa e se casou com o rei Eduardo VII do Reino Unido, enquanto sua irmã Maria Fedorovna se casou com o czar russo Alexandre III. Maria deu à luz justamente Nicolau II, que virou assim primo de primeiro grau de George V.
Mas qual o grau de parentesco entre Elizabeth e Anastasia? Bom, se Nicolau é primo de primeiro grau de George, Anastasia é prima de segundo grau de George. Como Elizabeth é neta de George, Anastasia se torna a prima-tia-avó de Elizabeth.
QUE FIM LEVOU A VERDADEIRA ANASTASIA?
No desenho de 1997, a princesa russa é apresentada como órfã e desmemoriada, vagando nas ruas de São Petersburgo. Depois de esbarrar com dois trambiqueiros, Dimitri e Vlad, ela é levada a Paris para reencontrar sua avó Maria Feodorovna e convencê-la de sua verdadeira identidade. Tudo corre bem: Anya recupera suas lembranças, acha sua família e ainda foge com seu grande amor Dimitri.
Na vida real, Anastasia levou um fim bem mais trágico. Mais do que uma princesa, ela era grã-duquesa e tinha 17 anos quando sua família foi aniquilada e enterrada em uma vala comum. Por boa parte do século 20, prevaleceram boatos de que Anastasia tinha conseguido escapar, já que apenas os restos mortais de Nicolau, Alexandra e três de suas filhas tinham sido localizados.
Qual das filhas não sabe. Eram quatro meninas ao todo – Olga, Tatiana, Anastasia e Maria. Mas uma delas não estava ali, e foi dada como desaparecida tal qual o irmão Alexei, o caçula dos Romanov.
Muitas mulheres tentaram se passar por Anastasia nas décadas que se seguiram, reivindicando a fortuna dos Romanov. A mais famosa foi Anna Anderson, que fez suas primeiras declarações nos 20 e manteve sua versão até sua morte, em 1984.
Em 1991, foi descoberta uma vala contendo os restos mortais da maioria dos membros da família – embora o paradeiro de Anastasia e Alexei seguisse desconhecido. O DNA de Anna foi comparado com o dos Romanov, revelando não haver qualquer parentesco.
Em 2007, mais de quinze anos depois, dois esqueletos foram descobertos por arqueologistas. Apesar de estarem queimados, batiam com a idade de Anastasia e Alexei. Outro teste de DNA foi realizado e confirmou não só que os restos pertenciam aos Romanov, como também que toda a família tinha sido morta no mesmo dia.
Em todo caso, The Crown continua sendo uma joia no catálogo da Netflix. Se você gosta do assunto “família real britânica” e quer saber mais sobre os bastidores da 5ª temporada, não deixe de conferir nossa entrevista com Elizabeth Debicki (intérprete da princesa Diana), Dominic West (príncipe Charles) e Olivia Williams (Camilla Parker-Bowles). É só clicar aqui ou dar play abaixo!
Fonte: adorocinema.com